A13 - A ciência em oposição ao âsenso comumâ
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DISCIPLINA<br />
História e Filosofia da Ciência<br />
A ciência <strong>em</strong> oposição<br />
<strong>ao</strong> “senso comum”<br />
Autores<br />
Juliana Mesquita Hidalgo Ferreira<br />
André Ferrer P. Martins<br />
aula<br />
13
Governo Federal<br />
Presidente da República<br />
Luiz Inácio Lula da Silva<br />
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Divisão de Serviços Técnicos<br />
Catalogação da publicação na Fonte. Biblioteca Central Zila Mamede – UFRN<br />
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida<br />
s<strong>em</strong> a autorização expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
Apresentação<br />
Oferec<strong>em</strong>os, nas últimas aulas, diversos olhares acerca da produção e do desenvolvimento<br />
do conhecimento científi co. De uma perspectiva rígida, calcada na ideia do “método<br />
científico”, chegamos <strong>ao</strong> anarquismo epist<strong>em</strong>ológico de Feyerabend que propõe uma<br />
metodologia pluralista. Nesse caminhar, apresentamos o verifi cacionismo popperiano, as<br />
revoluções científicas de Kuhn e os programas de pesquisa de Lakatos.<br />
Nesta última aula do curso, abordar<strong>em</strong>os alguns aspectos do pensamento de Gaston<br />
Bachelard que traz<strong>em</strong> novos el<strong>em</strong>entos a esse debate. Além disso, ter<strong>em</strong>os oportunidade de<br />
retomar certas questões relativas <strong>ao</strong> potencial pedagógico da História e da Filosofia da Ciência.<br />
Objetivos<br />
1<br />
2<br />
3<br />
4<br />
5<br />
Apresentar as principais características do pensamento de Gaston<br />
Bachelard.<br />
Abordar conceitos centrais da proposta bachelardiana, tais como:<br />
obstáculo epist<strong>em</strong>ológico e perfil epist<strong>em</strong>ológico.<br />
Reconhecer a possibilidade de uma “leitura bachelardiana” de<br />
episódios da História da Ciência.<br />
Retomar e probl<strong>em</strong>atizar questões próprias do campo da Filosofia<br />
da Ciência.<br />
Oferecer el<strong>em</strong>entos para uma análise crítica do potencial pedagógico<br />
da História e da Filosofia da Ciência.<br />
Aula 13 História e Filosofi a da Ciência<br />
1
A epist<strong>em</strong>ologia<br />
de Gaston Bachelard<br />
Cronologicamente, far<strong>em</strong>os agora um movimento inverso <strong>em</strong> relação à sequência das<br />
aulas anteriores. Afi nal, Gaston Bachelard (1884-1962) foi um fi lósofo francês que<br />
produziu suas principais obras sobre a ciência nas décadas de trinta e quarenta do<br />
século passado, portanto, antes de Kuhn, Lakatos e Feyerabend. Apesar disso, seu pensamento<br />
é extr<strong>em</strong>amente atual, razão pela qual o deixamos para esse último momento do curso.<br />
Epist<strong>em</strong>ologia<br />
Novamente, utilizar<strong>em</strong>os<br />
o termo ‘epist<strong>em</strong>ologia’<br />
como sinônimo de<br />
“teoria do conhecimento<br />
científico”.<br />
Bachelard atuou, durante cerca de 16 anos, como professor de diversas disciplinas<br />
(como física, química e filosofia) no – equivalente <strong>ao</strong> nosso – nível médio de ensino, <strong>em</strong> sua<br />
cidade natal no interior da França. Torna-se professor universitário tardiamente, primeiro <strong>em</strong><br />
Dijon e, depois, na Sorbonne de Paris. Sua intensa produção intelectual pode ser dividida <strong>em</strong><br />
duas grandes vertentes: a epist<strong>em</strong>ológica, preocupada fundamentalmente com a análise da<br />
constituição e evolução da razão científica, e a poética, voltada à exploração do imaginário e<br />
à criação artística e literária. A primeira vertente ficou conhecida como a do “hom<strong>em</strong> diurno”,<br />
enquanto a segunda, como a do “hom<strong>em</strong> noturno”.<br />
Bachelard<br />
Esta apresentação do<br />
pensamento desse autor<br />
encontra-se presente, <strong>em</strong><br />
grande parte, <strong>em</strong> Martins<br />
(2004). As principais obras<br />
de Bachelard citadas no<br />
texto são: A Epist<strong>em</strong>ologia<br />
(Bachelard, 1981); O<br />
Novo Espírito Científico<br />
(Bachelard, 1985); A<br />
Filosofia do<br />
Não (Bachelard,<br />
1991); e A Formação<br />
do Espírito Científico<br />
(Bachelard, 1996).<br />
Figura 1 – Gaston Bachelard (1884-1962)<br />
A epist<strong>em</strong>ologia de Bachelard pode ser caracterizada, num primeiro momento, como<br />
histórica, racionalista e descontinuísta.<br />
Histórica porque não abdica do uso da História da Ciência <strong>em</strong> sua fundamentação. Mais do<br />
que isso, aprende com o material histórico, buscando nele el<strong>em</strong>entos que ilustram, justificam e<br />
alicerçam as principais teses dessa epist<strong>em</strong>ologia. Mas não é ainda de qualquer história da ciência<br />
de que se trata. Bachelard a denomina história recorrente, uma história “que se esclarece pela<br />
finalidade do presente, uma história que parte das certezas do presente e descobre, no passado,<br />
as formações progressivas da verdade” (BACHELARD, 1981, p. 207). Histórica também porque<br />
2<br />
Aula 13 História e Filosofi a da Ciência
concebe a verdade de hoje como uma retificação histórica de um erro de ont<strong>em</strong>. À medida que<br />
o conhecimento científico evolui, progride, pensamentos são retificados.<br />
Racionalista porque se opõe a epist<strong>em</strong>ologias do tipo <strong>em</strong>pirista, que colocam a orig<strong>em</strong><br />
de todo o conhecimento (do menos <strong>ao</strong> mais evoluído) no objeto sensível, ou mesmo na<br />
experiência primeira. Bachelard coloca-se contra a “ideologia do dado”, contra a ideia de<br />
que a simples observação dos “fatos” leva <strong>ao</strong> conhecimento, sendo esse fundado, portanto,<br />
na experiência. Não que ele se encontre no extr<strong>em</strong>o oposto e suponha que o conhecimento<br />
nasça da razão, numa postura filosófica mais próxima <strong>ao</strong> idealismo. Para ele, a prova científica<br />
afirma-se na experiência e no raciocínio, no contato com a realidade e numa referência à razão.<br />
Seu posicionamento é mesmo num ponto intermediário entre o racionalismo e o <strong>em</strong>pirismo,<br />
<strong>em</strong>bora mais próximo do primeiro.<br />
Segundo Bachelard, a nova ciência (principalmente a física da virada do século XX,<br />
que o impressionou bastante) caracteriza-se pela “realização do racional” (ou “realização do<br />
mat<strong>em</strong>ático”): o pensamento científi co é “realizante”. Isso porque a experiência científi ca<br />
moderna é um momento da construção teórica, uma “razão confi rmada”. O pensamento faz<br />
realizar o fenômeno, que é construído antes de ser dado. É nesses termos que Bachelard<br />
defende um racionalismo aplicado, que deve tirar lições da experiência objetiva <strong>ao</strong> mesmo<br />
t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que a dirige. Há sentido, por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> se criar um acelerador de partículas se<br />
não acreditarmos na existência de átomos?<br />
Por último – mas não menos importante – a epist<strong>em</strong>ologia bachelardiana é marcada<br />
pela perspectiva descontinuísta. Vejamos de que modo isso se evidencia, <strong>ao</strong> analisarmos um<br />
importante conceito da obra de Bachelard: o de obstáculo epist<strong>em</strong>ológico.<br />
A noção de obstáculo epist<strong>em</strong>ológico<br />
Ao analisar o progresso da ciência (cuja existência não põe <strong>em</strong> dúvida), Bachelard conclui<br />
que é <strong>em</strong> termos de obstáculos que dev<strong>em</strong>os colocar o probl<strong>em</strong>a do conhecimento científico.<br />
Não se trata, porém, de priorizar dificuldades devidas à complexidade dos fenômenos, como<br />
poderia parecer à primeira vista. Esses obstáculos surg<strong>em</strong> inevitavelmente na relação dos<br />
sujeitos com os objetos do conhecimento, aparec<strong>em</strong> no “âmago do próprio ato de conhecer”<br />
– são obstáculos epist<strong>em</strong>ológicos. Embora inerentes <strong>ao</strong> ato de conhecer, é a sua superação<br />
que permite o avanço do conhecimento, tanto no nível do sujeito individual como no nível do<br />
sujeito coletivo da ciência.<br />
Hoje, os objetos da ciência já não são dados, são construídos. Difer<strong>em</strong> dos objetos<br />
comuns na medida <strong>em</strong> que são fruto de uma reflexão teórica. São objetos teóricos, distanciamse<br />
do real imediato, que é vinculado a uma experiência primeira. Resultam de um trabalho de<br />
produção teórica e organização de ideias que se encontra além da pura e simples “observação<br />
neutra e direta do real”. Esta, cara <strong>ao</strong>s <strong>em</strong>piristas, já não pode ser a base epist<strong>em</strong>ológica dos<br />
objetos da ciência moderna, construídos pela razão, produtos da mente humana. É mesmo no<br />
sentido de um pensamento segundo, de uma reapresentação à consciência, que poderíamos<br />
caracterizá-los como representações do real.<br />
Aula 13 História e Filosofi a da Ciência 3
No entanto, o sujeito, no contato com o real imediato, tende a acumular valores, sensações,<br />
“hábitos”, que dificultam a abstração e a construção dos objetos teóricos da ciência. Em sua<br />
obra A Formação do Espírito Científico, Bachelard busca analisar exaustivamente a natureza<br />
desses obstáculos epist<strong>em</strong>ológicos, tomando ex<strong>em</strong>plos principalmente da História da Ciência<br />
do século XVIII. Listar<strong>em</strong>os abaixo, brev<strong>em</strong>ente, alguns dos obstáculos elencados por ele,<br />
procurando clarear o significado e a amplitude desse importante conceito.<br />
Um primeiro obstáculo seria a observação primeira, imediata, que tenciona compreender<br />
o real a partir de um “dado” claro e nítido. Trata-se de um “<strong>em</strong>pirismo fácil”, que coloca os<br />
“fatos” antes das “razões”, que não refl ete para experimentar. Bachelard aponta o perigo do<br />
deslumbramento, da satisfação do espírito com as “experiências coloridas” que, pretensamente,<br />
proporcionariam um <strong>em</strong>pirismo evidente e básico. Entre outros ex<strong>em</strong>plos, cita aqui as<br />
experiências da ciência da eletricidade do século XVIII, cheias de falsos centros de interesse<br />
e imagens pitorescas, que imobilizam a razão. O espírito pré-científico, tal como o denomina<br />
Bachelard, contenta-se com essa ciência de primeira aproximação, <strong>em</strong> que não é preciso<br />
compreender: basta ver. Pelo contrário, o espírito científi co deve-se formar contra a natureza,<br />
oferecendo-lhe resistência. Há muito de concreto e subjetivo nas experiências primeiras. Por<br />
isso, diz Bachelard, “não é pois de admirar que o primeiro conhecimento objetivo seja um<br />
primeiro erro” (BACHELARD, 1996, p. 68).<br />
Um segundo obstáculo epist<strong>em</strong>ológico seria o conhecimento geral, <strong>em</strong> que a<br />
generalização é capaz de imobilizar o pensamento. Por trás de uma lei ou conceito geral, o<br />
espírito pré-científico pretende, muitas vezes, explicar tudo, acabando por não explicar nada.<br />
Bachelard cita como ex<strong>em</strong>plo os conceitos de coagulação e fermentação, estendidos a domínios<br />
tão diversos, de modo que a simples palavra parece conter todo o princípio explicativo. Já o<br />
pensamento científi co moderno caracteriza-se por limitar os conceitos e suas condições de<br />
aplicação, fazendo corresponder a um conceito o seu anticonceito (o que “não-fermenta”...).<br />
“O conhecimento geral é quase fatalmente conhecimento vago” (BACHELARD, 1996, p. 90).<br />
Em estreita ligação com o anterior há o obstáculo verbal, <strong>em</strong> que uma única imag<strong>em</strong><br />
pode constituir toda a explicação. Bachelard cita o caso da esponja, e como ela pôde<br />
tornar-se uma verdadeira “categoria <strong>em</strong>pírica”, capaz de servir de metáfora <strong>ao</strong>s fenômenos<br />
mais heterogêneos. Nesse caso, a própria palavra parece carregar a função, levando o espírito a<br />
aceitar imagens fáceis, a reconhecer metáforas como realidades. Bachelard afirma que também<br />
a alavanca, o espelho, a bomba, a peneira, seriam ex<strong>em</strong>plos desse tipo de obstáculo, que leva<br />
a “físicas específicas, generalizadas apressadamente” (BACHELARD, 1996, p. 99).<br />
Outro importante obstáculo epist<strong>em</strong>ológico analisado por Bachelard é o obstáculo<br />
substancialista, que se apresenta de diversas maneiras. Por um lado, são atribuídas a uma<br />
mesma substância qualidades diversas e até opostas, povoando-a de forças, poderes etc. Há<br />
um acúmulo de adjetivos para um mesmo substantivo, quando o progresso científico dá-se no<br />
sentido inverso, de uma redução desse número. Por outro lado, e de forma compl<strong>em</strong>entar, nota-se<br />
a presença do obstáculo substancialista quando o espírito pré-científi co faz corresponder<br />
a toda qualidade, uma substância, ou seja, propriedades são “substantivadas”, pensam-se<br />
4<br />
Aula 13 História e Filosofi a da Ciência
substâncias para realizar contradições que vêm da experiência. Já para a ciência moderna a<br />
substância é uma “concretização de ideias teóricas abstratas” (BACHELARD, 1996, p.143).<br />
Há também o obstáculo animista, que resulta da aplicação da “intuição da vida” <strong>ao</strong>s<br />
mais variados fenômenos. Bachelard chega a falar de um “fetichismo da vida”, que carrega<br />
uma marca e um valor muito intensos. O espírito pré-científico associou a vida <strong>ao</strong>s fenômenos<br />
elétricos, <strong>ao</strong>s minerais. Para o pensamento que busca o concreto e não a abstração, “vida” é<br />
uma palavra mágica e imediatamente valorizada. Dessa forma, persist<strong>em</strong> fantasias animistas,<br />
inclusive devido <strong>ao</strong> caráter afetivo e duradouro que t<strong>em</strong> a intuição da vida. Para Bachelard, a<br />
“imag<strong>em</strong> animista é mais natural; logo, mais convincente” (BACHELARD, 1996, p. 202).<br />
Embora haja outros obstáculos analisados <strong>em</strong> A Formação do Espírito Científi co, os<br />
listados acima são suficientes para que se tenha uma ideia do significado dado por Bachelard<br />
a essa noção. Os obstáculos epist<strong>em</strong>ológicos não são apenas característicos da pré-ciência,<br />
mas “ader<strong>em</strong> <strong>ao</strong>s conceitos” e perturbam mesmo o “novo espírito científico”. São difíceis de<br />
ser<strong>em</strong> desalojados e carregam valores afetivos que dificultam a objetivação.<br />
Um importante ponto a ressaltar é que tais obstáculos não estão presentes apenas no<br />
desenvolvimento histórico da ciência, podendo ser encontrados na análise de seu progresso.<br />
Bachelard é explícito <strong>ao</strong> dizer que essa noção pode ser estudada na prática cotidiana da<br />
educação, uma vez que os alunos chegam à escola com conhecimentos já constituídos. Por isso<br />
Bachelard defende que se estude a “psicologia do erro”, e que se compreenda a necessidade<br />
de uma verdadeira “catarse intelectual e afetiva”, para o aprendizado da ciência. Há que se<br />
vencer, um a um, os obstáculos epist<strong>em</strong>ológicos que a vida cotidiana foi edificando, b<strong>em</strong> como<br />
os novos obstáculos que o próprio aprendizado da ciência vai forjando.<br />
Trata-se, então, de um processo marcado por rupturas: a ciência opõe-se <strong>ao</strong> senso<br />
comum, à opinião. O conhecimento que se pretende objetivo deve também opor-se <strong>ao</strong><br />
conhecimento sensível que carrega todo tipo de impurezas e valores, não corrigidos ainda pelas<br />
“repreensões do objeto”. O caminho dessa objetivação não é evitar sist<strong>em</strong>aticamente o erro:<br />
é, antes, a consciência do erro. Sob esse ângulo, o erro adquire uma conotação positiva, útil.<br />
Ele não é um “acidente de percurso” ou uma prova de limitação, mas uma etapa a atravessar,<br />
um “el<strong>em</strong>ento motor do conhecimento”. Esse é um ponto fundamental, pois, <strong>ao</strong> afi rmar a<br />
inevitabilidade dos erros, vinculando-os <strong>ao</strong> próprio ato de conhecer, Bachelard dialetiza a<br />
noção de erro, que passa a ter um duplo aspecto: negativo enquanto reflexo de um obstáculo<br />
a superar; positivo na medida <strong>em</strong> que, “psicanalisado”, torna-se quase que um pré-requisito<br />
à aquisição de novos conhecimentos (mais elaborados).<br />
Esse é o teor da “psicanálise do conhecimento objetivo” que Bachelard propõe. Ela faz<br />
surgir o espírito científico como um “conjunto de erros retificados”. O conhecimento científico<br />
aproximar-se-ia cada vez mais da verdade – mas nunca a alcançando – corrigindo e retifi cando<br />
erros (dialética erro-verdade), num processo de natureza descontínua.<br />
Por último, caberia dizer que o esforço de dessubjetivação do cientista, <strong>em</strong> direção à<br />
objetivação, t<strong>em</strong> por base o controle social (da “cidade científi ca”). Somente numa ciência<br />
Aula 13 História e Filosofi a da Ciência 5
socializada é possível realizar a psicanálise do conhecimento, dispor a série de erros. É também<br />
essa ciência socializada que permite padronizar os instrumentos de medida, e quantificar. Sob<br />
o olhar do “outro” é que se funda a objetividade, para Bachelard.<br />
Atividade 1<br />
1<br />
2<br />
Procure estabelecer uma s<strong>em</strong>elhança e uma diferença entre a filosofia<br />
de Bachelard e as filosofias de Popper, Kuhn, Lakatos ou Feyerabend.<br />
Escolha um dos tipos de obstáculos epist<strong>em</strong>ológicos trabalhados<br />
por Bachelard e apresentados na seção acima. Forneça, a seguir, um<br />
ex<strong>em</strong>plo de um contexto da história da física <strong>em</strong> que esse tipo de<br />
obstáculo, <strong>em</strong> sua opinião, esteve presente.<br />
sua resposta<br />
1.<br />
2.<br />
6<br />
Aula 13 História e Filosofi a da Ciência
A noção de perfil epist<strong>em</strong>ológico<br />
Bachelard vai além da constatação da existência de obstáculos na evolução do<br />
conhecimento individual e científi co, ou seja, do sujeito individual e do sujeito coletivo da<br />
ciência. Tendo s<strong>em</strong>pre como referência as profundas transformações sofridas pela ciência no<br />
início do século XX, com a teoria da relatividade e a mecânica quântica, ele tenta estabelecer<br />
as bases filosóficas desse novo espírito científico. Em sua obra A Filosofia do Não, Bachelard<br />
considera o conhecimento como uma evolução do espírito.<br />
Resgatando a noção de obstáculos, afirma que o espírito científico só pode constituir-se<br />
destruindo o espírito não científi co, os erros, valores e preconceitos acumulados. Tarefa<br />
que não é fácil, porque “a ignorância é um tecido de erros positivos, tenazes, solidários”<br />
(BACHELARD, 1991, p. 11). Os erros se reforçam, fazendo com que as “trevas espirituais”<br />
tenham uma estrutura:<br />
Espírito<br />
É importante frisar que<br />
a palavra ‘espírito’, no<br />
contexto da epist<strong>em</strong>ologia<br />
bachelardiana, não<br />
apresenta qualquer<br />
conotação mística<br />
ou religiosa.<br />
Figura 2 – Os erros são solidários...<br />
O espírito que evolui deve romper com essa estrutura, superar obstáculos. E é esse<br />
movimento que Bachelard procurará analisar a partir de um pluralismo filosófico.<br />
Reclama então <strong>ao</strong>s fi lósofos a liberdade de tomar <strong>em</strong>prestado el<strong>em</strong>entos fi losófi cos<br />
desligados dos sist<strong>em</strong>as mais gerais nos quais eles nasceram. A filosofia capaz de dar conta<br />
do desenvolvimento científi co passa a ser uma “fi losofi a dispersa”, plural. Utilizando esses<br />
el<strong>em</strong>entos, Bachelard procura “estruturar” o progresso epist<strong>em</strong>ológico da ciência, defendendo<br />
que existam certas fases que se suced<strong>em</strong> <strong>ao</strong> longo da evolução filosófica de um conhecimento<br />
científico particular. Essas fases iriam do animismo (ou realismo ingênuo) <strong>ao</strong> surracionalismo,<br />
passando pelo <strong>em</strong>pirismo e pelo racionalismo tradicional. O surracionalismo englobaria o que<br />
Bachelard chama de racionalismo complexo e de racionalismo dialético.<br />
Como ex<strong>em</strong>plo de atuação dessa filosofia dispersa na explicação do progresso<br />
epist<strong>em</strong>ológico, Bachelard apresenta o conceito de massa. Em sua forma animista (ou<br />
realista ingênua), a massa aparece como “uma apreciação quantitativa grosseira” da realidade,<br />
relacionada essencialmente às “coisas grandes”. Encaixam-se aqui visões de senso comum que<br />
atribu<strong>em</strong> maior massa a um objeto maior, ou que somente a consideram como uma quantidade<br />
quando suficient<strong>em</strong>ente grande.<br />
Aula 13 História e Filosofi a da Ciência 7
Num segundo nível, encontraríamos uma noção <strong>em</strong>pirista de massa, vinculada a uma<br />
pretensa determinação objetiva e precisa. Bachelard refere-se a uma “conduta da balança”,<br />
que escamoteia uma complicação teórica por trás de um instrumento aparent<strong>em</strong>ente simples,<br />
criando um pragmatismo seguro. “Pesar é pensar. Pensar é pesar” (BACHELARD, 1991, p. 26).<br />
Inserindo o conceito de massa num “corpo de noções”, a mecânica newtoniana inaugura,<br />
na visão de Bachelard, o conceito racionalista de massa. Este já não representa uma experiência<br />
imediata e direta, mas define-se com referência a outras noções (força e aceleração), sendo uma<br />
espécie de “coeficiente de devir”. É, enquanto relação. O caráter simbólico da noção de massa<br />
irá intensificar-se com a mecânica racional (articulação mat<strong>em</strong>ática da mecânica newtoniana),<br />
passando a ser um “instante da construção racional”.<br />
Com a teoria da relatividade, v<strong>em</strong>os a noção absoluta de massa sofrer uma abertura. Deixa<br />
de ser um conceito relacionado a outros para tornar-se um conceito complexo <strong>em</strong> si, múltiplo.<br />
A massa é agora função da velocidade. Não é mais heterogênea à energia. O racionalismo<br />
complexo surge da multiplicação, segmentação e pluralização do racionalismo tradicional. A<br />
abertura dá-se no “interior da noção”.<br />
Por último, Bachelard apresenta o conceito de massa presente na mecânica de Dirac<br />
como um ex<strong>em</strong>plo do racionalismo dialético. A ideia de “massa negativa” sugere uma ruptura<br />
com o pensamento racionalista anterior e suscita uma “dialética externa”, que não poderia<br />
ser encontrada refletindo-se sobre as noções anteriores de massa. T<strong>em</strong>os agora um conceito<br />
novo, que surge desvinculado da realidade comum, mas que a mat<strong>em</strong>ática procurará “realizar”.<br />
Cada doutrina filosófica (do realismo <strong>ao</strong> surracionalismo) esclarece apenas uma face do<br />
conceito. Bachelard propõe que essas doutrinas sejam hierarquizadas, e que a evolução de<br />
um determinado conceito científico, entendida como um processo que atravessa essas fases,<br />
represente um progresso fi losófi co desse conceito. A evolução fi losófi ca do conhecimento<br />
dá-se no sentido de uma maior coerência racional.<br />
Entretanto, n<strong>em</strong> todo conceito particular, n<strong>em</strong> toda área do conhecimento, encontramse<br />
no mesmo estágio com relação à hierarquia de doutrinas filosóficas. Mais do que isso, os<br />
próprios pensamentos dos indivíduos teriam coefi cientes de realismo ou de racionalismo<br />
diversos, não havendo sentido <strong>em</strong> os classificarmos simplesmente sob os rótulos de “realistas”<br />
ou “racionalistas”.<br />
É dentro desse pluralismo fi losófi co hierarquizado que Bachelard funda o conceito<br />
de perfi l epist<strong>em</strong>ológico, segundo o qual as diversas doutrinas fi losófi cas encontram, no<br />
indivíduo, certo “peso relativo”, certa “intensidade de presença”. “Seria através de um tal<br />
perfi l mental que poderia medir-se a ação psicológica efetiva das diversas fi losofias na obra<br />
do conhecimento” (BACHELARD, 1991, p. 40).<br />
8<br />
Aula 13 História e Filosofi a da Ciência
Bachelard ex<strong>em</strong>plifica essa ideia traçando o seu próprio perfil referente <strong>ao</strong> conceito de massa:<br />
surracionalismo<br />
Realismo<br />
ingênuo<br />
Empirismo<br />
claro e<br />
positivista<br />
Racionalismo<br />
clássico da<br />
mecânica<br />
racional<br />
Racionalismo<br />
complexo<br />
(relatividade)<br />
Racionalismo<br />
dialético<br />
Figura 3 – Perfil epist<strong>em</strong>ológico da noção de massa <strong>em</strong> Bachelard<br />
É enfatizado por Bachelard o fato de o perfil ser algo válido para certo espírito <strong>em</strong> particular,<br />
com relação a um conceito designado, num certo estágio de sua cultura. Dessa forma, diferentes<br />
indivíduos apresentarão diferentes perfis conforme as noções <strong>em</strong> causa, havendo ainda uma<br />
alteração progressiva desses perfis <strong>em</strong> função do t<strong>em</strong>po (história individual). E, num mesmo<br />
indivíduo, num dado momento, noções diferentes apresentarão perfis diferentes.<br />
Outro ponto importante no entendimento da noção de perfi l é a percepção de que há<br />
uma permanência das ideias filosóficas no desenvolvimento intelectual de cada indivíduo, ou<br />
seja, a superação de obstáculos e a construção progressiva de outras “zonas” do perfi l não<br />
implicam o desaparecimento automático de concepções anteriores. As “condutas realistas”<br />
tend<strong>em</strong> a permanecer latentes mesmo nos espíritos que já as superaram, não sendo possível<br />
colocar-se de forma absoluta e definitiva no surracionalismo.<br />
O progresso do conhecimento científico, entendido como progresso epist<strong>em</strong>ológico no<br />
sentido de um racionalismo crescente, permite a Bachelard cunhar a expressão “filosofia do<br />
não” para designar essa nova filosofia das ciências. Isso porque o avanço do conhecimento<br />
dá-se contra um conhecimento anterior, negando-o. Um “não”, porém, que nunca é definitivo,<br />
porque o reconhecimento e afastamento dos erros, que a psicanálise do conhecimento objetivo<br />
representa, permit<strong>em</strong> “alargar” esse mesmo conhecimento, recuperá-lo sob nova ótica.<br />
Seria importante frisar aqui o sentido desse “alargamento”, que não pretende caracterizar<br />
uma continuidade entre os pensamentos anterior e posterior. Não se trata de manter uma<br />
estrutura (algo como um “núcleo teórico”) e fazê-la crescer, de modo contínuo, até que se atinja<br />
o novo conhecimento (mais amplo). O processo é descontínuo, envolve rupturas. Embora o<br />
novo conhecimento seja uma generalização do anterior, os conceitos já não têm os mesmos<br />
significados, foram transformados <strong>ao</strong> longo do processo. Dessa maneira, pod<strong>em</strong>os caracterizar<br />
também o pensamento epist<strong>em</strong>ológico bachelardiano como descontinuísta, porque assume<br />
Aula 13 História e Filosofi a da Ciência<br />
9
a existência de rupturas no desenrolar do desenvolvimento científi co. Bachelard evidencia,<br />
por ex<strong>em</strong>plo, o caráter de ruptura presente no surgimento de uma mecânica não-newtoniana:<br />
Vivíamos, aliás, no mundo newtoniano como numa residência espaçosa e clara. O<br />
pensamento newtoniano era de saída um tipo maravilhosamente transparente de<br />
pensamento fechado; dele não se podia sair a não ser por arrombamento (BACHELARD,<br />
1985, p. 43).<br />
A generalização pelo não inclui aquilo que nega, operando de modo dialético <strong>ao</strong> considerar<br />
visões opostas como compl<strong>em</strong>entares (e não contraditórias) para uma síntese. A geometria<br />
não-euclidiana, por ex<strong>em</strong>plo, amplia a geometria euclidiana, alarga-a; na mesma medida <strong>em</strong><br />
que a mecânica não-newtoniana a completa, retificando-a.<br />
Atividade 2<br />
Retome a caracterização feita por Bachelard para a massa, com referência às<br />
três primeiras escolas filosóficas: realismo ingênuo, <strong>em</strong>pirismo e racionalismo<br />
tradicional. Tente realizar uma caracterização s<strong>em</strong>elhante, considerando somente<br />
essas três escolas, para o conceito de “energia”.<br />
Bachelard e possíveis<br />
leituras da História da Ciência<br />
Embora de modo muito breve e incompleto, apresentamos, nas seções anteriores, um<br />
panorama da filosofia de Bachelard. Em duas de suas características principais – histórica e<br />
descontinuísta –, pod<strong>em</strong>os dizer que a filosofia desse autor aproxima-se de posições defendidas<br />
por Kuhn e Feyerabend.<br />
Embora Bachelard não proponha algo como a “incomensurabilidade”, a noção de ruptura<br />
é marcante <strong>em</strong> sua obra, como vimos. A ciência, enquanto tal, constitui-se contra a opinião,<br />
contra a experiência primeira e imediata, contra o senso comum. Além disso, o movimento de<br />
afastamento gradativo dos erros e de superação dos obstáculos epist<strong>em</strong>ológicos representa<br />
s<strong>em</strong>pre um processo de ruptura com saberes anteriores.<br />
No entanto, a noção de perfi l epist<strong>em</strong>ológico resgata, <strong>em</strong> certa medida, uma ideia de<br />
progresso do conhecimento que parece distante das abordagens de Kuhn e Feyerabend.<br />
Bachelard não apenas afi rma a existência de um progresso, como também sinaliza para<br />
10<br />
Aula 13 História e Filosofi a da Ciência
uma compreensão da natureza desse processo. A sucessão de escolas filosóficas propostas<br />
por ele (realismo ingênuo, <strong>em</strong>pirismo, racionalismo e surracionalismo) procura iluminar o<br />
desenvolvimento histórico-fi losófi co de um conceito <strong>em</strong> particular (como no ex<strong>em</strong>plo da<br />
massa), descrevendo uma maneira de pensarmos num alargamento do conhecimento. Tal<br />
alargamento não é linear, tampouco contínuo. Nesse sentido, Bachelard afasta-se de uma<br />
noção positivista de progresso.<br />
Em relação <strong>ao</strong> aspecto histórico, também v<strong>em</strong>os s<strong>em</strong>elhanças entre a perspectiva<br />
bachelardiana e as filosofias de Kuhn e Feyerabend. Todos eles buscam, na História da Ciência,<br />
el<strong>em</strong>entos que fundament<strong>em</strong> e justifiqu<strong>em</strong> as teses que defend<strong>em</strong>. Bachelard, especificamente,<br />
trabalha bastante, na A formação do espírito científico, a história da eletricidade nos séculos<br />
XVIII e XIX, <strong>em</strong>bora mencione outras épocas e episódios históricos.<br />
Um destaque merece ser feito nesse ponto: a “história recorrente” de Bachelard não se<br />
ass<strong>em</strong>elha à “reconstrução racional” de Lakatos! Enquanto que a segunda pretende reconstruir<br />
a história (interna) com vistas a torná-la, <strong>em</strong> certo sentido, uma explicação e justificativa dos<br />
modelos atualmente aceitos, esforçando-se por evidenciar um caráter linear e racional do<br />
desenvolvimento conceitual da ciência, a história recorrente de Bachelard busca, antes de<br />
tudo, identificar no passado as fontes de erros e tropeços, tendo o presente como referência.<br />
Mas isso não significa “limpar” a história! Pelo contrário, pretende, justamente, trazer à tona<br />
a riqueza do pensamento de cada época, da psicologia do cientista de cada período e dos<br />
obstáculos que se interpuseram no caminho.<br />
Um aspecto parece afastar a abordag<strong>em</strong> de Bachelard das de Kuhn e Feyerabend: o<br />
racionalismo. Enquanto os dois últimos foram acusados de manter uma postura irracionalista,<br />
por alguns críticos, Bachelard defende, claramente, a racionalidade do <strong>em</strong>preendimento<br />
científico. No entanto, esse aspecto surge <strong>em</strong> contextos diferentes das obras desses<br />
autores. A crítica a Kuhn e Feyerabend deve-se <strong>ao</strong> fato deles realçar<strong>em</strong> aspectos como a<br />
propaganda, a proposição de hipótese ad hoc, entre outros, que não faz<strong>em</strong> parte de uma<br />
visão de “senso comum” da ciência e da prática dos cientistas. Já <strong>em</strong> Bachelard, a questão<br />
do racionalismo surge numa oposição <strong>ao</strong> <strong>em</strong>pirismo filosófico e, <strong>em</strong>bora o autor defenda um<br />
“racionalismo aplicado” e uma superação dessa dicotomia, coloca-se mais claramente no polo<br />
do racionalismo. Nesse sentido, opõe-se a uma perspectiva positivista e, portanto, aproxima-se<br />
das teses de Kuhn e Feyerabend.<br />
Por último, cabe retomarmos o exercício realizado <strong>em</strong> aulas anteriores e aplicá-lo à<br />
epist<strong>em</strong>ologia de Bachelard, ou seja, promovermos uma leitura bachelardiana de episódios<br />
da História da Ciência.<br />
Uma vez que as teses de Bachelard se fundamentam no material histórico, essa tarefa<br />
não é muito difícil e já foi, <strong>em</strong> parte, realizada nas seções anteriores. A noção de obstáculo<br />
epist<strong>em</strong>ológico, <strong>em</strong> particular, é bastante frutífera numa análise de episódios históricos.<br />
Bachelard nos chama a atenção para as “experiências coloridas” da eletricidade dos séculos<br />
XVIII e XIX, com falsos centros de interesse, representativas da ideia da “observação primeira”<br />
como obstáculo.<br />
Aula 13 História e Filosofi a da Ciência 11
Também pod<strong>em</strong>os notar a forte presença desse obstáculo na história da mecânica, <strong>em</strong> que<br />
o senso comum e a observação direta dos fenômenos, quase s<strong>em</strong>pre dificultaram a construção<br />
de uma física inercial. Assim, o movimento aparente dos astros <strong>em</strong> torno da Terra e a queda<br />
mais rápida de objetos mais pesados, próximos à superfície de nosso planeta, pod<strong>em</strong> ser<br />
considerados obstáculos no âmbito das “experiências primeiras”. Para o desenvolvimento da<br />
física inercial (e das noções de movimento compartilhado, relatividade de movimento etc.) era<br />
necessária a superação desses obstáculos, o distanciamento da experiência diária e concreta.<br />
Outro obstáculo bastante presente na História da Ciência é o obstáculo substancialista.<br />
Dois ex<strong>em</strong>plos marcantes são o modelo do calórico, no estudo dos fenômenos térmicos,<br />
e o modelo dos fl uidos elétricos, no campo da eletricidade. Quanto <strong>ao</strong> primeiro, sab<strong>em</strong>os<br />
que o calórico foi concebido, durante algum t<strong>em</strong>po, como uma substância responsável por<br />
fundamentar a explicação de diversos fenômenos relativos <strong>ao</strong> calor, como o aquecimento <strong>em</strong><br />
geral, as trocas de calor entre corpos, a combustão etc. A busca por essa substância e suas<br />
propriedades perdurou por um longo período e foi objeto de estudo e preocupação de diversos<br />
pesquisadores, tais como A. L. Lavoisier e J. Black, principalmente <strong>em</strong> fi ns do século XVIII.<br />
Ainda hoje, a linguag<strong>em</strong> da física guarda “resquícios” de uma concepção substancialista do<br />
calor, <strong>ao</strong> se utilizar de termos como capacidade térmica e quantidade de calor, por ex<strong>em</strong>plo<br />
(aliás, isso já seria uma ilustração de um “obstáculo verbal” à aquisição do conceito científico<br />
de calor, numa visão bachelardiana...!).<br />
Já os fenômenos associados à eletricidade, marcadamente no século XVIII, eram<br />
explicados com referência a um – ou dois! – “fluidos elétricos” (Charles Du Fay, por ex<strong>em</strong>plo,<br />
defendia o modelo dos dois fluidos, enquanto Benjamin Franklin o modelo do fluido único). A<br />
noção de campo elétrico, como algo imaterial, surgiria somente <strong>ao</strong> final do século XIX. Até lá,<br />
predominou uma concepção substancialista da eletricidade, o que, numa visão bachelardiana,<br />
funcionou como um obstáculo epist<strong>em</strong>ológico (haveria outros ex<strong>em</strong>plos, como o flogístico,<br />
o éter etc.).<br />
Além da noção de obstáculo, abordamos também a ideia de perfil epist<strong>em</strong>ológico. Não<br />
entrar<strong>em</strong>os <strong>em</strong> detalhes quanto a isso, mas cabe destacar que a superação de obstáculos como<br />
um processo de alargamento do conhecimento <strong>em</strong> direção a uma maior coerência racional e<br />
objetivação, exposta na noção de perfil, pode ser utilizada na interpretação da história.<br />
Embora Bachelard proponha o perfi l para cada conceito <strong>em</strong> particular, a hierarquia de<br />
escolas filosóficas seria uma espécie de estrutura recorrente, que pode servir como “pano de<br />
fundo” para pensarmos o desenvolvimento histórico-filosófico da ciência. Simplificadamente,<br />
pod<strong>em</strong>os “ver” a história da termodinâmica (ou da mecânica, ou do eletromagnetismo...)<br />
a partir desse “pano de fundo”, com fases que r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> <strong>ao</strong> realismo ingênuo, <strong>em</strong>pirismo,<br />
racionalismo etc. Esse é um exercício complexo de ser realizado e não imediato. Mas seria<br />
uma forma de ilustrar um possível uso da epist<strong>em</strong>ologia de Bachelard na interpretação do<br />
desenvolvimento científico.<br />
12<br />
Aula 13 História e Filosofi a da Ciência
Retomando questões<br />
da Filosofia da Ciência<br />
Nesse momento fi nal de nossa viag<strong>em</strong> fi losófi ca, propomos a você uma retomada de<br />
alguns questionamentos que foram trazidos na aula 9 - Indução, <strong>em</strong>pirismo e o método<br />
científi co. Naquela oportunidade, procuramos fazê-los na intenção de apresentar várias<br />
t<strong>em</strong>áticas e focos de atenção do campo da Filosofia da Ciência.<br />
De que forma v<strong>em</strong>os, agora, esses mesmos questionamentos?<br />
Como o filósofo grego Heráclito já dizia, há mais de dois milênios, tudo flui. É impossível<br />
banharmo-nos duas vezes no mesmo rio, pois n<strong>em</strong> o rio n<strong>em</strong> nós ser<strong>em</strong>os os mesmos... Tendo<br />
Heráclito como referência, volt<strong>em</strong>os nossa atenção àquelas questões:<br />
• Que método(s) a ciência utiliza <strong>em</strong> seu desenvolvimento?<br />
• Em que circunstâncias pod<strong>em</strong>os afirmar que uma teoria científica foi “provada”?<br />
• O conhecimento científico pode ser considerado “verdadeiro”?<br />
• As teorias científicas “evolu<strong>em</strong>”? É possível falar <strong>em</strong> “progresso da ciência”?<br />
• Que papel dev<strong>em</strong>os atribuir <strong>ao</strong>s experimentos na construção do conhecimento científico?<br />
E à razão?<br />
• Há “experiências cruciais”?<br />
• A ciência reflete o real de forma objetiva?<br />
• Qual o papel da comunidade científi ca e do contexto histórico na construção desse<br />
conhecimento?<br />
• É possível estabelecer critérios claros para dizer o que é – e o que não é – ciência?<br />
Esperamos que você possa dialogar com essas questões, agora, de modo mais<br />
sofisticado, ou seja, com el<strong>em</strong>entos próprios do campo da Filosofia da Ciência. Bacon, Popper,<br />
Kuhn, Feyerabend, Lakatos e Bachelard (além de outros que estiveram ausentes de nossas<br />
discussões!), traz<strong>em</strong> olhares diferenciados e enriquecedores na análise desse <strong>em</strong>preendimento<br />
chamado ciência. O conhecimento dessas diversas abordagens permite-nos probl<strong>em</strong>atizar<br />
essas questões para nós mesmos e para os outros, o que é importante quando pensamos nas<br />
salas de aula dos níveis médio e superior.<br />
A primeira questão, por ex<strong>em</strong>plo, referente <strong>ao</strong> método, r<strong>em</strong>ete diretamente <strong>ao</strong>s t<strong>em</strong>as<br />
tratados por nós. Discutimos a concepção <strong>em</strong>pírico-indutivista e propus<strong>em</strong>os sua superação.<br />
Chegamos <strong>ao</strong> extr<strong>em</strong>o de uma metodologia pluralista. Tudo isso ilumina o “que fazer”<br />
científico e nos traz novos referenciais de análise da ciência passada e atual. Da mesma forma,<br />
Aula 13 História e Filosofi a da Ciência 13
esperamos que você perceba que conhecimento “seguro”, “verdadeiro” e “provado” é algo que<br />
as perspectivas fi losófi cas mais recentes não costumam atribuir à ciência. Um dos grandes<br />
consensos construídos no terreno da moderna Filosofia da Ciência é o entendimento de que a<br />
ciência é um <strong>em</strong>preendimento humano coletivo, condicionado histórica e socialmente e, portanto,<br />
mutável. As observações não são neutras e depend<strong>em</strong> de modelos e teorias preestabelecidas.<br />
A ciência representa um tipo de conhecimento especial? Vale a pena buscar critérios<br />
definidores do que é – e do que não é – ciência? Popper e Feyerabend responderiam de modo<br />
muito diferente a isso! E essa não é – <strong>em</strong>bora possa parecer – uma questão de interesse<br />
restrito e abstrato. Como já foi dito, a ciência t<strong>em</strong> grande importância (e autoridade!) <strong>em</strong><br />
nosso meio social, permeando discursos, formas de ver e lidar com o real, justificando ações e<br />
deliberações, forjando pontos de vista acerca de importantes e decisivos probl<strong>em</strong>as. O crédito<br />
que dev<strong>em</strong>os dar ou não <strong>ao</strong> discurso científico depende, <strong>em</strong> grande parte, da visão que t<strong>em</strong>os<br />
da ciência e do modo que ela é construída. E isso não é algo objetivo e monolítico, mas fruto<br />
de interpretações e concepções adquiridas no estudo da Filosofia da Ciência.<br />
Em função disso, gostaríamos que você também voltasse a refletir sobre a relevância de<br />
uma abordag<strong>em</strong> histórico-filosófica no ensino de ciências (foco de nossa Aula 02 - A História e<br />
a Filosofia da Ciência no ensino de ciências). Como futuro professor, é imprescindível que você<br />
tenha consciência de que seus alunos estarão construindo uma imag<strong>em</strong> de ciência, <strong>em</strong> parte,<br />
com aquilo com que terão contato <strong>em</strong> suas aulas. Se – explícita ou implicitamente – a ciência<br />
for apresentada segundo um viés <strong>em</strong>pírico-indutivista, isso deverá reforçar uma concepção<br />
de senso comum, como vimos antes. Por outro lado, o conhecimento de várias perspectivas<br />
teóricas ajuda tanto a interpretar o material histórico quanto a discutir aspectos da natureza da<br />
ciência. S<strong>em</strong> falar no próprio potencial pedagógico de certos conceitos oriundos da Filosofia<br />
da Ciência, tais como os de obstáculo e de perfil epist<strong>em</strong>ológico de Bachelard, que têm uma<br />
aplicabilidade frutífera no entendimento de questões de ensino.<br />
É preciso não apenas ensinar ciência, mas ensinar sobre a ciência. Qu<strong>em</strong> sabe isso seja<br />
tão – ou até mais – relevante do que aprender os conceitos científicos...<br />
Atividade 3<br />
1<br />
Leia os dois trechos a seguir, retirados da obra Contra o método, de Paul Feyerabend:<br />
TRECHO A:<br />
Enfim, descobrimos que o aprendizado não se desenvolve da observação para a teoria,<br />
mas s<strong>em</strong>pre envolve ambos esses el<strong>em</strong>entos. A experiência aparece acompanhada de<br />
pressupostos teóricos e não antes deles; e a experiência s<strong>em</strong> teoria é tão incompreensível<br />
quanto (supostamente) a teoria s<strong>em</strong> experiência” (FEYERABEND, 1977, p. 262-263).<br />
14<br />
Aula 13 História e Filosofi a da Ciência
TRECHO B:<br />
O conhecimento, concebido segundo essas linhas, não é uma série de teorias coerentes,<br />
a convergir para uma doutrina ideal; não é um gradual aproximar-se da verdade. É,<br />
antes, um oceano de alternativas mutuamente incompatíveis (e, talvez, até mesmo<br />
incomensuráveis), onde cada teoria singular, cada conto de fadas, cada mito que seja<br />
parte do todo força as d<strong>em</strong>ais partes a manter<strong>em</strong> articulação maior, fazendo com que<br />
todas concorram, através desse processo de competição, para o desenvolvimento de<br />
nossa consciência (FEYERABEND, 1977, p. 40-41, grifos do autor).<br />
Com base no que foi discutido na seção precedente e <strong>ao</strong> longo das aulas de Filosofi a<br />
da Ciência, posicione-se criticamente <strong>em</strong> relação a esses trechos. Elabore um pequeno texto<br />
com a sua opinião.<br />
2<br />
Leia o texto a seguir, retirado da internet:<br />
Cientistas encontram 1ª prova concreta de lago <strong>em</strong> Marte<br />
REUTERS<br />
Qua, 17 Jun - 22h01<br />
WASHINGTON (Reuters) - Um longo e profundo cânion e os restos de uma praia<br />
talvez sejam a prova mais clara já encontrada sobre a existência de um lago na<br />
superfície de Marte, e ele aparent<strong>em</strong>ente continha água quando o planeta já<br />
deveria ter secado, disseram cientistas nesta quarta-feira.<br />
Imagens de uma câmera chamada High Resolution Imaging Science Experiment<br />
a bordo do satélite Mars Reconaissance Orbiter indicam que a água escavou<br />
um cânion de 50 quilômetros de extensão, revelou um grupo da Universidade<br />
do Colorado.<br />
Ele teria coberto uma superfície de 200 quilômetros quadrados, com profundidade<br />
de 450 metros, escreveram os pesquisadores da revista Geophysical<br />
Research Letters.<br />
Hoje é incontestável que existe água no solo de Marte -- robôs de exploração<br />
encontraram gelo ali. Também há provas de que a água ainda pode brotar do<br />
subsolo para a superfície, ainda que ela rapidamente desapareça na fina e gelada<br />
atmosfera do planeta vermelho.<br />
Cientistas também já haviam visto o que poderiam ser praias de rios gigantescos<br />
ou mares “mas algumas das formações também poderiam ser obra de<br />
deslizamentos de terra”.<br />
Aula 13 História e Filosofi a da Ciência<br />
15
“Essa é a primeira prova s<strong>em</strong> ambiguidades sobre linhas costeiras na superfície<br />
de Marte”, disse Gaetano Di Achille, que liderou o estudo.<br />
“A identifi cação das linhas e as evidências geológicas nos permit<strong>em</strong> calcular o<br />
tamanho e o volume do lago, que parece ter se formado há cerca de 3,4 bilhões<br />
de anos”, afirmou Di Achille <strong>em</strong> comunicado.<br />
A água é um el<strong>em</strong>ento-chave para a vida, e os cientistas procuram desesperadamente<br />
por provas de vida <strong>em</strong> Marte, seja passada ou presente. A existência de água no<br />
planeta também pode ser útil para futuros exploradores humanos.<br />
“Na Terra, deltas e lagos são excelentes coletores e conservadores dos sinais de<br />
vida passada”, disse Di Achille. “Se a vida alguma vez existiu <strong>em</strong> Marte, os deltas<br />
pod<strong>em</strong> ser a chave para desvendar o passado biológico de Marte”, acrescenta.<br />
“A pesquisa não prova apenas que houve um sist<strong>em</strong>a lacustre de longa existência<br />
<strong>em</strong> Marte, mas nós pod<strong>em</strong>os ver que o lago se formou após o período quente<br />
e úmido que pensava-se que teria se dissipado”, disse o professor assistente<br />
Brian Hynek.<br />
O lago provavelmente evaporou, ou congelou após uma abrupta mudança climática,<br />
afi rmaram os pesquisadores. Ninguém sabe o que fez Marte deixar de ser um<br />
planeta quente e úmido para se tornar o deserto gelado e s<strong>em</strong> ar que é hoje.<br />
(Reportag<strong>em</strong> de Maggie Fox).<br />
Agora responda: <strong>em</strong> que aspectos o texto é compatível com uma visão de ciência tal como<br />
defendida pela moderna Filosofia da Ciência? Em que aspectos ele se afasta dessa visão? Em<br />
sua resposta, cite trechos do texto que reforc<strong>em</strong> sua argumentação.<br />
Uma “dica” final...<br />
Chegamos <strong>ao</strong> fim de nosso curso, após uma longa jornada que procurou apresentar a você<br />
o que são a História e a Filosofia da Ciência. Apesar de todo o esforço, sab<strong>em</strong>os que isso<br />
é insuficiente para que você tenha plenas condições de fazer uso da História e da Filosofia<br />
da Ciência <strong>em</strong> suas aulas na educação básica. As pesquisas na área de Didática das Ciências têm<br />
revelado as dificuldades enfrentadas por professores no que diz respeito <strong>ao</strong> “como fazer”, ou<br />
seja, <strong>ao</strong> modo efetivo de levar el<strong>em</strong>entos históricos e filosóficos para as salas de aula.<br />
16<br />
Aula 13 História e Filosofi a da Ciência
Apesar disso, gostaríamos de incentivá-lo a realizar esse esforço. Aos poucos, e com<br />
dedicação, você verá que é possível fazer muitas coisas para tornar as aulas de ciências<br />
mais interessantes e para promover discussões relevantes sobre a natureza do conhecimento<br />
científico. Nessa direção, consideramos importante que você:<br />
• esteja atento às fontes a ser<strong>em</strong> utilizadas no preparo de suas aulas e atividades. Como<br />
discutimos <strong>em</strong> nosso curso, é preciso ter cuidado e buscar materiais confiáveis, que não<br />
distorçam a história, reproduzam equívocos ou dê<strong>em</strong> um tratamento superficial;<br />
• procure consultar mais de um material a respeito de certo t<strong>em</strong>a, para que seja possível<br />
estabelecer comparações e perceber, por ex<strong>em</strong>plo, pontos de vista confl itantes. Crie o<br />
hábito de ler textos sobre História da Ciência;<br />
• torne adequado o material <strong>ao</strong> nível cognitivo dos alunos. Textos muito longos e/ou<br />
complexos pod<strong>em</strong> desestimulá-los e levar a um efeito inverso daquele pretendido;<br />
• não inicie tentando abordar “todo o conteúdo” de uma maneira histórico-fi losófi ca.<br />
Procure ser modesto e inserir essa perspectiva <strong>em</strong> algumas poucas aulas de certa área<br />
(a mecânica, por ex<strong>em</strong>plo). Mas não se limite a usar a história como mera “motivação”<br />
ou “curiosidade”, desvinculada do restante da programação! A História e a Filosofi a da<br />
Ciência pod<strong>em</strong> ajudar a compreender os próprios conceitos da física!<br />
• investigue as concepções dos alunos sobre o t<strong>em</strong>a a ser tratado. Perceba possíveis<br />
relações com a história e explore tais relações no planejamento de suas aulas;<br />
• não espere que todos os alunos gost<strong>em</strong> desse tipo de abordag<strong>em</strong> ou reconheçam, de<br />
imediato, que isso “também é física”! Leve-os a perceber, gradativamente, a importância<br />
da História e da Filosofia da Ciência para um entendimento tanto de questões passadas<br />
quanto de aspectos atuais da prática científi ca. Diversifi car metodologias e estratégias<br />
de ensino é bastante útil.<br />
Bom trabalho!<br />
Leitura compl<strong>em</strong>entar<br />
LOPES, A. R. C. Bachelard: o filósofo da desilusão. Caderno Catarinense de Ensino de Física,<br />
v. 13, n. 3, p. 248-273, 1996. Disponível <strong>em</strong>: . Acesso <strong>em</strong>: 11 nov. 2009.<br />
Nesse artigo, a autora faz uma boa introdução <strong>ao</strong> pensamento de Gaston Bachelard,<br />
abordando, inclusive, algumas das implicações dessa epist<strong>em</strong>ologia para o ensino das ciências.<br />
Aula 13 História e Filosofi a da Ciência 17
Resumo<br />
Nesta aula, tratamos do pensamento de Gaston Bachelard. Caracterizamos sua<br />
epist<strong>em</strong>ologia como histórica, racionalista e descontinuísta. Abordamos dois<br />
conceitos centrais de sua obra, a saber: as noções de obstáculo e de perfi l<br />
epist<strong>em</strong>ológico. Propus<strong>em</strong>os a interpretação de passagens da história da ciência<br />
de um ponto de vista bachelardiano. Retomamos questões gerais relativas à<br />
Filosofia da Ciência, procurando indicar a pertinência de um novo olhar sobre elas.<br />
Finalizamos a aula (e o curso) fornecendo el<strong>em</strong>entos para uma reflexão sobre o<br />
uso pedagógico da História e da Filosofia da Ciência.<br />
Autoavaliação<br />
Com base na leitura desta aula e nas Atividades desenvolvidas por você, reflita sobre as<br />
seguintes questões:<br />
1<br />
2<br />
3<br />
4<br />
5<br />
6<br />
Compreendo os principais conceitos da epist<strong>em</strong>ologia de Bachelard?<br />
Sou capaz de dar ex<strong>em</strong>plos de obstáculos epist<strong>em</strong>ológicos a partir de episódios<br />
históricos?<br />
Sei comparar a fi losofi a de Bachelard com a perspectiva de autores como Kuhn,<br />
Feyerabend e Lakatos, estabelecendo s<strong>em</strong>elhanças e diferenças?<br />
Consigo realizar uma leitura bachelardiana da História da Ciência?<br />
Sei identificar t<strong>em</strong>áticas próprias da Filosofia da Ciência e dialogar com elas a partir<br />
dos referenciais estudados neste curso?<br />
Percebo a importância e as dificuldades relacionadas <strong>ao</strong> uso pedagógico da História<br />
e da Filosofia da Ciência?<br />
18<br />
Aula 13 História e Filosofi a da Ciência
Referências<br />
BACHELARD, Gaston. A epist<strong>em</strong>ologia. Lisboa: Edições 70, 1981.<br />
______. O novo espírito científico. 2.ed. Rio de Janeiro: T<strong>em</strong>po Brasileiro, 1985.<br />
______. A filosofia do não. 5.ed. Lisboa: Editorial Presença, 1991.<br />
______. A formação do espírito científico. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.<br />
FEYERABEND, Paul. Contra o método. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977.<br />
MARTINS, A. F. P. Concepções de estudantes acerca do conceito de t<strong>em</strong>po: uma análise à<br />
luz da epist<strong>em</strong>ologia de Gaston Bachelard. 2004. Tese (Doutorado <strong>em</strong> Educação) – Faculdade<br />
de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004.<br />
ZANETIC, J. FMT405 - Evolução dos conceitos da física: notas de aula. São Paulo: Instituto<br />
de Física da USP, 2008. Mimeo.<br />
Anotações<br />
Aula 13 História e Filosofi a da Ciência<br />
19
Anotações<br />
20<br />
Aula 13 História e Filosofi a da Ciência