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a relação entre arte e arqueologia no final do século XIX no - CBHA

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‘Arquivos escritos em barro’: a <strong>relação</strong> <strong>entre</strong> <strong>arte</strong> e <strong>arqueologia</strong> <strong>no</strong> <strong>final</strong> <strong>do</strong> <strong>século</strong> <strong>XIX</strong> <strong>no</strong> Brasil - Claudia Valladão de Mattos<br />

sua maioria e descendia das “<strong>no</strong>bres” tribos americanas <strong>do</strong><br />

hemisfério <strong>no</strong>rte. Gonçalves Dias insistia nas semelhanças<br />

raciais <strong>entre</strong> os Tupi e os Iroqueses, por exemplo, afirman<strong>do</strong><br />

que esses povos <strong>do</strong> <strong>no</strong>rte, guerreiros conquista<strong>do</strong>res,<br />

haviam desci<strong>do</strong> em direção à América <strong>do</strong> Sul, ocupan<strong>do</strong><br />

o litoral e expulsan<strong>do</strong> os índios locais, mais primitivos que<br />

eles, para o interior <strong>do</strong> país. De acor<strong>do</strong> com o poeta, essas<br />

raças primitivas teriam uma origem mongol, enquanto que<br />

os descendentes <strong>do</strong> <strong>no</strong>rte, os primeiros Tupis, teriam uma<br />

origem calcasiana. 4 Essa teoria permitia construir uma<br />

imagem <strong>no</strong>bre <strong>do</strong>s índios brasileiros <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, ainda<br />

que essa <strong>no</strong>breza fosse difícil de ser encontrada <strong>entre</strong> as<br />

tribos modernas. Traça<strong>do</strong> um parentesco ancestral <strong>entre</strong><br />

os índios <strong>do</strong> Brasil e as populações mais desenvolvidas da<br />

Europa, os <strong>no</strong>ssos índios tornavam-se passíveis de serem<br />

reciviliza<strong>do</strong>s. A ocupação europeia poderia mesmo ser vista<br />

como uma recuperação de um esta<strong>do</strong> de civilização perdi<strong>do</strong><br />

ao longo de uma história de triste decadência. Em última<br />

instância, a assimilação <strong>do</strong>s indígenas moder<strong>no</strong>s poderia<br />

ser vista como um feliz reencontro com seu próprio passa<strong>do</strong>.<br />

Tais ideias de uma descendência <strong>no</strong>bre, civilizada, das<br />

populações indígenas <strong>do</strong> Brasil, impulsio<strong>no</strong>u a utilização<br />

da imagem <strong>do</strong> índio na tessitura da identidade da jovem<br />

nação, assim como na construção de uma geopolítica <strong>do</strong><br />

Império. Nas palavras de Lúcio Ferreira, àquela época:<br />

[...] a Filologia e a Et<strong>no</strong>grafia se articula(ra)m à Arqueologia – os<br />

mitos geogônicos e teogônicos, uma vez garimpa<strong>do</strong>s os seus resíduos<br />

poéticos, areja<strong>do</strong>s os seus conteú<strong>do</strong>s lendários, removi<strong>do</strong>s os entulhos<br />

de sua longa memória, contariam a História Geográfica <strong>do</strong> Império, a<br />

4<br />

Idem, p.458.<br />

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