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Sexualidade e desenvolvimento: a política brasileira de ... - Abia

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60 • <strong>Sexualida<strong>de</strong></strong> e <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong>: a política <strong>brasileira</strong> <strong>de</strong> resposta ao HIV/AIDS entre profissionais do sexo<br />

Uma das gestoras entrevistadas mencionou ter ouvido <strong>de</strong> uma pessoa (um homem) que<br />

ocupava um alto nível <strong>de</strong>cisório do SUS que ele “não ia gastar dinheiro comprando testes<br />

<strong>de</strong> HIV/AIDS para drogados e putas!”.<br />

4.4.2 Quem é responsável pela prevenção em HIV/AIDS?<br />

Um avanço importante da resposta <strong>brasileira</strong> ao HIV/AIDS, observado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os<br />

anos 1990, foi a crescente participação <strong>de</strong> pessoas diretamente envolvidas ou afetadas<br />

pela epi<strong>de</strong>mia na elaboração <strong>de</strong> normas e programas <strong>de</strong> prevenção e promoção da<br />

saú<strong>de</strong>. Essa nova orientação se baseou na compreensão <strong>de</strong> que, assim proce<strong>de</strong>ndo, o<br />

sistema público <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> estaria garantindo que as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sses grupos fossem<br />

a<strong>de</strong>quadamente contempladas, pois o novo formato facilitaria a i<strong>de</strong>ntificação das<br />

circunstâncias <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> e a adoção mais consistente <strong>de</strong> iniciativas para a<br />

promoção <strong>de</strong> direitos e da saú<strong>de</strong>.<br />

Quanto às ações <strong>de</strong> prevenção do HIV/AIDS, a gran<strong>de</strong> maioria dos serviços <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> no Brasil e, particularmente, os serviços investigados se limitam a distribuir insumos<br />

como camisinhas masculinas (<strong>de</strong> forma mais abrangente) e femininas (em unida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> específicas). As intervenções educacionais afirmativas e o apoio social para<br />

sustentar o comportamento mais seguro entre os segmentos populacionais sob maior<br />

vulnerabilida<strong>de</strong>, como profissionais do sexo, são aspectos consi<strong>de</strong>rados inatingíveis pelo<br />

setor público <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, pois as equipes <strong>de</strong> DST/AIDS não fazem ações educativas<br />

fora das unida<strong>de</strong>s e busca-ativa. As ações <strong>de</strong> prevenção são concebidas para serem<br />

<strong>de</strong>senvolvidas pelas organizações da socieda<strong>de</strong> civil que têm maior proximida<strong>de</strong> com<br />

essas populações. Contudo, como foi observado, atualmente as ONGs estão recebendo<br />

pouquíssimos recursos dos governos fe<strong>de</strong>ral, estadual e municipal para implementar<br />

projetos <strong>de</strong> prevenção. Ou pelo menos isso é o que se observa nos estados do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro e Rio Gran<strong>de</strong> do Sul.<br />

Por outro lado, os resultados da pesquisa mostram também que, hoje em dia, ao menos<br />

nas duas cida<strong>de</strong>s estudadas, as estratégias <strong>de</strong> prevenção do HIV/AIDS e promoção da saú<strong>de</strong><br />

acontecem a partir das <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> grupos organizados. Não <strong>de</strong>correm <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong><br />

planejamento <strong>de</strong> políticas e programas, eventualmente baseados em evidências científicas<br />

e epi<strong>de</strong>miológicas. Em outras palavras, se um grupo da socieda<strong>de</strong> civil tem competência<br />

para se organizar e cobrar ações das secretarias <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, as iniciativas <strong>de</strong> prevenção<br />

provavelmente acontecerão, inclusive com distribuição <strong>de</strong> camisinhas e sensibilização <strong>de</strong><br />

profissionais. Mas, se os grupos não se mobilizam ou não têm capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança,<br />

po<strong>de</strong> ser que nada aconteça. Isto sugere que os sistemas <strong>de</strong> gestão municipal da resposta<br />

ao HIV/AIDS vêm se distanciando das realida<strong>de</strong>s epi<strong>de</strong>miológicas, o que parece estar<br />

causando dissonância entre as ações planejadas e as reais necessida<strong>de</strong>s.

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