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Sexualidade e desenvolvimento: a política brasileira de ... - Abia

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Achados da pesquisa 59 •<br />

A observação empírica realizada indicou que o cenário <strong>de</strong> <strong>de</strong>sorganização da re<strong>de</strong><br />

pública <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> – mais ou menos acentuado em Porto Alegre e no Rio <strong>de</strong> Janeiro – é<br />

mais relevante do que a suspensão dos recursos da USAID, como explicação para o fato<br />

<strong>de</strong> que as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> prostitutas e trabalhadoras sexuais, <strong>de</strong> modo geral, não estão<br />

sendo respondidas pelos programas <strong>de</strong> prevenção e pelo atendimento público à saú<strong>de</strong>.<br />

Como já mencionado, a maioria das trabalhadoras sexuais entrevistadas busca<br />

respostas para suas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> no setor privado (seguros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ou médicos/<br />

as particulares) ou tem suas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> prevenção do HIV e exames <strong>de</strong> rotina para<br />

controle da saú<strong>de</strong> sexual providos por seus/suas empregadores/as. De fato, um dos<br />

achados mais interessantes e preocupantes do estudo <strong>de</strong> caso é que no Brasil, hoje, uma<br />

política pública <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> cujos discursos e diretrizes são muito progressistas no que diz<br />

respeito à atenção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> para pessoas envolvidas com trabalho sexual, coexiste como<br />

formas flagrantes <strong>de</strong> regulamentarismo, bastante similares ao mo<strong>de</strong>lo francês do século<br />

19, que é implementado pelos grupos privados envolvidos com o mercado do sexo.<br />

Nossa mostra foi muito pequena, mas é razoável supor que esse padrão, ou mo<strong>de</strong>lo,<br />

é bastante frequente na indústria <strong>brasileira</strong> do sexo. Este aspecto certamente merece<br />

investigações mais aprofundadas.<br />

4.4.1.1 Estigma, discriminação e preconceito<br />

O material empírico coletado e as observações realizadas informam que, a <strong>de</strong>speito<br />

<strong>de</strong> mais <strong>de</strong> vinte anos <strong>de</strong> formulação <strong>de</strong> políticas e produção <strong>de</strong> um discurso oficial<br />

não discriminatório acerca da prostituição, gestores/as e profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> estão<br />

pouco preparados/as para lidar com a complexida<strong>de</strong> cultural do trabalho sexual e com<br />

as experiências das pessoas nele envolvidas.<br />

Mesmo quando não percebido, reconhecido ou a<strong>de</strong>quadamente elaborado, ainda<br />

prevalecem no SUS traços fortes <strong>de</strong> preconceito e estigma contra mulheres prostitutas<br />

e <strong>de</strong>mais profissionais do sexo. Esse vieses po<strong>de</strong>m ser explicados pela dificulda<strong>de</strong><br />

estrutural em lidar com a diferença ou “o outro”, e pela tendência <strong>de</strong> atribuir à pessoa<br />

discriminada a responsabilida<strong>de</strong> pelos padrões existentes <strong>de</strong> discriminação. Quando<br />

perguntados/as se foram preconceituosos/as no atendimento a trabalhadoras do sexo,<br />

a maioria consi<strong>de</strong>rou que não pratica atitu<strong>de</strong>s discriminatórias. Mas foram unânimes<br />

em afirmar que existe muito preconceito e discriminação no sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, em<br />

relação ao HIV/AIDS e prostituição. Também foram recorrentes discursos segundo<br />

os quais a responsabilida<strong>de</strong> pela discriminação é das/os profissionais do sexo. Vários/<br />

as gestores/as e profissionais falaram <strong>de</strong> estigma internalizado, referindo-se, conforme<br />

suas próprias palavras, ao problema do “autopreconceito” e da “autoexclusão”. Os sinais<br />

<strong>de</strong> preconceito, discriminação e estigma não estão presentes apenas nos serviços <strong>de</strong><br />

atendimento. São também palpáveis na esfera da gestão e planejamento <strong>de</strong> políticas.

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