Sexualidade e desenvolvimento: a política brasileira de ... - Abia

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SUMÁRIO EXECUTIVO O estudo teve como objetivos específicos explorar e analisar consistências e incongruências entre as diretrizes da política oficial brasileira, de um lado, e de outro a implementação de programas de prevenção e atenção à saúde de mulheres profissionais do sexo no que se refere ao HIV/AIDS. As análises de dados e os principais achados da pesquisa discutidos neste relatório estão organizados em cinco eixos: 1) As políticas e programas de prevenção do trinômio DST/HIV/AIDS para profissionais do sexo desenvolvidos durante as duas últimas décadas. 2) A legitimidade política de atores-chave da sociedade civil engajados no comércio sexual, o impacto da epidemia em pessoas envolvidas com essa atividade, e a emergência de novas agendas no cenário das políticas públicas. 3) Os efeitos das pressões políticas exercidas por esses atores sobre o estado brasileiro desde o início da pandemia, e consequentes ajustes das políticas públicas de saúde às demandas e necessidades específicas de profissionais do sexo. 4) A experiência e a percepção de trabalhadoras sexuais sobre os serviços públicos de saúde e as iniciativas de prevenção do HIV. 5) As percepções de gestores/as e profissionais de saúde pública sobre a prevenção do HIV entre profissionais do sexo e estado da arte das discussões sobre esta questão no âmbito do Sistema Único de Saúde. A partir desses eixos, as principais conclusões do estudo são as seguintes: a) As políticas brasileiras de prevenção do trinômio DST/HIV/AIDS direcionadas a profissionais do sexo e adotadas a partir do final da década de 1980 tiveram um impacto positivo e bastante significativo no sentido de abrir espaços para a participação cidadã das prostitutas, dar maior visibilidade a suas experiências, promover seus direitos humanos e contribuir para a superação do estigma e da discriminação que pesa sobre o trabalho sexual.

6 • Sexualidade e desenvolvimento: a política brasileira de resposta ao HIV/AIDS entre profissionais do sexo b) Sobre a interrupção do financiamento da USAID em 2005, as pessoas entrevistadas se mostraram francamente favoráveis à decisão do governo brasileiro de suspender o acordo. Muitas sublinharam seu apoio à primazia da soberania nacional sobre imposições de outro país que sejam contrárias aos princípios de direitos humanos e à legislação vigente no Brasil. Entretanto, é preciso dizer que a maior parte dessas pessoas não dispunha de informação e clareza suficiente sobre os problemas causados pela interrupção do financiamento. c) A observação dos serviços realizada por esta pesquisa não foi exaustiva, mas mostrou que tanto em Porto Alegre quanto no Rio de Janeiro permanece muito limitada e precária a resposta da saúde pública às necessidades de profissionais do sexo em termos de prevenção e assistência médica. Quando perguntados/ as sobre o escopo e a qualidade dos serviços oferecidos a prostitutas, gestores/ as de saúde disseram que, em geral, estão restritos à promoção da saúde. d) Preconceito, estigma e discriminação foram temas recorrentes nas entrevistas com profissionais de saúde em Porto Alegre e no Rio de Janeiro. Embora gestores/as e profissionais de saúde entrevistados/as demonstrassem grande sensibilidade para as questões de estigma, preconceito e discriminação, muitos vieses persistem no tratamento recebido por profissionais do sexo nos serviços de saúde. e) Um tema constante nas entrevistas foi a tensão entre universalidade do SUS versus tratamento diferenciado para grupos específicos. Vários/as gestoras/es e profissionais de saúde entrevistados/as também avaliaram que a política de HIV/AIDS vem perdendo vigor. f) Finalmente, em relação aos impactos da interrupção do financiamento da USAID em 2005, é preciso considerar que a suspensão dos fundos não afetou diretamente os orçamentos públicos para o programa de HIV/AIDS, mas afetou a sustentabilidade de ONGs dedicadas a projetos de prevenção. Mesmo que gestores/as públicos/as do programa não tenham mencionado essa questão, na comunidade das ONGs que atuam em AIDS o episódio teve efeitos negativos. Algumas citações extraídas das entrevistas com profissionais do sexo em Porto Alegre e no Rio de Janeiro ilustram questões relacionadas aos serviços de saúde: “Eu sempre doei sangue... mas, da última vez que fui, a enfermeira chefe de lá começou a me perguntar sobre a minha vida sexual, e aí eu terminei dizendo que era garota de programa e ela me disse: ‘Aí então não! não pode doar...’” (Prostituta de rua de Porto Alegre).

SUMÁRIO EXECUTIVO<br />

O estudo teve como objetivos específicos explorar e analisar consistências e<br />

incongruências entre as diretrizes da política oficial <strong>brasileira</strong>, <strong>de</strong> um lado, e <strong>de</strong><br />

outro a implementação <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> prevenção e atenção à saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> mulheres<br />

profissionais do sexo no que se refere ao HIV/AIDS. As análises <strong>de</strong> dados e os<br />

principais achados da pesquisa discutidos neste relatório estão organizados em<br />

cinco eixos:<br />

1) As políticas e programas <strong>de</strong> prevenção do trinômio DST/HIV/AIDS para<br />

profissionais do sexo <strong>de</strong>senvolvidos durante as duas últimas décadas.<br />

2) A legitimida<strong>de</strong> política <strong>de</strong> atores-chave da socieda<strong>de</strong> civil engajados no<br />

comércio sexual, o impacto da epi<strong>de</strong>mia em pessoas envolvidas com essa<br />

ativida<strong>de</strong>, e a emergência <strong>de</strong> novas agendas no cenário das políticas públicas.<br />

3) Os efeitos das pressões políticas exercidas por esses atores sobre o estado<br />

brasileiro <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da pan<strong>de</strong>mia, e consequentes ajustes das políticas<br />

públicas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> às <strong>de</strong>mandas e necessida<strong>de</strong>s específicas <strong>de</strong> profissionais do<br />

sexo.<br />

4) A experiência e a percepção <strong>de</strong> trabalhadoras sexuais sobre os serviços públicos<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e as iniciativas <strong>de</strong> prevenção do HIV.<br />

5) As percepções <strong>de</strong> gestores/as e profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública sobre a prevenção<br />

do HIV entre profissionais do sexo e estado da arte das discussões sobre esta<br />

questão no âmbito do Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />

A partir <strong>de</strong>sses eixos, as principais conclusões do estudo são as seguintes:<br />

a) As políticas <strong>brasileira</strong>s <strong>de</strong> prevenção do trinômio DST/HIV/AIDS direcionadas<br />

a profissionais do sexo e adotadas a partir do final da década <strong>de</strong> 1980 tiveram<br />

um impacto positivo e bastante significativo no sentido <strong>de</strong> abrir espaços para<br />

a participação cidadã das prostitutas, dar maior visibilida<strong>de</strong> a suas experiências,<br />

promover seus direitos humanos e contribuir para a superação do estigma e da<br />

discriminação que pesa sobre o trabalho sexual.

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