Sexualidade e desenvolvimento: a polÃtica brasileira de ... - Abia
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Achados da pesquisa 57 •<br />
tiveram, no caso <strong>de</strong> profissionais do sexo, num sentido amplo, efeitos palpáveis <strong>de</strong><br />
conscientização sobre riscos do HIV, sobre o uso do preservativo e, indiretamente, sobre<br />
a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cuidados sistemáticos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> sexual e <strong>de</strong> tratamento para HIV/AIDS.<br />
Essas são as dimensões expressivas (ou seja, mais propriamente i<strong>de</strong>ológicas) da resposta<br />
<strong>brasileira</strong> ao HIV/AIDS entre profissionais do sexo . Mas o estudo indica que há um<br />
enorme hiato entre essa qualida<strong>de</strong> expressiva e positiva da política <strong>brasileira</strong> e sua efetiva<br />
implementação no nível local. Este hiato é especialmente flagrante quando se trata do<br />
acesso aos serviços e sua qualida<strong>de</strong>, no caso da prevenção, e cuidados com a saú<strong>de</strong> sexual.<br />
Este hiato <strong>de</strong>corre <strong>de</strong> múltiplos fatores e, sem dúvida, um <strong>de</strong>les é o processo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>scentralização do SUS, com seus efeitos sobre a implementação da política nacional <strong>de</strong><br />
HIV/AIDS 42 . Vale ressaltar que a lacuna entre as políticas e a realida<strong>de</strong> dos serviços em<br />
<strong>de</strong>corrência do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização afeta o conjunto da população usuária do SUS.<br />
No caso <strong>de</strong> pacientes <strong>de</strong> AIDS e <strong>de</strong> pessoas que buscam informação e meios <strong>de</strong> prevenção,<br />
isso significa: <strong>de</strong>mora no atendimento e na <strong>de</strong>volução <strong>de</strong> resultados <strong>de</strong> testes anti-HIV;<br />
falta <strong>de</strong> pessoal médico, <strong>de</strong> exames <strong>de</strong> carga viral e genotipagem, <strong>de</strong> acompanhamento<br />
a<strong>de</strong>quado para prevenção <strong>de</strong> doenças oportunistas, <strong>de</strong> exames complementares para coinfecções<br />
como tuberculose, hepatites e outras DST; instalações precárias. Quando se<br />
trata das profissionais do sexo, essas lacunas são agravadas pelo alto grau <strong>de</strong> discriminação<br />
que sofrem, por parte da população como um todo e também dos/as profissionais <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong>, e pela inexistência <strong>de</strong> atendimento mais qualificado para este segmento.<br />
No período analisado, foram adotadas, no plano fe<strong>de</strong>ral, políticas <strong>de</strong> promoção<br />
e proteção, programas específicos e planos para ações diferenciadas, tais como: o<br />
Documento Referencial; ações <strong>de</strong> prevenção das DST e da AIDS para profissionais do<br />
sexo (2002); o Plano <strong>de</strong> Combate à Feminização da Epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> HIV/AIDS (2007);<br />
e o Plano Nacional <strong>de</strong> Enfrentamento da Epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> AIDS e DSTs entre Gays,<br />
HSH e Travestis, (2008). Entretanto, há uma distância flagrante entre metas e intenções<br />
explicitadas nesses documentos e sua efetiva implementação nos planos locais estudados.<br />
As entrevistas realizadas revelam ainda que os atores-chave (inclusive as próprias<br />
prostitutas), na maioria das vezes, não consi<strong>de</strong>ram a<strong>de</strong>quada nem necessária a existência<br />
<strong>de</strong> serviços, programas ou metodologias diferenciadas para este grupo. Alguns/algumas<br />
profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e gestores/as questionam a homogeneida<strong>de</strong> da categoria profissionais<br />
do sexo apontando, sobretudo, questões <strong>de</strong> classe. Outros mencionam aspectos adicionais,<br />
relativos aos diferenciais <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> que caracterizam a experiência <strong>de</strong>sse grupo<br />
populacional. Há gestores/as e profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> acreditando que a questão não<br />
resi<strong>de</strong> em ser ou não profissional do sexo, mas sim no uso que a pessoa faz <strong>de</strong> seu corpo.<br />
42<br />
Alexandre Grangeiro, apresentação “Acesso a serviços: novas estratégias para antigos problemas?”, no seminário:<br />
Respostas frente à AIDS no Brasil: aprimorando o <strong>de</strong>bate II. Associação Brasileira Interdisciplinar <strong>de</strong> AIDS. Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro, 18 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2009.