14.11.2014 Views

Sexualidade e desenvolvimento: a política brasileira de ... - Abia

Sexualidade e desenvolvimento: a política brasileira de ... - Abia

Sexualidade e desenvolvimento: a política brasileira de ... - Abia

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Achados da pesquisa 39 •<br />

serviços públicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, apenas quatro mulheres chegaram a <strong>de</strong>clarar que foram<br />

explicitamente discriminadas em clínicas públicas ou hospitais (três em Porto Alegre e<br />

uma no Rio <strong>de</strong> Janeiro). Duas das mulheres <strong>de</strong> Porto Alegre relataram experiências <strong>de</strong><br />

discriminação numa circunstância bastante específica: quando foram doar sangue em<br />

hemocentros da re<strong>de</strong> pública. Ao respon<strong>de</strong>rem o questionário prévio, informaram que<br />

eram garotas <strong>de</strong> programa e foram automaticamente excluídas, uma exclusão que não<br />

se <strong>de</strong>u por preconceito do/a profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que as atendia, mas em cumprimento<br />

ao protocolo oficial que <strong>de</strong>fine regras <strong>de</strong> triagem <strong>de</strong> doadores e doadoras <strong>de</strong> sangue.<br />

Este protocolo exclui não apenas profissionais do sexo, mas homens que fazem sexo<br />

com homens, pessoas tatuadas, pessoas que usaram drogas (especialmente injetáveis),<br />

entre outras regras que seguem vigentes, embora, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> alguns anos, o Grupo Gay da<br />

Bahía e outras ONGs do movimento gay tenham provocado um <strong>de</strong>bate sobre o caráter<br />

discriminatório <strong>de</strong>ste protocolo.<br />

Duas mulheres, uma na capital gaúcha e outra na capital fluminense, mencionaram<br />

uma flagrante mudança <strong>de</strong> comportamento <strong>de</strong> médicos/as quando receberam a<br />

informação <strong>de</strong> que elas eram prostitutas. Uma das entrevistadas relatou o caso do médico<br />

que a olhou <strong>de</strong> maneira estranha, tomou distância e ficou visivelmente constrangido.<br />

Outro relato diz respeito a um médico que reagiu falando muito e, ao final da consulta,<br />

tentou beijar a cliente. Uma quinta entrevistada, <strong>de</strong> Porto Alegre, mencionou que, ao<br />

preencher a ficha no Hospital Getúlio Vargas, para on<strong>de</strong> foi encaminhada pelo NEP,<br />

informou que sua profissão era garota <strong>de</strong> programa. A funcionária do guichê <strong>de</strong>volveu<br />

a ficha, dizendo que trocasse a ocupação.<br />

Mesmo em pequeno número, essas experiências explicam por que muitas<br />

profissionais do sexo, ao buscar serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> – públicos ou privados –, preferem<br />

escon<strong>de</strong>r a profissão. A maior parte das entrevistadas nunca revela sua verda<strong>de</strong>ira<br />

ocupação a profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, exceto quando o médico é um “bom amigo”. Em<br />

geral, inventam estratégias para não se exporem e para evitarem o preconceito. Uma<br />

<strong>de</strong>ssas estratégias é a <strong>de</strong> alegar outras profissões, como cabeleireira ou crecheira. Muitas<br />

prostitutas preferem buscar serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> “não especializados” (em HIV/AIDS por<br />

exemplo), exatamente para evitar a discriminação. Em Porto Alegre, uma jovem oriunda<br />

do interior do estado afirmou que, mesmo existindo um serviço especializado para<br />

aten<strong>de</strong>r trabalhadoras sexuais, ela o evitaria, pois, ao ser atendida, as pessoas presentes<br />

saberiam que ela era uma prostituta.<br />

Isto não significa que todas as mulheres envolvidas com sexo comercial silenciem<br />

sobre a profissão. Ao contrário, muitas assumem <strong>de</strong>safiar a discriminação confrontandose<br />

e expondo-se abertamente. Em Porto Alegre, as prostitutas “militantes” buscam<br />

constantemente persuadir suas colegas da importância <strong>de</strong> “se assumir”, especialmente<br />

para po<strong>de</strong>r garantir um bom atendimento nos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. No Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

uma prostituta já na terceira ida<strong>de</strong>, que trabalha na Praça Mauá, disse que sempre reage

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!