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Sexualidade e desenvolvimento: a política brasileira de ... - Abia

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Achados da pesquisa 33 •<br />

<strong>de</strong> 18 anos) e se autoi<strong>de</strong>ntificaram como prostitutas ou garotas <strong>de</strong> programa. Sua<br />

inclusão como sujeitos <strong>de</strong> pesquisa foi voluntária e não implicou pagamento, seja para<br />

elas ou para as pessoas que colaboraram no recrutamento 30 .<br />

Modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> prostituição e violações <strong>de</strong> direitos<br />

Coor<strong>de</strong>nado pela ONG DAVIDA, o projeto <strong>de</strong> pesquisa Direitos Humanos e Prostituição foi realizado<br />

em 2007, com mulheres prostitutas do Rio <strong>de</strong> Janeiro e com associadas da Re<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong><br />

Prostitutas. Os resultados foram publicados pela ONG DAVIDA em 2010 31 . O relatório final classifica<br />

a multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressões da prostituição feminina em três gran<strong>de</strong>s modalida<strong>de</strong>s: prostituição<br />

<strong>de</strong> rua, prostituição em saunas e prostituição confinada. O estudo também analisa a correlação entre<br />

as condições (ou formas) <strong>de</strong> prostituição e abusos <strong>de</strong> direitos humanos.<br />

No caso da prostituição <strong>de</strong> rua, a pesquisa i<strong>de</strong>ntificou como abusos mais frequentes: calote <strong>de</strong><br />

clientes, falta <strong>de</strong> reconhecimento da prostituição como ocupação (por parte <strong>de</strong> policiais e outras<br />

autorida<strong>de</strong>s), agressão física em lugares pouco seguros, recusa masculina ao uso do preservativo,<br />

cobrança <strong>de</strong> porcentagem por intermediários e violação do direito <strong>de</strong> ir e vir (especialmente por<br />

parte da polícia).<br />

No caso das termas, são listados como abusos: o endividamento que <strong>de</strong>corre do controle que os<br />

donos têm sobre os rendimentos das prostitutas, as multas, os mecanismos <strong>de</strong> cobrança por serviços<br />

e a redução do tempo do programa para maximizar lucros.<br />

Finalmente, no caso da prostituição confinada, a investigação encontrou evidências <strong>de</strong> coerção e<br />

violência muito mais sérias, tais como: <strong>de</strong>tenção arbitrária por endividamento, coerção ao uso <strong>de</strong><br />

drogas e falta <strong>de</strong> condições físicas, espaciais e higiênicas a<strong>de</strong>quadas para o trabalho sexual e para<br />

os períodos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso. O confinamento po<strong>de</strong> resultar em perda <strong>de</strong> noção <strong>de</strong> tempo e ausência<br />

completa <strong>de</strong> acesso a serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, inclusive serviços <strong>de</strong> emergência.<br />

No Rio <strong>de</strong> Janeiro, um exemplo que ilustra bem a classificação <strong>de</strong>senvolvida pelo<br />

DAVIDA é a Vila Mimosa II, zona <strong>de</strong> prostituição da região central da cida<strong>de</strong> que é um<br />

dos maiores espaços <strong>de</strong> prostituição confinada no Brasil urbano. Segundo diversos/as<br />

informantes, a Vila Mimosa é dirigida por uma associação que reúne proprietários/as<br />

<strong>de</strong> estabelecimentos e cafetões/cafetinas. Há muitas narrativas <strong>de</strong> violência sistemática e<br />

abuso <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r por parte <strong>de</strong>sses/as agentes, inclusive abandono <strong>de</strong> mulheres com doença<br />

terminal e espancamento <strong>de</strong> clientes e prostitutas. Paradoxalmente, esta associação é<br />

hoje local <strong>de</strong> um projeto dos “pontos <strong>de</strong> cultura”, apoiado pelo Ministério da Cultura,<br />

sendo também financiada por diversas organizações públicas <strong>de</strong> promoção da saú<strong>de</strong> e<br />

dos direitos das mulheres (Simões, 2003) 32 .<br />

30<br />

Maria (nome <strong>de</strong> trabalho), do Grupo DAVIDA, colaborou na i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> mulheres entrevistadas na Praça<br />

Mauá e na Praça Tira<strong>de</strong>ntes. Josias <strong>de</strong> Freitas fez os contatos preliminares que possibilitaram as entrevistas na<br />

“sauna” do centro da cida<strong>de</strong>.<br />

31<br />

DAVIDA. Direitos Humanos e Prostituição Feminina. Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2010.<br />

32<br />

SIMÕES, S. Vila Mimosa II: a construção do novo conceito <strong>de</strong> “zona. Dissertação <strong>de</strong> Mestrado. Programa <strong>de</strong> Pós-<br />

Graduação em Antropologia e Ciência Política, UFF. Niterói, 2003.

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