Sexualidade e desenvolvimento: a polÃtica brasileira de ... - Abia
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Análise <strong>de</strong> contexto 21 •<br />
É importante ressaltar ainda que, no início dos anos 2000, os programas <strong>de</strong> prevenção<br />
do HIV/AIDS <strong>de</strong>stinados a profissionais do sexo eram financiados tanto pelo Programa<br />
Nacional <strong>de</strong> DST/AIDS quanto pelo acordo <strong>de</strong> cooperação Brasil-USAID, através do<br />
projeto AIDSCAP. Em 2005, o Projeto Esquina da Noite estava em andamento, quando<br />
a USAID <strong>de</strong>cidiu adicionar novas cláusulas contratuais ao convênio já assinado com<br />
o Brasil. Entre estas, a “cláusula anti-prostituição”, adicionada ao PEPFAR em 2004,<br />
exigindo das organizações que recebem recursos da cooperação norteamericana para<br />
projetos <strong>de</strong> prevenção do HIV a assinatura <strong>de</strong> um compromisso formal, con<strong>de</strong>nando a<br />
prostituição e comprometendo-se a não apoiar a legalização <strong>de</strong> trabalhos sexuais ou os<br />
direitos <strong>de</strong> profissionais do sexo (Girard, 2004) 13 .<br />
A cláusula americana está em contradição com a legislação <strong>brasileira</strong>, que não<br />
criminaliza a prostituição, ou seja, as pessoas que se prostituem; e também difere<br />
radicalmente dos princípios em que se baseia o Programa Nacional <strong>de</strong> DST/AIDS do<br />
Ministério da Saú<strong>de</strong>. Esta cláusula está, sobretudo, em confronto aberto com posições<br />
históricas do movimento <strong>de</strong> prostitutas.<br />
O governo brasileiro não aceitou as restrições impostas pela USAID. O então<br />
diretor do Programa Nacional <strong>de</strong> DST/AIDS 14 convocou uma reunião extraordinária<br />
da Comissão Nacional <strong>de</strong> AIDS para discutir a matéria. A Comissão <strong>de</strong>u apoio unânime à<br />
<strong>de</strong>cisão do Programa Nacional <strong>de</strong> recusar qualquer financiamento que estivesse associado<br />
à cláusula imposta pela USAID. Consequentemente, a USAID <strong>de</strong>cidiu interromper<br />
o financiamento <strong>de</strong> projetos brasileiros na área <strong>de</strong> prevenção do HIV/AIDS, o que<br />
produziu forte tensão entre a AIDSCAP e grupos que tinham recebido recursos para<br />
implementar ativida<strong>de</strong>s junto a profissionais do sexo e HSH. Entretanto, a <strong>de</strong>speito das<br />
tensões e das muitas pressões vindas <strong>de</strong> Washington, a AIDSCAP finalmente <strong>de</strong>cidiu<br />
que os projetos que estavam em andamento receberiam a totalida<strong>de</strong> dos recursos orçamentários<br />
previstos e seriam autorizados a concluir suas ativida<strong>de</strong>s até o final <strong>de</strong> 2005.<br />
A ruptura com a USAID-PEPFAR<br />
Em 2005, o governo brasileiro recusou 40 milhões <strong>de</strong> dólares doados pela USAID/PEPFAR porque as<br />
pré-condições estipulavam que os fundos só po<strong>de</strong>riam ser <strong>de</strong>stinados a organizações que tivessem<br />
uma política explícita anti-prostituição. Na ocasião, o diretor do Programa Nacional <strong>de</strong> DST/AIDS<br />
explicou: “O Brasil tomou a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> preservar sua autonomia em assuntos relacionados a HIV/AIDS,<br />
bem como os princípios éticos e <strong>de</strong> direitos humanos”. O governo brasileiro e várias organizações<br />
acreditavam firmemente que acatar as condições do governo norteamericano significaria criar uma<br />
barreira para o trabalho <strong>de</strong> prevenção do HIV junto a profissionais do sexo e sua clientela (http://<br />
www.avert.org/pepfar.htm). A ação do governo brasileiro po<strong>de</strong> ser interpretada como uma <strong>de</strong>cisão<br />
radical, motivada pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preservar abertura em relação à sexualida<strong>de</strong> nos programas<br />
<strong>de</strong> HIV e AIDS, <strong>de</strong> modo a garantir a efetivida<strong>de</strong> das ações <strong>de</strong> prevenção.<br />
13<br />
GIRARD, F. (2004). Global Implications of U.S Domestic and International Policies on Sexuality, Sexuality Policy<br />
Watch. Disponível em: .<br />
14<br />
Naquele momento, Dr. Pedro Chequer.