Sexualidade e desenvolvimento: a polÃtica brasileira de ... - Abia
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<strong>Sexualida<strong>de</strong></strong> e <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong>: a política <strong>brasileira</strong> <strong>de</strong> resposta ao HIV/AIDS entre profissionais do sexo<br />
18 •<br />
e controvérsias que emergiram em diálogos sobre HIV/AIDS e prostituição, travados<br />
entre estado e socieda<strong>de</strong> civil. São tensões que po<strong>de</strong>m, eventualmente, ser interpretadas<br />
como consequência <strong>de</strong>ste novo cenário das políticas públicas 12 .<br />
3.2.2 A construção da resposta <strong>brasileira</strong> ao HIV/AIDS entre profissionais do<br />
sexo (1989-2007)<br />
No Brasil, a coincidência histórica entre o processo <strong>de</strong> re<strong>de</strong>mocratização e o<br />
início da epi<strong>de</strong>mia do HIV/AIDS favoreceu a comunicação entre atores da socieda<strong>de</strong><br />
civil engajados na construção <strong>de</strong> uma resposta e o Ministério da Saú<strong>de</strong>. Com o passar<br />
do tempo, esses diálogos iniciais se consolidaram em uma parceria permanente para<br />
<strong>de</strong>senvolver e implementar os programas <strong>de</strong> prevenção do HIV/AIDS. No final dos<br />
anos 1980, quando o Programa Nacional <strong>de</strong> DST/AIDS já estava estabelecido, a rápida<br />
expansão <strong>de</strong> infecções por HIV e da pressão <strong>de</strong> grupos organizados fizeram com que<br />
o Programa Nacional <strong>de</strong>senvolvesse projetos específicos <strong>de</strong> prevenção do HIV/AIDS<br />
para trabalhadoras sexuais. Ativistas da socieda<strong>de</strong> civil receberam convites para participar<br />
da concepção <strong>de</strong>ssas iniciativas. Neste grupo, estavam: Gabriela Leite, do movimento<br />
das prostitutas; Roberto Chateaubriand, do Grupo <strong>de</strong> Apoio à Prevenção da AIDS<br />
(GAPA) <strong>de</strong> Minas Gerais; Lour<strong>de</strong>s Barreto, da Associação <strong>de</strong> Prostitutas <strong>de</strong> Belém do<br />
Pará; Laura Celeste, do GAPA <strong>de</strong> São Paulo; além <strong>de</strong> pesquisadores/as, consultores/as<br />
e especialistas em sexualida<strong>de</strong>.<br />
Os programas elaborados por esses grupos em parceria com o Programa Nacional<br />
<strong>de</strong> DST/AIDS foram implementados a partir <strong>de</strong> 1989, sob o guarda-chuva do Projeto<br />
Previna. As ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> foram direcionadas a grupos específicos: profissionais do sexo,<br />
homossexuais masculinos, usuários/as <strong>de</strong> drogas e pessoas cumprindo pena <strong>de</strong> reclusão<br />
(presidiários/as). A metodologia adotada foi sobretudo baseada na “educação entre pares”.<br />
No caso específico das/os profissionais do sexo, foi feita uma seleção e um grupo foi<br />
capacitado para atuar como “agente <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>” ou multiplicador. Este grupo recebia a<br />
tarefa <strong>de</strong> contatar outras prostitutas para transmitir informações e materiais <strong>de</strong> prevenção.<br />
Esperava-se, assim, formar uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> informações sobre prevenção<br />
do HIV <strong>de</strong> prostitutas educadoras/agentes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, para prostitutas; <strong>de</strong> prostitutas para<br />
parceiros sexuais e clientes e, eventualmente, para a população <strong>de</strong> modo geral. O <strong>de</strong>senho<br />
do programa foi baseado em um mo<strong>de</strong>lo epi<strong>de</strong>miológico que visava obter impacto sobre<br />
“vetores <strong>de</strong> transmissão”, como estratégia para não somente multiplicar a transmissão <strong>de</strong><br />
informação qualificada sobre a epi<strong>de</strong>mia, mas também conter as taxas <strong>de</strong> infecção.<br />
12<br />
É importante dizer que só foi possível <strong>de</strong>tectar a extensão e relevância dos efeitos da política anti-tráfico no campo<br />
da resposta ao HIV entre trabalhadoras do sexo nas etapas finais do estudo, ou seja, durante a segunda rodada <strong>de</strong><br />
entrevistas com ativistas e gestores/as da saú<strong>de</strong>. Para informações mais <strong>de</strong>talhadas sobre essas mudanças e sobre<br />
as tensões correlatas veja Politics of Prostitution in Brazil: Between “state neutrality” and “feminist troubles” (Sonia<br />
Corrêa, no prelo).