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OCULTOS E EXCLUÍDOS - Claudio Di Mauro

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Mantinham-se “contatos interessantes” e “boas amizades”. Quando a diretoria<br />

do tradicional clube passou às mãos de elementos do “outro setor” houve uma<br />

transformação, foram diminuídas as formalidades e o grupo jovem passou a<br />

freqüentá-lo, o que antes não ocorria.<br />

A autora refere-se ao fato da nova diretoria, por exemplo, haver<br />

permitido que os sócios se sentassem no chão em bailes de carnaval, que<br />

tocassem violão no clube à noite e que mudassem as cadeiras de lugar. Aquelas<br />

eram imposições seriamente consideradas.<br />

O quadro social de até meados do século passado fica assim<br />

analisado. “O clube ferroviário é o Grêmio, um clube bem situado, contando<br />

com enorme sede e praça de esportes, inclusive piscinas. De todos os clubes da<br />

cidade é o mais majestoso. Sua arquitetura é cópia melhorada do clube da<br />

classe não tradicional, o Ginástico. Há certa distinção na freqüência: os moços<br />

de classe média e mesmo alta – tradicional ou não – freqüentam os dois clubes.<br />

As moças freqüentam somente o Ginástico e Filarmônica; vão o Grêmio só em<br />

ocasiões especiais, com grupo de amigos, preferencialmente. As moças do<br />

Grêmio freqüentam o Ginástico, porém não a Filarmônica, o mesmo se dando<br />

com os rapazes.”<br />

As distinções entre antigos e novos ricos ganham saliência. Os<br />

representantes tradicionais passam a ser vistos como superados, “só têm<br />

pose”, “só gostam de aparecer”, “fazer cartaz”, dizem os novos, atribuindo aos<br />

tempos democráticos a causa da mudança. “Antigamente, o prestígio era de<br />

família, tradição, mas, se os antepassados eram lá grande coisa, eles tinham<br />

até mesmo gente de cor”. A referência racista revela a qualidade do que seria o<br />

pensamento democrático da época.<br />

O mesmo entrevistado exalta as novidades decorrentes da<br />

modernidade. “Antigamente o povo se submetia a essa gente porque seus<br />

interesses estavam ligados a eles, mas depois que temos eleições, qual o<br />

patrão que vai dizer para votar em Fulano e o empregado vai obedecer? É bem<br />

verdade que há a força do dinheiro, mas é tudo mais democrático”.<br />

No aspecto ético, a classe média passa a expressar um caráter duplo e<br />

contraditório. É moralista ao estabelecer ideais de conduta, mas individualista<br />

no comportamento. Segue a regra do “salve-se quem puder” para justificar o<br />

sucesso conquistado pelo próprio esforço.<br />

Na influência exercida pelos gerentes de banco, Davids busca localizar<br />

aspectos da estrutura do poder do grupo dominante. Ela trata ainda de<br />

corretores, agiotas e endossadores.<br />

“Os gerentes de banco e endossadores são as figuras, por assim dizer,<br />

melhor aceitas, tanto entre os tradicionais como fora de tal grupo. Aliás, vários<br />

gerentes dos bancos locais participam dos círculos tradicionais. Cultivar a

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