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OCULTOS E EXCLUÍDOS - Claudio Di Mauro

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setores dominantes e apadrinhamentos das lideranças populares. A fase se<br />

completa com o golpe de 1964 e a perseguição política promovida pelo regime<br />

militar. Prevalecia o modelo conservador, preservado em suas antigas raízes.<br />

A tese de Neusa Costa inspirou o cineasta rio-clarense Roberto Palmari<br />

quanto ao roteiro de seu segundo filme, o “<strong>Di</strong>ário da Província”, aqui rodado em<br />

1977. Palmari adaptou “Aparência e Realidade”, da socióloga, para o seu<br />

“Mudar para Permanecer”, do filme. No roteiro, o diretor cuidou de ilustrar o<br />

que Costa Davids aponta em sua tese como sendo o eixo do discurso<br />

conservador, mais exatamente a proposta de “mudança”. Ironia ao que parece.<br />

A socióloga, ressalte-se, havia localizado que na quase totalidade das<br />

campanhas eleitorais dos 80 anos anteriores à sua pesquisa a palavra<br />

“mudança” fora tema recorrente. Sem qualquer esforço de memória é possível<br />

resgatar que de lá para cá a situação também não mudou. Até hoje a palavra<br />

de ordem clamando por mudança sustenta os discursos de quem disputa<br />

eleições. Sem demais esforço, igualmente, não há dificuldade em prever que<br />

assim deve continuar.<br />

Se pelo viés político o tradicionalismo prevalece, em aspectos culturais<br />

seu trabalho aponta transformações em meio ao panorama formado por<br />

descendentes da “nobreza esquecida”, da nova “elite endinheirada” e por<br />

segmentos trabalhistas. O quadro remete a algum resgate, motivo deste<br />

registro. É o caso, por exemplo, do pároco, que nos anos 60 mostrava-se<br />

preocupado com o espírito da modernidade. Igual a todos os entrevistados pela<br />

cientista social, ele apresenta seus raciocínios.<br />

“Quando vim para cá havia só uma paróquia. A política ainda era do<br />

tipo a permitir esclarecimentos e desenvolvimento para a população; o povo<br />

acatava os meus conselhos. Fui o centro do desenvolvimento de tudo. E com<br />

isso a cidade foi crescendo. Só não se desenvolveu a Administração.<br />

Paralisaram-se as quatro colunas básicas: energia elétrica, água, esgoto e<br />

estrada. Se houve depois de 30 um surtozinho de progresso é porque Rio Claro<br />

tinha luz elétrica. Mas o povo não evoluiu. Desde o momento em que os bons<br />

rio-clarenses, homens dignos, deixaram o poder, aconteceu o que aí está:<br />

grupos se digladiam; este ambiente de desconfiança, qualquer um se<br />

candidatando, sem a visão que possuíam os antigos e grandes políticos locais”.<br />

Num processo de contradição e identificação, a classe média<br />

emergente adota o comportamento da antiga classe rica, chama para si o papel<br />

de “classe alta” e o desempenha muito bem. Para seus representantes, o tempo<br />

de moradia no município é importante, porém mais importante é a conta<br />

bancária ou o diploma universitário, de preferência médico, advogado ou<br />

engenheiro. Traçado este perfil, segue a autora em detalhes comportamentais.<br />

O “melhor” clube da cidade, a Filarmônica, mantinha todo o<br />

formalismo que a classe média alta tradicional deseja para si mesma.

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