OCULTOS E EXCLUÃDOS - Claudio Di Mauro
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não melhorou com a República, quando a Igreja se viu oficialmente separada do<br />
Estado.<br />
A recepção oferecida aos protestantes, em um país de tradição<br />
católica, não aconteceu sem debates polêmicos e conflitos. No entanto, políticos<br />
liberais e maçons, formados sob influência de um sistema pedagógico iluminista<br />
na Europa, abriram o Brasil a reformas através de um sistema jurídico<br />
tolerante, oferecendo aos protestantes, inclusive, proteção militar, se<br />
necessária.<br />
A Igreja Católica, durante o tempo que esteve submetida à tutela do<br />
Estado, acomodara-se à condição nacional e aos privilégios de religião oficial do<br />
Império: os padres eram funcionários do governo; o dízimo era recebido e<br />
repassado (nem sempre com justeza) pela administração pública e a condição<br />
de católico era exigida para exercício de mandatos eletivos; casamentos eram<br />
reconhecidos apenas se celebrados por padres e os cemitérios eram romanos.<br />
Separada do Estado, a Igreja viu a hora de reagir. No que se refere ao<br />
ensino como instrumento de difusão doutrinária, investiu na formação de<br />
colégios sob a direção de ordens religiosas. A renovação pretendida passaria<br />
necessariamente pela educação das crianças, tendo em vista as futuras<br />
gerações. Algo que vinha sendo feito desde os colégios para meninos e meninas<br />
nas unidades modelo de Itu, em 1850, com os colégios Patrocínio e São Luís.<br />
Em Rio Claro, a criação da escola primária do “Puríssimo Coração de<br />
Maria” foi o primeiro grande impulso nesse sentido, por iniciativa do Monsenhor<br />
Francisco Botti, em 1909. “Em campo de religião a crise é séria” (74). Nestes<br />
termos raciocinava ele vinte anos após a Proclamação da República.<br />
As três primeiras religiosas integradas ao programa chegaram a Rio<br />
Claro no dia 15 de maio, às 15 horas: Madre Juliana, Irmã Emerenciana e a<br />
Postulante Maria Judith, depois Irmã Leonilda. Botti as recepcionou na estação<br />
ferroviária, acompanhado da delegação de senhoras do apostolado. As<br />
professoras instalaram-se provisoriamente na Rua Seis, até a liberação da casa<br />
da Rua Sete. A sede da escola ficou sendo na Praça da Liberdade.<br />
No dia 17 de maio, segundo os arquivos da escola, foi iniciado o<br />
trabalho apostólico. No dia 18 foram abertas as matrículas. A primeira criança<br />
matriculada foi Concheta Leonardo, de 9 anos, e que mais tarde seria<br />
professora auxiliar até 1922. A escola manteve curso gratuito noturno para os<br />
segmentos mais pobres, mas basicamente correspondia à expectativa das elites<br />
que buscavam a qualidade do ensino particular na forma de externato ou<br />
internato. Além de escolas particulares, Rio Claro contava com o primeiro grupo<br />
escolar Coronel “Joaquim Salles”, estadual, já instalado na Rua Sete.<br />
O programa do externato do Puríssimo, conforme as edições de maio e<br />
junho de 1909 do jornal O Alpha, oferecia cursos de um a seis anos de duração,