OCULTOS E EXCLUÃDOS - Claudio Di Mauro
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ficaram sendo incumbência dos estados e municípios. As escolas particulares de<br />
instrução primária estavam sujeitas à fiscalização estadual, e as de instrução<br />
secundária subordinavam-se à fiscalização federal.<br />
A dicotomia entre o ensino superior secundário, a cargo da União, e de<br />
outro lado, os ensinos primários, normal e técnico-profissional, entregues aos<br />
Estados e municípios, oficializou a separação entre o sistema de formação das<br />
elites (federal) e o de educação popular (estadual), inviabilizando ação<br />
harmônica pela falta de entrosamento dos sistemas estaduais com o federal.<br />
Pela frente viriam 40 anos de distinção por decorrência de uma sociedade<br />
dualista, separada entre aristocracia e povo. (67)<br />
Na cena política da República o que se viu foi a instalação no poder<br />
das oligarquias do café, que acabaram se compondo com as velhas oligarquias<br />
do Império. O universo de mudança na sociedade parou por aí, com marcada<br />
resistência da nova elite, agora no governo, contra quaisquer alterações<br />
internas que lhe comprometessem o poder conquistado.<br />
No ensino, isto significou a manutenção do esquema antigo, motivo<br />
pelo qual a renovação cultural das elites não se verificou. A postura do<br />
comando político foi de conservar a educação literária e humanística que pela<br />
tradição vinha desde o modelo jesuíta.<br />
Sobre este aspecto, diz Fernando Azevedo: “Do ponto de vista cultural<br />
e pedagógico, a República, contentando-se com a mudança de regime, não teve<br />
o pensamento ou a decisão de realizar uma transformação radical no sistema<br />
de ensino para provocar uma renovação intelectual das elites culturais e<br />
políticas, necessárias às novas instituições democráticas”. (68)<br />
Quanto às determinações econômicas do período sobre o ensino,<br />
assinala Otaíza Romanelli: “Para uma economia de base agrícola, sobre a qual<br />
se assentavam o latifúndio e a monocultura e para cuja produtividade não<br />
contribuía a modernização dos fatores de produção, a educação realmente não<br />
era considerada fator necessário”.<br />
Do ponto de vista econômico, as técnicas de leitura e escrita<br />
apresentavam-se como instrumentos necessários à integração ao contexto<br />
produtivo tão somente para exceções vindas das emergentes classes médias e<br />
operárias urbanas. A tais segmentos, ainda de pequena expressão, a escola<br />
representava mecanismo de ascensão social e acesso às condições de emprego<br />
nas primeiras fábricas. Para a grande massa, porém, composta de populações<br />
trabalhadoras da zona rural, a escola não oferecia motivações.<br />
No que se refere ao aspecto pedagógico, é de se atribuir à influência<br />
protestante, metodista, luterana e presbiteriana, algo do que se pode chamar<br />
de invasão liberal nas práticas e objetivos de ensino.