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OCULTOS E EXCLUÍDOS - Claudio Di Mauro

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Poetas românticos como Fagundes Varella e Álvares de Azevedo eram<br />

considerados, pelo radicalismo conservador, como degeneradores de uma<br />

geração empenhada em viver as mais profundas paixões. A moda romântica<br />

levaria os jovens a entregarem-se à vida boêmia, exaltar a palidez, o<br />

alcoolismo, as drogas, desafiar a morte e promover bacanais. Da literatura<br />

internacional chegava ao Brasil o estilo maldito, profundamente anticlerical,<br />

permeado de heresias e, não raro, de satanismo poético. Era um escândalo<br />

para os religiosos que faziam uma interpretação literal dos textos satânicos.<br />

Manifestações e registros sobre a existência da Bucha foram discretos<br />

durante as primeiras três décadas do presente século. Isto porque, segundo<br />

interpreta Gustavo Barroso, a geração que estava no poder da chamada<br />

República dos Bacharéis vinha daquela formação e seria de seu interesse<br />

preservar a entidade.<br />

A contar da Revolução de 30, com a mudança do eixo do poder, a<br />

situação mudou. Uma nova geração, mais de militares do que de advogados,<br />

assumiu o controle do País na chamada Era Vargas. O mundo, por sua vez,<br />

vivia sob forte influência das idéias fascistas e racistas que se expandiam pela<br />

Europa. O conservadorismo católico então se fortaleceu, inclusive no Brasil,<br />

com seus ideólogos deflagrando uma verdadeira guerra contra as sociedades<br />

secretas. A história da Bucha passou a ser rastreada, quando surge Gustavo<br />

Barroso como seu grande investigador.<br />

O pouco que se sabe sobre o assunto vem dessa época. Trata-se,<br />

evidentemente, de interpretação sectária. Mas curiosa. Para aqueles ideólogos,<br />

as sociedades secretas seriam manipuladas pelo judaísmo, que estaria<br />

empenhado em uma grande conspiração para dominar as nações do mundo<br />

depois de destruir-lhes os valores morais e cristãos.<br />

À beira da alucinação, as polêmicas teses racistas da época garantiam<br />

que a mais terrível das estratégias dos judeus estaria em conduzir os povos ao<br />

satanismo. Os estudantes seriam um alvo privilegiado.<br />

A pretensa denúncia se aproveitaria do fato de muitas das sociedades<br />

secretas adotarem rituais esotéricos, uma espécie de síntese mística das<br />

religiões, inclusive das pagãs. Alimentado por discursos exaltados sobre esse<br />

ponto, o conservadorismo das religiões mais tradicionais acabou se confluindo.<br />

Tornava-se tradição popular a suspeita de que os membros das sociedades<br />

secretas eram adoradores do diabo.<br />

Gustavo Barroso foi um dos que mais fomentou a denúncia, através<br />

dos veículos de comunicação a que tinha acesso e do alto de sua<br />

respeitabilidade como historiador. Sua campanha era feroz e tumultuou o país<br />

nos anos 30. Seus críticos costumam dizer que Barroso agiu assim para ganhar<br />

espaço político. Seria sua pretensão conquistar o primeiro posto no<br />

integralismo, ocupado por Plínio Salgado. Perseguir judeus e denunciar

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