OCULTOS E EXCLUÃDOS - Claudio Di Mauro
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Alguns autores apresentam a idéia de que Vergueiro, sendo chefe<br />
político de Sorocaba, teria indicado Frank ao brigadeiro Rafael Tobias, do que<br />
teria resultado a contratação do jovem como professor de Filosofia e História<br />
para o Curso Anexo da Faculdade de <strong>Di</strong>reito de São Paulo. O contrato seria por<br />
10 anos, a partir de 1831. Não chegou a ser cumprido completamente devido à<br />
morte de Frank, em 1841. A ligação entre Frank e Vergueiro vem a ser<br />
atribuída pela vinculação de ambos a sociedades secretas. (Gustavo Barroso,<br />
1937)<br />
Em 1831, quando a Bucha foi formada com a contratação de Frank,<br />
Vergueiro articulava-se politicamente através da Regência e pela instituição de<br />
dissidência do Grande Oriente do Brasil. Assim fazia também Feijó, amigo de<br />
Vergueiro, igualmente influente no interior paulista e que, apesar de padre,<br />
defendia idéias contra o poder do papa, logo disseminadas pelas conspirações<br />
da Bucha, alinhada dos Iluminados da Baviera.<br />
A entidade estudantil tornou-se lendária por seu ativismo cultural e<br />
político. Os jovens eram acusados pelos conservadores de levarem uma vida<br />
desregrada e permissiva, afrontando valores tradicionais. A tradição conta que<br />
Frank criou uma legião de discípulos, motivo que levaria sua memória a ser<br />
cultuada até meados do século passado. Sua sepultura ganhara a forma de<br />
monumento “situado exatamente em frente à sala, hoje modificada, em que<br />
lecionava”. (Gustavo Barroso, 1937)<br />
A exemplo da Faculdade de <strong>Di</strong>reito, as corporações estudantis<br />
tomaram conta das demais instituições de ensino em formação no Brasil. Vem<br />
dessa época a tradição de estudantes dividirem as despesas da moradia<br />
chamada “república”, no que se nota um libertário.<br />
Até a Proclamação da República, quase que a totalidade das gerações<br />
da elite nacional passou por sociedades secretas e, por essa influência, ocupou<br />
os principais cargos públicos. Entre outros, passaram pela Bucha de São Paulo<br />
os presidentes Rodrigues Alves, Afonso Pena, além de Rui Barbosa, Pinheiro<br />
Machado e o Barão do Rio Branco. Pelo menos foi essa a avaliação do<br />
historiador Gustavo Barroso em “História Secreta do Brasil”, obra de divulgação<br />
nacionalmente proibida por sua saliente condição racista. Membro da Academia<br />
Brasileira de Letras, grande pensador do integralismo e do catolicismo<br />
conservador, Barroso foi diretor do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro e<br />
pesquisador das sociedades secretas no Brasil.<br />
A juventude da transição do século, além de contestar os poderes da<br />
monarquia e da Igreja, dedicava-se a agredir os valores morais, coisa típica do<br />
mais exaltado romantismo da elite bacharelesca da época. Aos olhos<br />
conservadores, os estudantes eram libertinos, devassos, promotores de orgias e<br />
paganismo.