OCULTOS E EXCLUÃDOS - Claudio Di Mauro
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Por influência histórica, deve-se localizar em outras análises que tal<br />
perspectiva veio a influir na formação dos quadros maçônicos brasileiros. Sem<br />
uma burguesia efetiva, aos moldes do liberalismo clássico, o Brasil limitou-se à<br />
elite rural coronelística. No início do século XX, com a transferência dos capitais<br />
e bons barões do café para São Paulo (26), o interior do Estado viu-se na<br />
dependência de uma elite formada basicamente por representantes da classe<br />
média comercial ou da prestação de serviços. Um estudo mais atento das<br />
contrições entre o liberalismo e o conservadorismo do interior paulista através<br />
da atuação maçônica terá um dia que, necessariamente, abrir perspectivas a<br />
partir deste viés.<br />
Sem buscar características brasileiras, Carvalho prefere contextualizar<br />
seus estudos no liberalismo norte-americano. A seu ver, este seria modelo de<br />
interesse primordial, uma vez que a homogeneização da cultura em vias de<br />
globalização decorre da hegemonia norte-americana. Na realidade, o autor<br />
trabalha com a idéia de Império, poder global que os Estados Unidos teriam<br />
assumido com o fim da Guerra Fria. Seu texto, de 1995, cabe ressalvar, não<br />
traz elementos da história imediata que agora em 2002 tendem a preconizar a<br />
superação dos poderes dos Estados pelas fusões transcontinentais da iniciativa<br />
privada, quadro que poderia acrescentar aspectos suficientes para alterar a<br />
perspectiva da análise.<br />
Ele assinala a forma pela qual a Maçonaria já viria contribuindo para o<br />
que avalia como imperialismo norte-americano desde suas origens: “Os Estados<br />
Unidos são o primeiro país cujos governantes são todos ou quase todos<br />
maçons, e onde, não havendo oficialmente religião protegida pelo Estado, a<br />
situação de fato fica sendo: governo Maçônico. E governo maçônico quer dizer o<br />
seguinte: todos os conflitos abertos, todas as disputas políticas travadas diante<br />
do público, que constituem a pulsação mesma da vida democrática, não são<br />
senão a exteriorização de divergências nascidas e elaboradas dentro da<br />
Maçonaria”. (27)<br />
Nesta linha, ele prossegue: “A espuma democrática encobre e disfarça<br />
a luta interna no seio de uma nova aristocracia. Quando o Brasil imita o<br />
exemplo norte-americano e proclama a sua independência da Europa, a vida<br />
parlamentar nacional não consistia de outra coisa senão de debates entre<br />
maçons, cujas divergências se erguiam sobre o fundo comum de um pacto de<br />
lealdades secretas”. (28)<br />
Apesar do universalismo ser um princípio maçônico, na prática seu<br />
idealismo ecumênico distingue-se em diferentes ritos e obediências. No<br />
panorama de conflitos do século XIX esse aspecto veio a facultar um<br />
caleidoscópio de contradições internas vividas pela Maçonaria brasileira,<br />
enriquecendo-a em complexidade e contribuindo para o movimento político<br />
nacional. Cabe destaque para o período que leva da Independência à República<br />
em meio à formação de Rio Claro e região. (29)