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OCULTOS E EXCLUÍDOS - Claudio Di Mauro

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Constant para sua projetada república positivista sob o lema “Ordem e<br />

Progresso”.<br />

Carvalho aponta os Estados Unidos como o primeiro país a instituir um<br />

governo sem religião oficial e, portanto agnóstico (23). Apesar da hegemônica<br />

cultura protestante, cabe ali ao Estado civil legislar e decidir soberanamente<br />

sobre um caleidoscópio de organizações religiosas descentralizadas e, não raro,<br />

antagônicas.<br />

Identificada com a função de substituir uma religião vinculada ao<br />

Estado, a Maçonaria cumpriria papel básico na sustentação da pluralidade<br />

democrática, incorporando em si, sob uma forma laicizada e desespiritualizada,<br />

os valores cristãos. Assumiria o encargo de “substituir a Igreja – todas as<br />

igrejas – na condução da vida interior das pessoas, e de unificar, sob a nova<br />

religião laica, o mundo ocidental” (24). Assim faria, sendo, contraditoriamente,<br />

uma nova aristocracia, cuja ação interna se desdobraria na vida pública em<br />

debates previamente traçados e administrados no núcleo de sua discrição ou<br />

secretude.<br />

Para ele, o processo americano é de acentuada centralização de um<br />

poder aristocrático enquanto, contraditoriamente, expandem-se cada vez mais<br />

os direitos nominais públicos dos dominados. Os poderes aristocráticos e<br />

públicos, segundo ele, estariam dialeticamente ligados para ampliação<br />

simultânea de ambos.<br />

Não obstante a incapacidade unificadora da Maçonaria diante dos fatos<br />

da história, o filósofo localiza na organização americana, já a contar de sua<br />

origem, traços constantes que viriam de uma modelagem do pensamento a ser<br />

atribuída ao modelo maçônico. O principal seria a nova aristocracia moderna e<br />

oculta que se furta de toda fiscalização, crítica e controle externo, onde a<br />

ampliação quase caricatural dos direitos populares, dos movimentos de protesto<br />

e da cultura da reclamação não abala no mais mínimo que seja o poder das<br />

velhas oligarquias, “antes o fortalece”.<br />

Reservada a diferença cultural entre Estados Unidos e Brasil, a análise<br />

de Carvalho não pode ser dispensada sem maiores considerações. Ela nos<br />

remete a redimensionar a influência da Maçonaria americana no Brasil.<br />

Conforme a tradição mais comum, tal influência viria sobretudo da Europa, mais<br />

exatamente da Inglaterra e França, berços maçons, países aos quais o Brasil<br />

nutriu históricas dependências, respectivamente, econômica e cultural.<br />

No que se refere ao que o autor qualifica de aristocracia, vale chamar<br />

a atenção para a diferença estrutural da formação da elite nos Estados Unidos e<br />

no Brasil. Cunhada sob o espírito puritano (25), a primeira distancia do<br />

patrimonialismo conservador herdado da cultura portuguesa do Brasil,<br />

repositório latino de um sistema semifeudal.

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