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OCULTOS E EXCLUÍDOS - Claudio Di Mauro

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seus membros legou-lhe condição lendária. O antigo sigilo de suas atividades,<br />

não obstante a mudança dos tempos, acabou incorporado de forma<br />

permanente. Ao termo “secreto”, a instituição prefere hoje o “discreto”.<br />

Correntes internas questionam a validade desta tradição para a atualidade. A<br />

admissão de mulheres é outro debate interno que hoje mobiliza segmentos<br />

internacionais da instituição.<br />

O filósofo Olavo de Carvalho (20) desmistifica a tradição de eficiência<br />

conspiratória da Maçonaria como agente unificado e único responsável por<br />

grandes mudanças históricas. Para ele, esse tipo de pensamento fantasioso<br />

negligencia o curso freqüentemente caótico, múltiplo e incontrolável dos fatos<br />

sociais, econômicos, políticos e mesmo espirituais. No demais, para ele, a<br />

Maçonaria teria por hábito assumir suas causas somente a posteriori, ou seja,<br />

depois dos fatos terem acontecido. Seria sua tradição assumir o sucesso de um<br />

empreendimento e renegar o fracasso de algum outro. E mais, como é sua<br />

característica reunir membros de todas as vertentes políticas, sempre haveria<br />

algo bem sucedido a ser assumido. Tal expediente é que explicaria os registros<br />

mais adversos e contraditórios de presença maçônica ao longo de momentos<br />

históricos.<br />

Referindo-se ao difuso leque de expressões ideológicas presentes à<br />

atividade maçônica, exemplar no Brasil pré-republicano, acrescenta o filósofo:<br />

“São então maçons os conservadores, são maçons os liberais, é maçom o<br />

Imperador, são maçons os agitadores republicanos. Pairando invisivelmente<br />

sobre todas as forças em luta, a Maçonaria sai vencedora em qualquer hipótese.<br />

Muito mais que o Imperador, ela é a verdadeira autoridade que acolhe em seu<br />

seio maternal os partidos em disputa e unge a fronte do vencedor com o óleo<br />

bento da legitimidade”. (21)<br />

A seu ver, “é um simplismo grosseiro, portanto, atribuir à Maçonaria a<br />

responsabilidade pelos movimentos revolucionários, porque ela não se<br />

compromete com aqueles a quem auxilia, do mesmo modo que a Igreja<br />

medieval não se compromete em conflitos dinásticos: sua função é eclesial, não<br />

real ou imperial. Como a Igreja, ela dá nascimento a uma aristocracia, a uma<br />

casta governante, e, sem mesclar-se diretamente no governo deste mundo,<br />

influencia decisivamente o curso das coisas, ensinando, orientando,<br />

estimulando, conciliando ou dividindo, e equilibrando enfim – ao menos<br />

idealmente – o movimento do conjunto. O que a diferencia da Igreja é menos a<br />

sua ideologia – vaga, indefinida e elástica o bastante para comportar todos os<br />

arranjos e acomodações – do que a sua invisibilidade”. (22).<br />

O autor, porém, chama a atenção para perspectivas decisivas a<br />

pesquisas sobre o assunto. Ele encontra na prática governamental dos Estados<br />

Unidos a cena que lhe parece adequada para assinalar a Maçonaria como<br />

instituição exemplar da reivindicada religião civil preconizada desde a Revolução<br />

Francesa e que no Brasil ganhou investimentos, frustrados, de Benjamin

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