OCULTOS E EXCLUÃDOS - Claudio Di Mauro
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comércio entre as nações e na tolerância político-religiosa como passaporte<br />
para o fomento mercantil com metas globais desde o início das navegações.<br />
Historiadores maçons costumam localizar a participação de seus<br />
membros em quase todos os movimentos de independência nacional, como no<br />
caso do Brasil ao separar-se da monarquia portuguesa e na resistência<br />
nacionalista à tutela política do Vaticano durante todo o século XIX.<br />
Suprida de estatutos que lhe garantem Constituição e sistematizados<br />
poderes Executivo, Legislativo e Judiciário (19), a Maçonaria apresenta-se com<br />
as características de um Estado oculto dentro do Estado nacional. Reservadas<br />
as proporções, o Estado maçônico seria abstrato e na prática viveria da<br />
sobreposição do papel que seus membros exercem nos demais estados, o civil,<br />
o das Forças Armadas, e o clerical, este último em especial no século XIX.<br />
Vale situar que filosófica e politicamente a teoria e a constituição do<br />
Estado Moderno são contemporâneas à formação da Maçonaria chamada<br />
simbólica. É de considerar que o modelo constitutivo do Estado desde aquele<br />
momento tornou-se comum para as organizações civis. Ao reservar a atuação<br />
de seus membros ao compromisso do segredo, a Maçonaria conseguiu traçar os<br />
limites invisíveis de uma espécie de Estado virtual, cujo corpo na realidade<br />
encontra-se superposto ao desempenho de seus membros enquanto cidadãos<br />
comuns do Estado nacional. A prudência cívica exige que a instituição, por<br />
própria iniciativa, cuide de reservar-se cultos aos símbolos nacionais a fim de<br />
evitar eventual transparência de distinção e concorrência real entre um Estado<br />
e outro. Por fazer o mesmo em todos os países onde se encontra, a Maçonaria<br />
ganha o vago esboço de um Estado oculto transnacional.<br />
As evidências de inspiração maçônica nas constituições e formação<br />
das repúblicas americanas são suficientes para exigir estudos mais atentos. Não<br />
obstante seja farta a literatura em muitos países, estranha lacuna ainda se<br />
verifica no Brasil nesta área. Estudos sobre o tema, entre outros objetivos,<br />
poderiam contribuir para interpretar as origens e contradições do liberalismo e<br />
do conservadorismo brasileiro em meio ao período que vai da Independência à<br />
República e suas conseqüências na realidade atual.<br />
Na ausência de conhecimentos sistematizados, isentos e necessários,<br />
acabam prevalecendo comprometidas versões de leigos, fantasiosas publicações<br />
de verniz esotérico, discursos apologistas e ingênuos de membros da<br />
fraternidade ou de profanos refratários a ela. As pesquisas históricas internas<br />
da instituição raramente chegam a público. A vida acadêmica é completamente<br />
displicente em relação ao assunto.<br />
O caráter reservado da instituição advém de sua secretude antiga.<br />
Instrumento de mudança social no início da época contemporânea, ao<br />
contrapor-se aos poderes da nobreza e do clero, a Maçonaria viveu momentos<br />
de perseguição política. O papel revolucionário desempenhado por alguns de