OCULTOS E EXCLUÃDOS - Claudio Di Mauro
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mais a liberdade entre as feras do que a sujeição entre os homens, lograram se<br />
meter na mata e lá fundar seus mocambos e quilombos. (Coleção História do<br />
Brasil, A Escravidão, 1998).<br />
Quantos foram os quilombos e quantos negros neles viveram é algo<br />
impossível de calcular. Em 1930, o Guia Postal do Brasil registrava, segundo um<br />
pesquisador, 168 agências cujo nome derivava de quilombo ou mocambo. Eles<br />
se espalhavam do Norte ao Sul do país. Alguns chegaram a ter cerca de 10 mil<br />
habitantes.<br />
Não eram só negros de todas as tribos e línguas que viviam nos<br />
quilombos: também índios e brancos desajustados ou fora-da-lei podiam ser<br />
encontrados neles.<br />
Embora as autoridades e os senhores de escravos constantemente se<br />
unissem para articular expedições repressivas, enviadas a todo e qualquer<br />
quilombo, onde quer que se encontrassem, muitos desses núcleos resistiram<br />
por anos a fio. O maior e mais importante deles - Palmares, o berço de Zumbi -<br />
foi capaz de sobreviver por quase um século.<br />
As punições dos escravos eram várias e aplicadas por vários motivos.<br />
A mais comum era o açoite em praça pública. A primeira fuga era punida com a<br />
marcação, por ferro em brasa, de um F no rosto ou no ombro do escravo. Na<br />
segunda tentativa, o fugitivo tinha uma orelha cortada e, na terceira, era<br />
chicoteado até a morte. Outras “faltas graves”, além da fuga, podiam ser<br />
punidas com a castração, a quebra dos dentes a martelo, a amputação dos<br />
seios, o vazamento dos olhos ou a queimadura com lacre ardente.<br />
Houve casos de escravos lançados vivos nas caldeiras ou passados na<br />
moenda, além daqueles que, besuntados de mel, foram atirados em grandes<br />
formigueiros. O estudo mais aprofundado dos castigos revela que não eram<br />
aplicados para corrigir o escravo (mesmo porque, muitas vezes, não se<br />
sobrevivia a eles), mas para semear o terror entre os que eram forçados a<br />
assistir os suplícios.