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OCULTOS E EXCLUÍDOS - Claudio Di Mauro

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Atualmente, os segmentos negros e mulatos de Rio Claro esforçam-se<br />

por se chamar de “comunidade negra”. A pretensão à unidade não se justifica<br />

plenamente, haja vista a fragmentação de lideranças e grupos. O longo período<br />

de domínio faz prevalecer seus efeitos, impedindo que muitos desses<br />

segmentos articulem-se em torno de objetivos comuns.<br />

A falta de conhecimento mais aprofundado da história induz para que<br />

parcelas significativas das jovens gerações percam de vista o sofrimento e a<br />

luta de seus antepassados. Mas há sinais de resistência por parte dos que se<br />

empenham para evitar que isto aconteça. Eles são os que manifestam a<br />

consciência de que a luta não terminou e de que nada foi conseguido<br />

gratuitamente. Sabem também que ressentimentos não movem moinhos. Uma<br />

nova geração em Rio Claro desperta para a necessidade de superar o espírito<br />

de gueto e evitar que interesses pessoais ou grupais prevaleçam sobre a idéia<br />

de comunidade. Eles são os que buscam ocupar seus espaços trabalhando pela<br />

necessidade de reflexão. Uma coisa é certa: seja qual for a dificuldade de hoje,<br />

ela, necessariamente, é menor do que a de ontem. Portanto, uma oportunidade<br />

para lutar mais e melhor.<br />

Os castigos e a resistência<br />

Na história tradicional os escravos são apontados como passivos<br />

diante da tirania, o que é refutado pelas atuais provas de luta e resistência.<br />

Fugas eram punidas com requinte de perversidade, conforme irá se verificar.<br />

Os livros de história, até algumas décadas atrás, preferiram adotar a<br />

tese segundo a qual os escravos se adaptaram bem ao regime tirânico que lhes<br />

foi imposto no Brasil e que, no país, a escravidão teria sido relativamente<br />

branda.<br />

Estudos mais recentes e mais profundos, porém, revelam que a<br />

resistência dos escravos foi feroz e constante: milhares de negros lutaram de<br />

todas as formas contra os horrores a que foram submetidos.<br />

A fuga, solitária ou coletiva, não era a única forma de rebelião: houve<br />

incontáveis casos de escravos que quebraram ferramentas, incendiaram<br />

senzalas, dispersaram os rebanhos ou atacaram seus feitores. Muitos outros<br />

optaram pelo suicídio, ou então se deixaram acometer pelo banzo, o torpor<br />

mortal que levava à morte por inanição. Onde houve escravidão, houve<br />

resistência.<br />

Evidentemente, a forma mais comum de protesto contra a escravidão<br />

era a fuga. Apesar do rigor das punições (que incluíam a marcação com ferro<br />

em brasa, o açoitamento e até o corte do tendão de Aquiles), milhares de<br />

negros tentaram escapar da senzala - muitos conseguiram. Ainda que grande<br />

parte fosse recapturada pelos capitães-do-mato, terríveis caçadores de homens<br />

quase infalíveis (negros na maioria), sempre houve aqueles que, estimando

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