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OCULTOS E EXCLUÍDOS - Claudio Di Mauro

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alimentados e com saúde. Como libertos e sem direitos trabalhistas, para os<br />

fazendeiros ficou mais barato utilizá-los como mão-de-obra avulsa.<br />

O que era ruim ficou pior com a chegada dos imigrantes europeus,<br />

mais qualificados para o trabalho e reprodutores de idéias racistas. Só no século<br />

seguinte, a contar de 1930, o Brasil adotou legislação trabalhista.<br />

A versão mais conhecida da Lei Áurea a aponta como um gesto<br />

generoso da princesa Isabel. Isto é ridículo. A mais estudada é a da questão<br />

econômica, cuja influência no mercado exigia trabalhadores mais preparados e<br />

assalariados para consumirem bens produzidos pelo capitalismo emergente<br />

inglês.<br />

A Inglaterra já tinha acabado com a mão-de-obra escrava no Caribe e<br />

Guiana e não queria correr o risco de ter, no mercado eventual, concorrentes<br />

que viessem a competir com preços menores por economia de salários. É<br />

importante destacar que essas duas versões colocam o negro como agente<br />

passivo na história. Ele nada teria feito para conquistar sua liberdade. O que<br />

não é verdade. (História do Brasil, A Escravidão, 1998)<br />

Menosprezar o espírito de luta dos negros sempre foi um expediente<br />

de domínio, o mesmo que até hoje os tenta caricaturar como festivos, sem<br />

iniciativa ou rudes. Esta imagem lhes é imposta com o objetivo de alimentar<br />

seu residual complexo de inferioridade decorrente da destruição da cultura<br />

ancestral.<br />

Ao negro, aceita-se apenas conceder o sucesso através do esporte e<br />

da música. O mito de apontá-lo como bom amante também é um mecanismo<br />

de compensá-lo pela extração do vigor revolucionário. Na falta de defesa teórica<br />

para resistir a essas idéias impostas, muitos afro-brasileiros as aceitam, sem<br />

saber que assim fazendo alimentam preconceitos dos quais são as principais<br />

vítimas. Nada mais estranho do que negro alimentando preconceito contra<br />

negro. Mas é o resultado de 300 anos de dominação.<br />

Além da versão de benesse da princesa Isabel e a das pressões<br />

inglesas, o brasilianista Warren Dean chama a atenção para um terceiro ponto.<br />

Exatamente o que fala da resistência negra. Segundo Dean, a escravidão<br />

acabou porque a situação da segurança nacional tornou-se insustentável. Os<br />

fazendeiros não tinham mais condições de evitar fugas, afrontas e problemas<br />

criados pelos escravos. Os negros, nos últimos momentos da escravidão,<br />

fugiam às dezenas, seguidamente. Os quilombos, lugares de concentração<br />

daqueles que fugiam, aumentavam sem qualquer controle possível. O clima era<br />

de revolta generalizada sob a tensa lembrança de que nos Estados Unidos o<br />

problema havia terminado em guerra civil. O quilombo de Rio Claro ficava onde<br />

hoje é a Vila Nova.

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