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OCULTOS E EXCLUÍDOS - Claudio Di Mauro

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emigrado depois da Guerra Civil. Depois de um exame cuidadoso de meu pai,<br />

seu diagnóstico ofereceu muito pouca esperança”. O fim era inevitável.<br />

“Quando soube que a morte se aproximava, meu pai chamou-me e à<br />

minha mãe para o lado de sua cama. Ele sempre teve cuidado em pagar suas<br />

dívidas e nestes momentos finais pediu-nos para resolver para ele alguns<br />

negócios não liquidados. Para mim, em face da perspectiva da perda de meu<br />

pai adorado, quando eu ainda tinha 14 anos de idade, atender o pedido era<br />

coisa de menor importância. Ele disse à mamãe que me desse bastante dinheiro<br />

para pagar o médico brasileiro que o havia visitado três vezes, antes de chamar<br />

o médico americano. Papai sabia o preço de cada visita e disse à minha mãe a<br />

quantia exata a dar-me”. Destaca-se novamente o componente ético de sua<br />

formação por influência do pai.<br />

“Peguei o dinheiro e saí de casa para cumprir o último desejo de meu<br />

pai, mas eu estava aturdido e amortecido pelo fato de que em breve teria de<br />

despedir-me dele para sempre”. Silvino mira a solidão.<br />

“Enquanto eu passava pelo jardim da cidade, parei e sentei-me em um<br />

banco, por um instante, confuso demais que me encontrava para continuar<br />

minha missão, sem parar para refletir sobre o que estava acontecendo. Por<br />

mais que tentasse, não podia de modo algum imaginar como o mundo poderia<br />

continuar a funcionar sem meu pai. Para mim, ele tinha sido o centro do<br />

universo. Sendo assim, como poderia deixar-nos?” <strong>Di</strong>fícil reflexão.<br />

“Em breve eram 10h45 e eu ouvi o apito das oficinas da estrada de<br />

ferro lembrando aos trabalhadores de que sua hora de almoço estava<br />

terminando. Notei algumas crianças passarem correndo por mim, ansiosas para<br />

chegar a tempo à aula das onze. Um dos meninos da vizinhança parou diante<br />

do meu banco. Eu devia estar com uma aparência muito desolada e abatida,<br />

pois a expressão nos olhos dele era muito triste. - Fiquei tão triste em saber o<br />

que aconteceu ao seu pai, disse ele bondosamente. - Sim, ele está muito<br />

doente, murmurei distraidamente”.<br />

“O menino pareceu espantado, por um instante. Então vi lágrimas em<br />

seus olhos. - Não sabe ainda? Ele acabou de morrer, apenas há apenas alguns<br />

minutos. Acabei de ouvir a notícia. Eu... eu pensei que você soubesse, quando o<br />

vi sentado assim... Então, de súbito, lembrando-se que estava atrasado para<br />

sua aula, desculpou-se de modo embaraçado e saiu correndo. Fiquei sentado lá<br />

por um momento, chocado demais para emitir um único som ou até mesmo<br />

chorar”. O pior havia acontecido. O que fazer?<br />

“Depois da morte do meu pai, fiquei em Rio Claro mais um ano,<br />

ajudando minha mãe no açougue, depois das aulas, até que ela o vendesse e<br />

também a fazenda”. A autobiografia acena para a abertura das portas do<br />

mundo.

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