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OCULTOS E EXCLUÍDOS - Claudio Di Mauro

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“Ao tempo de minha infância, que data do início do século XX, havia<br />

cerca de 40 mil habitantes em Rio Claro, na sua maioria empregados da oficina<br />

de reparos e manutenção da Companhia Paulista de Estrada de Ferro, que<br />

tantas memórias evoca! Começava em Jundiaí, a duas horas de viagem, mas<br />

sua bitola de 5 pés e 4 polegadas terminava em Rio Claro. Era aqui que toda a<br />

carga e os passageiros tinham de fazer baldeação. Naturalmente, isto era<br />

motivo de muito movimento. Talvez fosse este fluxo diário de estranhos para a<br />

cidade que inculcou em mim o desejo prematuro de viajar e familiarizar-me<br />

com costumes e culturas diferentes dos meus”, relata, referindo-se a seu futuro<br />

de aventuras pelo mundo.<br />

Ele prossegue. “Posso lembrar-me que minha terra natal não era tão<br />

primitiva como algumas das aldeias menos conhecidas da região.<br />

Desfrutávamos de certas conveniências, como água encanada, calçadas<br />

pavimentadas e até mesmo eletricidade. Entretanto, infelizmente nossas ruas<br />

ainda eram feitas de terra, éramos também forçados a usar latrinas, de modo<br />

que em sua plenitude, a revolução tecnológica do século XX ainda não tinha<br />

chegado até nós. Porém, gradativamente, à proporção que eu crescia, víamos o<br />

advento de ruas corretamente pavimentadas, bem como a instalação de<br />

modernos esgotos.”<br />

De sua infância, conta do carinhoso e respeitoso relacionamento do<br />

pai, que considerava “um filósofo extraordinariamente profundo, para um<br />

homem com limitada instrução”. Por influência do pai, aprendera a tolerância, a<br />

humildade, a importância de respeitar as pessoas, e aos valores éticos e a<br />

disposição de utilizar o tempo de folga para melhorar sua educação. “Em<br />

virtude disso, eu passei a maior parte de minha vida sempre no desejo de<br />

aprender alguma coisa nova”, lembra.<br />

Quanto à experiência nas escolas locais, Silva conta. “A população de<br />

Rio Claro era, em sua maior parte, alemã, austríaca e suíça, tendo presente<br />

também um pequeno número de italianos. Quanto à minha educação escolar,<br />

tive diversas escolhas. Além do Grupo Escolar, escola pública, havia o Colégio<br />

Brasil, a Escola Protestante e a Deutsche Schule. Porém, fui matriculado na<br />

escola primária particular da Dona Bernardina”.<br />

“A colônia alemã em Rio Claro tinha seu próprio clube atlético<br />

(Turnerschaft) e, como meu pai tinha muitos amigos alemães, fui também<br />

matriculado em uma classe especial de educação física. Esta classe consistia de<br />

cerca de 30 meninos e jovens, entre as idades de 8 a 20 anos, todos sob a<br />

direção de Herr Georg Frey”.<br />

“Fiquei completamente abalado, quando nossa boa professora, Dona<br />

Bernardina, caiu doente subitamente e morreu poucos dias depois. Lembro-me<br />

de ter tido de tratar de minhas entregas diárias de carne antes de seguir para a<br />

igreja, para o enterro. Depois de ter cumprido minhas obrigações, corri para a<br />

igreja e esperei lá por tempo interminável. Mas a procissão fúnebre nunca

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