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OCULTOS E EXCLUÍDOS - Claudio Di Mauro

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João Fernandes Dagama morreu em 27 de agosto de 1906. Seu corpo<br />

foi enterrado no cemitério evangélico de Rio Claro. No mesmo local foi<br />

sepultada sua mulher Eulália R. Dagama e sua filha Valinda Eva Dagama.<br />

O educador<br />

A escola de Rio Claro não era tão simples como as tantas outras ao<br />

lado das demais igrejas. Tampouco possuía as ambições dos grandes projetos<br />

educacionais das unidades de Campinas ou São Paulo. Concretizava, sim, a<br />

visão de um homem prático, com pouco dinheiro, aparentemente pouco<br />

instruído. “Mas ninguém deu mais valor à alfabetização, que ele, iniciador<br />

incansável de escolinhas do sertão e seu animador constante”.(12)<br />

Em Rio Claro, Dagama foi ambicioso. Organizara escola primária para<br />

receber crianças de fora da igreja, conquistando a simpatia geral da população.<br />

Ao lado do curso primário, havia organizado o internato-orfanato: recolhia<br />

crianças pobres, inclusive órfãs, e as mantinha durante 3 anos num regime<br />

severo. Depois, pretendia remetê-las de volta ao lar ou ao seu distrito para<br />

comporem os quadros dirigentes das congregações analfabetas, bem como<br />

comandarem a ofensiva evangelizadora nos sertões. Em Brief Account of the<br />

Great Empire of Brazil, Dagama faz minucioso registro sobre o funcionamento<br />

de sua escola, conforme relata Boanerges Ribeiro.<br />

Seu relato aos financiadores do projeto pedagógico no Brasil começa<br />

historiando as primeiras impressões. “Olhei em roda e vi as crianças;<br />

imediatamente pensei numa escola e prometi mandar alguém que lhes lesse a<br />

Bíblia. Ao chegar em casa ponderei a dificuldade de evangelizar o interior.<br />

Imediatamente concluí que a solução seria um internato para essa pobre gente.<br />

Consultei amigos, mas a todos a empresa pareceu grande demais: excesso de<br />

trabalho e de despesas. Não me animaram; mas a necessidade era evidente. A<br />

9 de janeiro de 1877 eu já tinha casa pronta e comecei o Internato para<br />

Crianças Pobres e Órfãos, com nove crianças entre meninos e meninas”.<br />

Dagama explica o porquê desse nome. “Era apenas para crianças<br />

pobres e órfãos desamparados; mais ninguém. E apenas crianças do interior<br />

distante onde havia tanta necessidade de alguém que lesse a Palavra de Deus”.<br />

As condições de admissão limitavam o atendimento apenas a crianças<br />

pobres e poucas de cada lugar. As regras determinavam a obrigação de ficar<br />

três anos na escola, sem visita à família e outras condições: “Nesses três anos,<br />

se são nominalmente católicas, não podem ir à igreja católica, nem fazer suas<br />

rezas; admitem-se crianças de seis a treze anos; apenas se aceitam crianças<br />

sadias e os pais não terão controle sobre elas enquanto estiverem na escola;<br />

têm de trabalhar duas horas por dia, para desenvolverem aptidão; os meninos<br />

no quintal e partindo lenha; as meninas cuidam da casa, costuram e aprendem<br />

trabalhos de fantasia (bordados etc.), o máximo possível para elas, em três<br />

anos”.

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