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OCULTOS E EXCLUÍDOS - Claudio Di Mauro

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Em agosto de 1867, Conceição viaja para os Estados Unidos em busca<br />

de tratamento de saúde. Prega em igrejas de Jacksonville e de Springfiel. Ali<br />

permaneceu oito meses exercendo a medicina e todo tipo de trabalho<br />

disponível, entre eles a tradução do Novo Testamento do grego e do siríaco,<br />

missão que lhe fora incumbida pela Sociedade Bíblica Americana. Descuidou-se<br />

da saúde em meio a tais atividades. De volta ao Brasil, depois de pouco tempo<br />

no Rio, despede-se dos companheiros, por carta, em agosto de 1868.<br />

Desaparece. Estava saudoso da estrada, para onde sempre voltava.<br />

Em 1869, participa pela última vez de um presbitério. Os tempos eram<br />

outros. Para seu contragosto. Sem conseguir atender “a vastidão de<br />

oportunidades” abertas, os pastores raciocinam outras estratégias. A<br />

necessidade era consolidar os espaços conquistados, e não de desbravamento<br />

ao longo das estradas. A melhor prova desta evidência via-se no desinteresse<br />

manifestado pelos relatórios de Conceição. Ao contrário de antes, pediam-lhe<br />

que resumisse suas apresentações. O papel desempenhado pelo ex-padre<br />

passava a ser visto como superado. <strong>Di</strong>ante disso, ele volta a ser um solitário.<br />

Nunca mais teve companheiro pastor pela estrada. Nunca mais compareceu aos<br />

presbitérios. Nem lhes apresentou relatórios.<br />

A figura de Conceição é localizada a partir dali quase que apenas<br />

através de relatórios de terceiros. Segue carta de um informante de nome<br />

Antonio Pedro, em abril de 1869. Traz o documento: “O senhor Conceição,<br />

segundo consta, acha-se a três léguas de Bragança, e não foi, como aqui se<br />

disse, para a cidade de Castro. Eu sinto muitos os sofrimentos do senhor<br />

Conceição; porém, nada há, penso, que o possa fazer melhor, senão uma boa<br />

mulher. É o único remédio, segundo o pensar de todos. Mas é quase impossível<br />

de efetuar-se: nenhuma mulher o quer. Entretanto, dia a dia aumenta-se a sua<br />

tristeza e passamento”.<br />

Carta do próprio Conceição, à irmã, em setembro de 1869:<br />

“A única coisa que para mim vos rogo, e a todos os filhos de Deus que<br />

me quiserem bem, é que orem sempre por mim a Deus. Eu ando doente com<br />

umas feridas grandes e dolorosas, que me obrigam, agora, a estar em casa<br />

sem poder viajar”.<br />

Nos arquivos de correspondências pesquisadas por Boanerges Ribeiro,<br />

destaca-se carta de Fausto de Souza. Ele fala do comportamento do ex-padre<br />

naquela época.<br />

“De vestuário só tinha o que lhe cobria o corpo, e quando esse se<br />

achava muito estragado, os seus amigos lhe ministravam outro, se sabiam que<br />

ele não dispunha de meios para comprá-lo. E em relação a este assunto, não<br />

podemos resistir ao desejo de citar um caso que pinta fielmente a caridade que<br />

o animava. Um amigo, encontrando-o muito mal trajado, a pretexto de<br />

aconselhá-lo a que fosse fazer algumas prédicas em um outro lugar distante,

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