OCULTOS E EXCLUÃDOS - Claudio Di Mauro
OCULTOS E EXCLUÃDOS - Claudio Di Mauro
OCULTOS E EXCLUÃDOS - Claudio Di Mauro
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
ao tipo de problema enfrentado. Referem-se tão somente a “problemas de<br />
nervo” ou “saúde”. Ele pede para deixar a paróquia de Brotas, ao que o bispo<br />
D. Sebastião Pinto do Rego contemporiza. Torna-o delegado sem funções<br />
sacerdotais. Conceição concorda, compra uma chácara em Rio Claro, à margem<br />
do Corumbataí, onde procura viver isolado e da lavoura. Tinha por volta de 40<br />
anos.<br />
Por essa época tem início a nova fase da vida de Conceição. No Brasil<br />
já se encontrava o pioneiro norte-americano presbiteriano Blackford, iniciando a<br />
saga de sua pregação nos trópicos. Em sua primeira viagem ao interior paulista,<br />
em 1863, em Rio Claro, alguém lhe fala do estranho padre católico que<br />
orientava as pessoas a lerem a Bíblia. Com a ajuda de um amigo, Blackford<br />
dirige-se à chácara de Conceição. Era princípio de novembro. Dava-se ali o<br />
encontro que iria mudar muita coisa na história da religião no Brasil.<br />
“Foi uma visita agradável. Tem as maneiras de um perfeito<br />
cavalheiro”, observaria Blackford, só mais tarde, quando o nome de Conceição<br />
iria tornar-se famoso em meio aos protestantes. Mas naquele início de<br />
novembro, o norte-americano não percebeu exatamente que acabara, na<br />
verdade, de encontrar o homem que iria abrir o caminho da Reforma a partir de<br />
São Paulo e Minas Gerais. Simpatizou-se com ele, apenas. Em seu diário, ao<br />
falar dessa viagem ao interior, Blackford nem menciona Conceição. O faz meses<br />
depois.<br />
As impressões do encontro foram mais amplas por parte de Conceição.<br />
<strong>Di</strong>z ele em seus registros: “Contemplava, um dia, em minha janela, o gado que<br />
pastava à margem do Corumbataí. Aproximaram-se da minha humilde<br />
habitação dois cavaleiros. Um deles conhecia eu de longa data; o outro, porém,<br />
pareceu-se belo como a estrela d’alva em uma manhã. Era um pastor<br />
evangélico. Já lá vão dois anos que isto aconteceu. Minha situação era singular.<br />
Todas as cordas que me haviam prendido ao meu velho mundo se tinham<br />
relaxado. Levantava os meus olhos aos montes, procurando donde me viria o<br />
socorro, porque por muito tempo fora peregrina a minha alma. O meu socorro<br />
veio do Senhor. O pastor amigo chegou no momento próprio esperado; antes<br />
ou depois o plano teria sido desconcertado. Rápida foi a nossa entrevista. Uma<br />
grande aliança se tinha contratado, uma eternidade de gozo inundava a minha<br />
alma”.<br />
Em maio do ano seguinte, 1864, Conceição foi visitar Blackford em<br />
São Paulo. “A semente lançada na terra brotava. Uma retribuição de visita me<br />
aproximou por meu turno daquele pastor”, fez registrar Conceição, que ficou<br />
dias em São Paulo. Ali diz haver entendido que não poderia continuar sendo<br />
padre. Assim, decide “estudar as doutrinas reformadas no sossego da chácara”<br />
e enfrentar o destino da ruptura com a Igreja, decisão que oficializa em<br />
setembro de 1864. Com Blackford segue para o Rio de Janeiro, para encontrar<br />
o outro pioneiro protestante no Brasil, Ashbel G. Simonton.