OCULTOS E EXCLUÃDOS - Claudio Di Mauro
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Mendonça. Sempre foi considerado bom aluno. Em relatos autobiográficos, ele<br />
diz que começou a ler a Bíblia com 18 anos, logo notando contradições entre o<br />
que lia e o que via praticado pelos católicos de sua época.<br />
Foi em Sorocaba, na Fábrica de Ferro Ipanema, que manteve os<br />
primeiros contatos com imigrantes ingleses, junto aos quais se dizia<br />
impressionado pela cultura religiosa. Tais impressões acabaram ampliadas e<br />
confirmadas na convivência seguinte com alemães instalando-se no interior<br />
paulista, o que lhe facultou estudar Alemão, História e Geografia pela<br />
disponibilidade de livros por eles trazidos ao Brasil. Questionando seus<br />
preconceitos em relação aos protestantes, ele passou a considerar consigo,<br />
“quem sabe se eles são mais religiosos do que nós, visto que são também mais<br />
civilizados do que nós?” Então ele tinha 20 anos.<br />
Seu comportamento independente e questionador já lhe havia suprido<br />
de adversários. Tanto assim que, sua ordenação a padre foi suspensa pela<br />
instauração de processo. Era visto com desconfiança pela convivência com<br />
protestantes. Em 1844 foi finalmente ordenado. Futuramente iria admitir, “a<br />
leitura da Bíblia e minhas relações com os protestantes fizeram de mim um<br />
mau candidato, e, mais tarde, péssimo padre romano”.<br />
Como padre resistente à hierarquia, acabou solitário e<br />
permanentemente transferido de uma cidade para outra. Era a cautela adotada<br />
pela Igreja para evitar a disseminação de sua influência. Sua carreira teve início<br />
em Limeira, onde logo de início rompe com procedimentos tradicionais. Faz os<br />
deveres de padre sem cobrar e conversa com os estrangeiros em suas próprias<br />
línguas. Seus sermões cheiram a heresia.<br />
Desta época data o apelido de “Padre Protestante”. Por conseqüência<br />
das seguidas transferências determinadas pelos bispos, percorreu quase todo o<br />
interior paulista. Eis aí um dos pontos principais de sua vida, conforme nota<br />
Boanerges Ribeiro. “Sem que o percebessem, os bispos de São Paulo traçavam<br />
o itinerário da Reforma em sua diocese”. Com isto o historiador quer dizer que,<br />
depois de percorrer grande parte do território paulista como padre, quando<br />
pregador protestante, convertido mais tarde, Conceição voltaria a fazer o<br />
mesmo roteiro. Por onde houvera passado havia deixado amigos e admiradores,<br />
sendo-lhe promissor o terreno para a difusão da Reforma.<br />
Ainda padre, para cuidar de doentes, passou a estudar livros de<br />
medicina em livros que conseguia com estrangeiros. Enquanto isso, os<br />
endereços para suas transferências se sucediam. Passou, entre outros lugares,<br />
por Monte Mor, Piracicaba, Santa Bárbara, Taubaté, Sorocaba, Limeira, Ubatuba<br />
e Brotas. Ele insiste em indicar a leitura da Bíblia, algo que não devia ser<br />
recomendado às pessoas que não fossem membro do clero.<br />
Desta época vêm os problemas de saúde que o acompanhariam toda a<br />
vida e o levariam à morte. Os registros de sua biografia não são claros quanto