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OCULTOS E EXCLUÍDOS - Claudio Di Mauro

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Lessa e Júlio Andrade Ferreira conseguiram traçar o perfil e história de<br />

Conceição. A fonte básica daquelas pesquisas encontra-se no trabalho do<br />

historiador Boanerges Ribeiro, obra da qual são alinhados os presentes<br />

registros.<br />

Precursor nacional das teses reformistas, em um país que as<br />

desconhecia, ainda no século XIX, Conceição as nutriu de maneira espontânea,<br />

intelectualmente quase as desconhecendo por falta de acesso a informações<br />

sobre atualidades do mundo. Só a contar do encontro com os presbiterianos é<br />

que suas aspirações ganharam forma sistematizada por influência da<br />

organização da cultura protestante.<br />

Apesar de sua vinculação presbiteriana, Manoel da Conceição, porém,<br />

nutriu ainda uma concepção particular do reformismo religioso, o que ao final<br />

da vida causou-lhe dissabores. Entre ele e os americanos acabou-se verificando<br />

um desencontro de métodos, cuja decorrência implicou em seu quase autoexílio<br />

em meio aos companheiros de origem puritana. Ele optou pela solidão das<br />

estradas, enquanto os americanos pautavam-se pelo espírito organizador.<br />

Conceição era um pioneiro, dedicado a abrir caminhos e ultrapassar fronteiras.<br />

Os americanos buscavam estruturar e consolidar as posições conquistadas por<br />

ele. Da mesma forma, se os americanos operavam com um padrão cultural<br />

moderno a ser implantando em terra estranha, Conceição almejava por uma<br />

reforma que brotasse de sua própria terra natal, correspondente à cultura<br />

simples de sua gente.<br />

O jornal “Imprensa Evangélica” publicou entre 1880 e 1881, três anos<br />

após a morte de Conceição, diversos artigos nos quais o peregrino esboça suas<br />

idéias a respeito do assunto. Quanto à evangelização, parece que ele não<br />

desejava o estabelecimento de uma igreja protestante transplantada de outra<br />

raça, outra cultura, diversas tradições e temperamento, mas um movimento<br />

profundo de reforma nos sentimentos e experiência religiosa do povo, aliado ao<br />

esclarecimento bíblico, que tornasse possível a criação de um cristianismo<br />

brasileiro puro e evangélico, mas enraizado nas tradições e hábitos populares.<br />

(Boanerges Ribeiro, 1950)<br />

“Se queremos imprudentemente comunicar a homens sem<br />

preparatório algumas verdades que lhes são absolutamente incompreensíveis,<br />

não promoveremos, assim, a ilustração. Ilustrar é conduzir o homem pensador<br />

à meditação, para fazê-lo valoroso, e capaz de poder por si mesmo descobrir a<br />

verdade que lhe comunicamos. Eu respeitarei a religião do ignorante, a fé<br />

daqueles que não têm tantas ocasiões de conhecer e venerar a Deus de um<br />

modo mais digno”, defendeu o peregrino em um de seus raros textos.<br />

Vida e obra<br />

Nascido em São Paulo em 1822, José Manoel da Conceição, desde<br />

menino, foi criado em Sorocaba por um religioso identificado como Padre

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