OCULTOS E EXCLUÃDOS - Claudio Di Mauro
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CAPÍTULO II<br />
O PADRE LOUCO<br />
José Manoel da Conceição é o nome mais importante que um brasileiro<br />
tem registrado nas origens da Reforma Religiosa em sua versão nacional. A<br />
difusão protestante no País, feita em português por uma pessoa aqui nascida,<br />
começou exatamente por ele. Peregrino que foi, conhecido e respeitado pelos<br />
moradores dos então sertões paulista e mineiro, ele abriu de maneira lendária<br />
as trilhas pelas quais os presbiterianos norte-americanos, logo a seguir,<br />
cuidaram de difundir e organizar o protestantismo na maior parte da América<br />
do Sul.<br />
A história de Conceição é arrebatadora, cheia de conflitos<br />
característicos do grande momento de transformação pelo qual o Brasil<br />
passava. Ele nasce no ano da Independência, vive durante a chegada dos<br />
primeiros imigrantes e a emergência das idéias republicanas, patrocinadores de<br />
contradições entre segmentos conservadores e liberais.<br />
A peregrinação decisiva de José Manoel da Conceição começa a partir<br />
de seu ostracismo em Rio Claro. Ele vivia em uma chácara às margens do rio<br />
Corumbataí, onde fora procurado pelos pioneiros presbiterianos instalados no<br />
Brasil, Blackford e Simonton. Dali seguiram-se 14 anos de intensa atividade<br />
religiosa e paixão que lhe deram a pejorativa fama de “O Padre Louco”.<br />
Seu fim foi dramático. Morreu como anônimo, indigente e agonizante<br />
em uma noite de Natal, sozinho em uma enfermaria militar na periferia do Rio<br />
de Janeiro. Por haver sido padre julgado como herege e, por isso, excomungado<br />
da Igreja, ao saber de seu sepultamento em cemitério católico, o bispo do Rio<br />
de Janeiro, D. Lacerda, teria tentado, sem sucesso, que os despojos de<br />
Conceição fossem exumados e retirados do local. Não o teria conseguido por<br />
influência de Saldanha Marinho, expressivo político anticlerical da época. Hoje<br />
seus restos mortais encontram-se no Cemitério Evangélico de São Paulo.<br />
Em seus últimos momentos, Conceição foi atendido pelo diretor da<br />
enfermaria militar, major Fausto de Souza, que, pela rara impressão vivida no<br />
episódio, tornou-se mais tarde biógrafo do chamado “O Padre Louco”. É a partir<br />
de tais registros, a que nem todos historiadores teriam tido acesso, e outros<br />
tantos documentos da memória presbiteriana que pesquisadores como Temudo