OCULTOS E EXCLUÃDOS - Claudio Di Mauro
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No mesmo artigo é assinalada a declaração: “Botucatu, por causa<br />
desses mandões, não tem a justiça garantida, nem tem crédito rural; não há<br />
caixeiros que vão lá proceder a cobranças, porque seriam logo colocados na<br />
alternativa de fugir ou morrer. O Banco de Crédito Rural não empresta dinheiro<br />
a fazendeiros de Botucatu porque lá não existe justiça, mas arbítrio e garrucha;<br />
não há advogados que aceitem o patrocínio de causas naquele foro, de medo de<br />
serem expulsos ou assassinados”. Termina denunciando “a tentativa de<br />
assassinato de que foi vítima no dia 7 do corrente o atual promotor Christiano<br />
Ritti”.<br />
Além de mortes, ferimentos e expulsões, o relato sobre Tito provocou<br />
estupefação na Assembléia ao registrar a invasão de Botucatu para expulsar um<br />
juiz e um promotor, com 50 homens armados, entre eles escravos portando<br />
foices. Ladeado por três filhos, o capitão tomou a cidade e a manteve sob<br />
medo. Os visados haviam abandonado o local duas horas antes.<br />
Em uma das tumultuadas sessões da Assembléia (Legislativa), no dia<br />
4 de março daquele ano, Tito se defende na tribuna. Dá mostra de inteligência,<br />
habilidade, provoca risos ao ridicularizar seus oponentes. Ameaça Silveira da<br />
Motta de tomar vingança “olho por olho”. No dia seguinte, quando seus<br />
adversários voltam às denúncias com documentos e provas, ele deixa de<br />
comparecer, alegando que se defenderia pela imprensa. Não há registros da<br />
seqüência dos debates. A bancada liberal fez o jogo do parlamentar.<br />
O governo não demonstrava propósitos de molestar o denunciado,<br />
nem mesmo quando mandara para lá um juiz apresentado como neutro, o Dr.<br />
Estevam José de Siqueira “porque esse juiz era protegido e amigo particular do<br />
Conselheiro Martim Francisco que também protegia Tito de Mello”. Moraes<br />
Barros dizia manter suas denúncias por questões de consciência, mas sem<br />
esperanças de justiça. Chegou a relatar que, quando o Ministério da Justiça<br />
mandou processar Tito, isso não foi possível, pois “as autoridades locais em<br />
Botucatu são, por exemplo, primeiro suplente de juiz municipal, um cunhado do<br />
Sr. Tito de Mello; segundo suplente, um filho do Sr. Tito de Mello”.<br />
O século XX encontra o capitão mandando, porém entrando em<br />
decadência. Sebastião de Almeida Pinto, também no livro “No Velho Botucatu”,<br />
narra o assassinato do cabo eleitoral dos adversários de Tito, o Joaquim de<br />
Freitas, vulgo Quinzote, em dia de eleição, na estrada próxima de Bocaina :<br />
“Capitão Tito reuniu seu estado maior, confabulou, traçou planos e mandou uns<br />
cabos de confiança, chefiando capangas, dar um susto nos eleitores. Espantouos.<br />
Coisinha de nada. Umas porretadas, umas cachuletas e, no máximo, uns<br />
tirinhos para o ar”. Porém mataram Quinzote. Tito ganhou a eleição. Mas não<br />
adiantou. Parece que o sangue do Quinzote trouxe um azar tremendo. O velho<br />
chefe, desde a morte do rapaz, entrou numa decadência sem fim. E acabou,<br />
como dizem, obscuramente. Num ostracismo completo. Velho. Cego.<br />
Desprestigiado.