OCULTOS E EXCLUÃDOS - Claudio Di Mauro
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CAPÍTULO I<br />
TITO: DA PENA AO CHUMBO<br />
Rio Claro passou a integrar o sistema oficial de ensino, em 1843, com<br />
a vaga da cadeira nacional de primeiras letras sendo provida um ano depois.<br />
Sobre a condição social dos professores de meninos na região do<br />
antigo Oeste Paulista, no período anterior àquela data, diz Zulmiro Ferraz :<br />
“Quase sempre eram mumbavas (agregados), espécie de parasitas ou sombras<br />
dos abastados, os que ensinavam nas fazendas e até nas cidades”.<br />
O panorama educacional da época é assim descrito por José Romeu<br />
Ferraz: “A meninada era em número considerável. E, a não ser os que<br />
aprendiam em casa com os pais, o resto crescia analfabeta, vagabunda.<br />
Ajudavam os pais nas roças vizinhas e outros trabalhavam nos balcões”. (01)<br />
Segundo ele, a escola de primeiras letras local resultou de<br />
reivindicações da comunidade ao poder municipal, centrado em Piracicaba.<br />
“Constituição (Piracicaba), recebendo o ofício assinado pelo Juiz de<br />
Paz, que interpretava os desejos dos são-joanenses (rio-clarenses), criou a<br />
escola no dia 4 de março de 1843 que, no entanto, só foi provida em 7 de<br />
fevereiro de 1844, tendo como regente o professor Tito Correa de Mello. O<br />
mestre era respeitadíssimo e percebia a avultada soma de 20 mil réis”. (02)<br />
Em “História de Rio Claro”, uma das raras referências sobre a<br />
atividade do professor em sala de aula, o cronista refere-se ao que a tradição<br />
manteve sobre Tito: “Lecionava das 10 às 15 horas e, ao meio-dia, dava 30<br />
minutos de folga aos alunos. Na aula, mestre Tito franzia o olho e, ao menor<br />
ruído, apontava a célebre Santa Luzia, que espreitava os discípulos,<br />
dependurada à porta. <strong>Di</strong>z a tradição que a lição de tabuada aos sábados era<br />
uma grossa festa. Nesse dia as aulas terminavam à uma hora, e nas últimas<br />
horas o professor ensinava Aritmética. Os meninos, numa toada sonolenta,<br />
declamavam, em voz alta, o dois e dois são quatro, dois e três são cinco”. (José<br />
Romeu Ferraz, 1922).<br />
A permanência do primeiro professor público na conhecida Vila de São<br />
João foi curta. Não chegou a quatro anos. O jovem mineiro Tito, ao longo de