OCULTOS E EXCLUÃDOS - Claudio Di Mauro
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“Brancos e Negros” repassa itens do brasilianista Warren Dean, autor<br />
do mais importante trabalho sobre Rio Claro no período que vai do Império à<br />
Primeira República. Ali busca-se assinalar de maneira breve os conflitos em<br />
torno da Abolição. O registro torna-se pertinente pelo fato de a cultura negra<br />
ser uma das grandes excluídas da história, problema advindo desde o fato de<br />
sua característica oral, que pouco ou nada deixou escrito. De origem<br />
jornalística, o texto limita-se a comentar as datas de 13 de Maio e 20 de<br />
Novembro, significativas para a comunidade negra. No contexto liberal, a<br />
escravidão é o momento máximo do conflito entre idéias de igualdade civil com<br />
a prática violenta de discriminação racial. Com exceção de nomes isolados,<br />
como o de José Bonifácio de Andrada e Silva, o proposto liberalismo nacional<br />
não incluía rever a situação escrava. Isto não foi diferente em Rio Claro, mesmo<br />
depois da Abolição, passada a fase do idealismo libertário dos abolicionistas.<br />
Um dos pilares básicos do liberalismo internacional, apesar de leituras<br />
a ela refratárias, a Maçonaria foi um dos grandes expoentes da modernidade,<br />
em especial no século XIX. Não obstante seja expressiva a literatura<br />
internacional sobre seu histórico papel, os pesquisadores brasileiros mostramse<br />
displicentes em relação ao tema. O atual caráter discreto da instituição,<br />
anteriormente secreto por questões políticas, não parece justificar a lacuna<br />
mencionada. Isto porque as pesquisas reivindicadas poderiam tratar não das<br />
atividades internas da Maçonaria, algo a lhe ser reservado, mas sim das<br />
conseqüências de sua ação social, externa. Quanto a isso, as referências são<br />
clássicas, indo dos livros escolares a enciclopédias comuns. Fica aqui o<br />
agradecimento ao educador José de Campos Chagas, em memória, pela<br />
sinalização de dados elementares para desenvolvimento do tema. Quanto à fase<br />
do anticlímax pós-republicano são levadas em contas críticas às sociedades<br />
secretas, cujo corporativismo se indisporiam, por natureza, ao liberalismo<br />
democrático. Sobre este item, o texto recorre ao filósofo Olavo de Carvalho,<br />
segundo o qual, antes de contradição, haveria, no caso, coincidência de<br />
objetivos.<br />
Já na esfera da fantasia, elemento que deve ser incorporado aos<br />
estudos históricos, registra-se, a título de curiosidade, a legendária sociedade<br />
secreta dos advogados, a “Bucha”. Seu vínculo a Rio Claro seria exclusivamente<br />
referência feita ao senador Vergueiro, que além de fundador do município e um<br />
dos primeiros advogados de São Paulo, foi diretor da faculdade onde teria<br />
existido a “Bucha”. Os apontamentos sobre a “Bucha” são feitos com base em<br />
pesquisas do ex-membro da Academia Brasileira de Letras e ex-diretor do<br />
Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, Gustavo Barroso. Excluído maior da<br />
literatura, Barroso tem seus livros proibidos por pregarem virulento antisemitismo.<br />
Sua perseguição aos judeus e aos maçons é avaliada hoje como<br />
fruto de sua política interna no Partido Integralista, de natureza fascista.<br />
Barroso teria pretendido polemizar nacionalmente um tema que o levasse à<br />
condição de chefe supremo dos integralistas, cargo ocupado por Plínio Salgado.<br />
Tal intolerância mobilizou longos debates no país. Resta lembrar que Rio Claro