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OCULTOS E EXCLUÍDOS - Claudio Di Mauro

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especial, misto de medo e respeito, a certos elementos freqüentadores assíduos<br />

de determinados pontos das vias centrais. De lá, estas pessoas controlam<br />

casais, namorados, casamentos, adultérios, falências, desfalques, crimes e<br />

castigos”, considera a autora, ao que acrescenta um entrevistado, “são os<br />

melhores informantes sobre o tema – relações sexuais extra-conjugais numa<br />

comunidade do interior paulista”.<br />

É Davids que acrescenta, “a influência destes elementos não está<br />

restrita à classe média e média tradicional, entretanto, são destas classes as<br />

figuras mais representativas. Este grupo avocou o juízo sobre a vida privada de<br />

todos. Convém dizer que, embora seja tal comportamento criticado na cidade, o<br />

grupo é imitado por todos que têm oportunidade. Este é um componente de<br />

extrema importância na análise da consciência política dominante”, assinala.<br />

A autora encaminha seu trabalho assinalando que a mudança da<br />

estrutura rural para a industrial trouxe modificações ao processo político local,<br />

“não determinando, porém, a anulação de tal esquema”. O que mudou,<br />

segundo ela, foram as expectativas, os tipos de favores exigíveis e passíveis de<br />

serem concedidos. Ampliou-se a estrutura partidária, mas não se alterou<br />

basicamente a relação dos partidos com o eleitorado. A classe média emergente<br />

trouxe à tona expectativas diferentes, mas na estrutura do poder o “político de<br />

clientela” substituiu o coronel na mesma relação pessoal com os eleitores.<br />

A manutenção de tais formas de comportamento político dependeu<br />

também, em última instância, da permanência de um nível primário de<br />

relacionamento social baseado na existência de um vínculo pessoal entre<br />

candidato e eleitor, assegurando o tom personalista das campanhas e<br />

lideranças. O personalismo dos candidatos estaria submetido à condução de<br />

acordos de cúpulas que, em última análise, manteriam o controle geral do<br />

processo. As candidaturas escolhidas viriam de acordos e adequações<br />

oportunistas conforme as expectativas do eleitorado em meio às atualidades<br />

estadual e nacional. Quanto a isso, lamenta um eleitor da época, “este pessoal<br />

decide tudo antes de todo mundo; se você não concorda com as escolhas feitas<br />

por eles, você vota em branco ou anula seu voto. Anula sua opinião, mas nunca<br />

você vota totalmente contra eles”.<br />

Sem maiores significados para definição de candidaturas, as siglas<br />

partidárias são substituídas, em seu conteúdo programático, pelo contato direto<br />

do candidato com eleitores, característica do populismo alimentado por<br />

promessas de campanha. De forma geral, os critérios levados em conta na<br />

escolha do candidato são popularidade e influência no meio social. Cultura não<br />

vinha na lista de prioridades, é o que depreende pela entrevista de um político.<br />

“Os candidatos devem, na falta de cultura, saber disfarçar bem, e eu, modéstia<br />

à parte, sei”, afirma ele, orgulhoso. Daí nota Davids, “cultura e<br />

responsabilidade foram critérios apontados em propaganda de candidatos do<br />

PR, partido com representantes maçons, e, segundo alguns, foi por isso que<br />

eles não ganharam”.

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