OCULTOS E EXCLUÃDOS - Claudio Di Mauro
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amizade destes é considerado muito importante, principalmente porque uma<br />
forma de prejudicar um inimigo é cortar-lhe ou dificultar-lhe o crédito bancário,<br />
o que é possível extra-oficialmente quando o gerente é amigo”, considera a<br />
autora, alinhando o depoimento de um entrevistado.<br />
<strong>Di</strong>z ele, “os gerentes de banco facilitam muito ou muito pouco a vida<br />
da gente; é tudo dentro da possibilidade deles. O banco que facilita mais é o de<br />
Fulano”. Pelo depoimento percebe-se que o banco, como instituição,<br />
personaliza-se na figura de seu gerente. “O banco dá crédito de 5% a 10% do<br />
que a pessoa tem. Até certa quantia você tira em qualquer lugar. Se você é<br />
correntista, pode tirar. Senão, não. É norma geral. Agora, se você é amigo do<br />
gerente ele dá um jeitinho”.<br />
Há uma relativa discriminação entre pessoas importantes para o banco<br />
e as demais. As importantes não são aquelas que têm maiores contas. As<br />
consideradas mais importantes são as que dão ao banco maiores rendas, as<br />
que têm várias propriedades e que dão endosso no banco. O endosso custa<br />
dinheiro. Conforme o entrevistado, os gerentes “são conhecidos, ajudam o<br />
banco a fazer negócios, são muito relacionados e se chegam num bar para<br />
tomar café ninguém deixa que paguem. Todo comércio e indústria precisa deles<br />
e os chefes políticos os tratam muito bem”.<br />
Ao registrar a atuação do agiota junto ao poder econômico, a<br />
socióloga faz notar: “Embora podendo ser comparados aos gerentes de bancos<br />
ou corretores, pela extensão das relações abrangidas, os agiotas são diferentes<br />
pela conotação social que lhes é emprestada. São elementos da classe média<br />
que, embora mantendo contatos freqüentes com os elementos das classes<br />
tradicionais, não pertencem a estes círculos, nem são por eles considerados.<br />
Isto se explica não somente porque a classe tradicional não detém o capital na<br />
cidade, como também porque dele necessita para manter seu tipo de vida”.<br />
Ela prossegue, “faz-se nestes círculos algumas distinções entre<br />
aqueles que detêm a posse do capital (industriais e fazendeiros) e aqueles que<br />
representam o capital (corretores e agiotas). Por exemplo, os primeiros,<br />
embora influentes e como tal considerado, são indicados depreciadamente”.<br />
Sobre isso, comenta um entrevistado: “Fulano? ele só tem dinheiro e dinheiro<br />
não é tudo”. Volta a autora, acrescentando, “quanto aos segundos, nas<br />
entrevistas, a designação de corretor ou agiota indica aceitação social.<br />
Corretores são os agiotas aceitos socialmente ou pelo menos respeitados”.<br />
No aspecto cultural, a socióloga trata de incluir o que chama de<br />
“fofoqueiros”, como seriam chamados pelos entrevistados. Os membros desta<br />
categoria seriam influentes “na medida exata da força de difusão de seus<br />
mexericos”, mede Davids, conforme se lê.<br />
“Sensível ao diz-que-diz e dele fazendo seu divertimento preferido, as<br />
classes média e média alta, tradicionais ou não, dedicam uma reverência toda