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OCULTOS E EXCLUÍDOS - Claudio Di Mauro

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A critério da disponibilidade investigativa do leitor encontra-se<br />

oferecido material para refletir-se sobre o quanto a prática liberal é na realidade<br />

a grande excluída do processo. Entre o discurso liberal, cultuado desde a<br />

Independência, e sua prática efetiva, há evidência de significativa distância.<br />

Saber da dimensão que separa uma coisa da outra é um exercício proposto.<br />

Independentemente de dimensionar tal distância, aqui, neste prólogo apenas,<br />

limita-se sua caracterização simplesmente como fruto de antigo<br />

conservadorismo. Ao longo da edição, o leitor é poupado de maiores aventuras<br />

discursivas que viessem a tentar convencê-lo da idéia. Trata-se não mais do<br />

que isso: uma idéia.<br />

A referida distância, nada desprezível, para se dizer pouco, entre o<br />

ideal e o real, vem esboçada em suas linhas básicas no relato de como as idéias<br />

liberais refluíram na prática dos coronéis do café, que logo proclamada a<br />

República, imprimiram ao País uma política tão conservadora quanto a que<br />

combatiam. Tal prática sugere viva tradição.<br />

Em outros textos irá se ver que os intermináveis e inócuos debates<br />

para suprir a educação nacional de alguma legislação moderna, em nada<br />

implicaram de útil para professores e alunos ao longo do século XIX. Os<br />

professores foram vítimas permanentes da classe política naquele momento, o<br />

que nos remete imediatamente a refletir sobre o presente.<br />

Entre as biografias dos personagens da galeria apresentada, traços<br />

conflituosos serão encontrados com base na mesma evidência. Do contexto<br />

internacional, busca-se exibir através de Rio Claro no Império, a influência<br />

liberal dos norte-americanos quando aqui chegavam com propostas da Reforma<br />

Religiosa e nova pedagogia. Aquele emergente espírito liberal não encontrou<br />

curso reformista, prevalecendo o conservadorismo que finalmente desemboca,<br />

já no século XX, no golpe militar de 1964.<br />

O texto “Tito: da pena ao chumbo” remonta aos desconhecidos<br />

primórdios da educação pública no município, com a instalação em Rio Claro do<br />

primeiro professor primário, Tito Correa de Mello, em 1845. O ano é<br />

importante, uma vez que marca a origem da autonomia administrativa do<br />

município, até então vinculado a Limeira e Piracicaba. A partir dali, Rio Claro viu<br />

constituído seu poder público civil com instalação da Câmara Municipal, à qual<br />

correspondiam os poderes Executivo e Legislativo.<br />

Em meio a uma elite e povoada de analfabetos, Tito logo assume a<br />

função de redigir as atas das sessões da Câmara, o que significava inclusão na<br />

vida política. De rápida passagem pela atividade escolar, Tito transferiu-se para<br />

Botucatu, onde, por laços de casamento, tornou-se polêmico e violento coronel.<br />

Sua rápida biografia, no contexto vivido pelos demais professores que<br />

lecionaram no município, expõe de forma saliente a contradição de poderes<br />

entre educadores e proprietários de terras, além de ilustrar o obscurantismo<br />

civilizatório da ação coronelística em um país que ensaiava seus primeiros

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