12.11.2014 Views

Leituras de nós – ciberespaço e literatura. Alckmar - Itaú Cultural

Leituras de nós – ciberespaço e literatura. Alckmar - Itaú Cultural

Leituras de nós – ciberespaço e literatura. Alckmar - Itaú Cultural

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Soneto Achado no Poema do Príncipe dos Poetas Espanhóis<br />

Canto Oitava Verso<br />

Enchem-se os peitos todos <strong>de</strong> alegria 2 89 5<br />

com tantas qualida<strong>de</strong>s generosas, 1 74 6<br />

que exce<strong>de</strong>m as sonhadas fabulosas 1 11 6<br />

as festas <strong>de</strong>ste alegre e claro dia. 10 75 7<br />

Eis aparecem logo em companhia 1 45 1<br />

Musas <strong>de</strong> engran<strong>de</strong>cer-se <strong>de</strong>sejosas, 1 11 4<br />

que coroas vos tecem gloriosas 10 142 8<br />

com mostras <strong>de</strong> <strong>de</strong>vida cortesia. 1 56 4<br />

Quanto po<strong>de</strong> <strong>de</strong> Atenas <strong>de</strong>sejar-se 3 97 5<br />

tudo o soberbo Apolo aqui reserva 3 97 6<br />

no templo da suprema eternida<strong>de</strong>. 1 17 8<br />

E <strong>de</strong> Helicona as Musas fez passar-se 3 97 3<br />

o valeroso ofício <strong>de</strong> Minerva 3 97 2<br />

ilustrado com a régia dignida<strong>de</strong>. 10 54 3<br />

A pergunta que se po<strong>de</strong> fazer, então, é: quem seria o autor <strong>de</strong>sse soneto? Camões, que escreveu os versos todos?<br />

Ou Antônio <strong>de</strong> Oliveira, que os reuniu e <strong>de</strong>u-lhes a aparência e o ritmo do soneto, a coerência da forma e do<br />

assunto? Na verda<strong>de</strong>, não há sentido em propor uma autoria exclusiva: <strong>de</strong>vemos falar <strong>de</strong> zonas <strong>de</strong> autorias<br />

compartilhadas. Se pensamos em autor em termos <strong>de</strong> estranho atrator como foi sugerido anteriormente,<br />

po<strong>de</strong>mos pensar que há um primeiro nó no autor <strong>de</strong> Os Lusíadas e um segundo em Antônio <strong>de</strong> Oliveira. Todavia,<br />

é importante ressaltar que Oliveira não compôs propriamente um soneto, mas uma maneira <strong>de</strong> ler, reescrevendo<br />

a epopéia camoniana. Ou seja, ele produziu <strong>de</strong> fato um processo <strong>de</strong> transformação do poema <strong>de</strong> Camões. Em<br />

princípio, não seria fundamentalmente distinto do que faz, por exemplo, o próprio Camões com sonetos <strong>de</strong><br />

Petrarca; ou Gregório <strong>de</strong> Matos com poemas <strong>de</strong> Góngora e Quevedo. Mas, nesses casos, trata-se <strong>de</strong> transformações<br />

a partir dos significantes originais e não com os próprios significantes originais, como ocorre com o processo<br />

proposto por Oliveira e que po<strong>de</strong> ser também posto em prática por outros leitores. Nós mesmos po<strong>de</strong>ríamos nos<br />

comprazer em montar sonetos a partir d’Os Lusíadas, o que traria junto essa dúvida sobre a autoria dos poemas<br />

resultantes. Quem seria o autor <strong>de</strong>les? Camões, que escreveu os versos? Oliveira, que inventou o método <strong>de</strong><br />

seleção e montagem? Ou nós próprios, leitores contemporâneos que produzimos os poemas com base em versos<br />

70

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!