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Leituras de nós – ciberespaço e literatura. Alckmar - Itaú Cultural

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Novas Estéticas Eletrônicas?<br />

Nunca é <strong>de</strong>mais reafirmar que tudo que aqui se discute privilegia as perspectivas do campo literário; a ele<br />

se dirige. Todavia, como arte que é também, a <strong>literatura</strong> nos permite apostar em algumas generalizações<br />

que apontam para um campo artístico aberto, plural e multiexpressivo. Falamos, nesse caso, <strong>de</strong> artes que,<br />

exatamente por serem artes, ainda sabem escapar aos inúmeros arquipélagos que as tendências, os<br />

movimentos, os estilos, os instrumentos e os processos invariavelmente acabam criando. Vai aí, como ficou<br />

evi<strong>de</strong>nte, uma visão do campo artístico que, exatamente por não ser platonizante, sabe fugir <strong>de</strong> todo e<br />

qualquer essencialismo i<strong>de</strong>alista. Ao mesmo tempo, não recusa o apoio das sistematizações, das<br />

classificações e das or<strong>de</strong>nações. As reflexões que se seguem não vão certamente encontrar nem paralelo,<br />

nem mesmo muito respaldo em boa parte das críticas e das teorias contemporâneas das artes plásticas e<br />

visuais. É apenas (e como sempre) um olhar limitado que, jungido ao campo literário, ousa falar das artes<br />

em geral. Olhar limitado, mas não limitante, é o que se espera.<br />

* * *<br />

Primeiramente, insista-se que se <strong>de</strong>ve mencionar aqui “artes”, assim mesmo, no plural, multiplicadas que são<br />

pelos meios e pelas estratégias <strong>de</strong> produção do objeto artístico. E mesmo as artes literárias, elas não <strong>de</strong>ixam<br />

atualmente <strong>de</strong> ser atingidas pela impermanência (constante) e pela obsolescência (eventual e relativa) dos<br />

suportes, das linguagens, das estéticas. Daí a dificulda<strong>de</strong> (que vem, aliás, ganhando relevo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do<br />

século XX) <strong>de</strong> se <strong>de</strong>finir estilos ou movimentos. Disso resulta que, no atual estágio das artes, tem sido mais<br />

freqüente falar <strong>de</strong> utensílios ou <strong>de</strong> técnicas para <strong>de</strong>finir ou <strong>de</strong>screver um objeto artístico ou um artista do<br />

que apostar em invariantes que extrapolem o hic et nunc do objeto produzido e do gesto que o produziu<br />

(nem se fale, então, <strong>de</strong> gêneros literários, aparentemente relegados em <strong>de</strong>finitivo à vala comum do<br />

esquecimento). Essa multiplicação <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> produção dos objetos artísticos temse<br />

escorado muito freqüentemente num discurso teórico paralelo ao objeto ou ao gesto artístico. Digo<br />

paralelo, pois tais discursos, por mais que finjam, não conseguem jamais entrar completamente na esfera do<br />

artístico: se assim o fizessem, <strong>de</strong>ixariam <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar justamente o papel para que foram criados, isto é,<br />

o <strong>de</strong> exercer a função <strong>de</strong> um cinturão conceitual em torno do objeto artístico e apto a justificar cada<br />

arbitrarieda<strong>de</strong>, transformando, por vezes, improvisos ou fraquezas em algo digno <strong>de</strong> interesse. Os antigos<br />

critérios <strong>de</strong> valor estético – enfraquecidos com justiça por seu caráter prescritivo – foram simplesmente<br />

substituídos por uma argumentação sofística. Sofisticada, sim, às vezes, mas quase sempre sofística.<br />

44<br />

Em resumo, muitos dos objetos e dos gestos artísticos, faltos <strong>de</strong> qualquer inserção evi<strong>de</strong>nte e intencional<br />

numa linha cronológica, temática, estética ou até mesmo i<strong>de</strong>ológica – por que não? –, não têm outra<br />

alternativa a não ser esta: <strong>de</strong>sdobrarem-se, multiplicarem-se in<strong>de</strong>finidamente, numa espécie <strong>de</strong> fuga para<br />

adiante que evite qualquer acerto <strong>de</strong> contas com outras produções e outros produtores. Com isso, obrigamse<br />

a se fazer acompanhar <strong>de</strong>ssa coorte <strong>de</strong> textos teóricos e reflexivos que pretensamente justificariam sua<br />

inserção no rol dos objetos artísticos. Mas não há discurso teórico ou “palavra pintada” 19 que esconda<br />

permanentemente o improviso e a falta <strong>de</strong> conhecimento, o recurso em última instância aos readyma<strong>de</strong>s,<br />

que apenas revelam <strong>de</strong>sesperada (ou <strong>de</strong>sesperançada) falta <strong>de</strong> imaginação. O coletivo Wu-Ming, um dos

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