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Leituras de nós – ciberespaço e literatura. Alckmar - Itaú Cultural

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opressora por se dar justamente no espaço limitado <strong>de</strong> uma tela <strong>de</strong> 15 polegadas. Com isso, confun<strong>de</strong>m-se,<br />

talvez até ingenuamente, metafísicas <strong>de</strong> aparência e metafísicas <strong>de</strong> essência, produzindo um platonismo às<br />

avessas em que as presenças i<strong>de</strong>ais (ou avatares) é que seriam capazes <strong>de</strong> produzir, a distância, as essências<br />

do mundo exterior e as subjetivida<strong>de</strong>s dos outros.<br />

* * *<br />

Com base em tudo o que se afirmou anteriormente, po<strong>de</strong>mos, talvez, fazer uma imagem <strong>de</strong>sse saber<br />

internético. Ele só se torna possível quando conseguimos escapar às ilusões e aos simulacros do ciberespaço.<br />

Nesse caso, temos um conhecimento que se dá em re<strong>de</strong> ou, ainda, que se dá como re<strong>de</strong> textual (ou como texto<br />

em re<strong>de</strong>), <strong>de</strong>rivando diretamente da natureza intersubjetiva <strong>de</strong> todo gesto significativo, <strong>de</strong> todo projeto <strong>de</strong><br />

significação, <strong>de</strong> todo objeto significante. Somente esse saber po<strong>de</strong> dar à multiplicida<strong>de</strong> dos espaços telemáticos<br />

n-dimensionais um sentido não unívoco, mas capaz <strong>de</strong> sedimentar e <strong>de</strong> possibilitar aquisições e doações <strong>de</strong><br />

significações. Daí, em princípio, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assentar esse saber internético em alguns pressupostos:<br />

1) Ele <strong>de</strong>ve ter por trás o esforço constante <strong>de</strong> expandir a taxa <strong>de</strong> circulação motivada e bem-sucedida das<br />

informações. Com isso, po<strong>de</strong>-se reduzir drasticamente o risco <strong>de</strong> uma hiperinflação informativa, seja pelo<br />

modo como disponibilizamos na re<strong>de</strong> informações, conceitos, idéias, processos etc., seja pelo modo como nos<br />

utilizamos das ferramentas telemáticas e das manipulações interativas e iterativas (vale dizer, repetitivas, a<br />

gran<strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>). Nesse sentido, tal esforço retoma, ainda que parcialmente, o projeto iluminista <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>mocratizar o acesso a certos bens culturais, pela criação <strong>de</strong> aristocracias pontuais que, com base na intensa<br />

mobilida<strong>de</strong> inerente à re<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>m espraiar-se incessantemente por outros nós e regiões outras. Com efeito,<br />

trata-se <strong>de</strong> um saber que não se subordina mais a qualquer centralida<strong>de</strong> previamente instituída, mas faz <strong>de</strong><br />

seu movimento (ou percurso) <strong>de</strong> cognição a própria centralida<strong>de</strong> funcional <strong>de</strong> que falava Derrida.<br />

2) Esse saber internético, por meio da interconectivida<strong>de</strong> inerente ao ciberespaço, <strong>de</strong>ve ser aquele capaz <strong>de</strong><br />

fazer-se concreta e verda<strong>de</strong>iramente inter e transdisciplinar (<strong>de</strong> que tanto se tem falado, mas, <strong>de</strong> fato,<br />

pouco viabilizado). Todavia, isso somente se obtém quando <strong>de</strong>ixamos aflorar, explicitamente, a<br />

intersubjetivida<strong>de</strong> inerente a toda forma <strong>de</strong> linguagem, e fazemos <strong>de</strong>la a mediatriz <strong>de</strong> nossos percursos e<br />

mapeamentos cognitivos do ciberespaço (quando aí produzimos e lemos objetos significantes). Em certo<br />

sentido, trata-se <strong>de</strong> revestir <strong>de</strong> linguagem o exterior do ciberespaço, o que significa dar a ele uma<br />

exteriorida<strong>de</strong>, tirando-o do pe<strong>de</strong>stal <strong>de</strong> forma absoluta e <strong>de</strong>finitiva em que exterior e interior se<br />

confundiriam. Entre muitos dos teóricos contemporâneos que se <strong>de</strong>bruçaram sobre a internete, é comum<br />

que a <strong>de</strong>screvam como um labirinto ou ainda como uma curva <strong>de</strong> Moebius, per<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> vista que, na<br />

verda<strong>de</strong>, apenas a linguagem po<strong>de</strong> ser metaforizada <strong>de</strong>ssa forma com justeza e acerto. Em suma, se o<br />

ciberespaço por vezes se finge <strong>de</strong> infindo ou interminável, compete a nós não cairmos nesse engodo e dar<br />

a ele a medida e o alcance que lhe cabem e, sobretudo, não nos iludirmos com isso que é apenas aparência<br />

ou simulacro (e pensar que po<strong>de</strong>mos tudo conhecer instantaneamente). Entre a aparência e o<br />

conhecimento verda<strong>de</strong>iro há uma diferença fundamental, aquela mesma que po<strong>de</strong>mos encontrar entre o<br />

diletantismo e a erudição. Os primeiros (aparência e dilentatismo) não passam <strong>de</strong> admiração infértil e<br />

narcísica por si mesmos; os segundos (conhecimento verda<strong>de</strong>iro e erudição) apontam para uma<br />

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