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Leituras de nós – ciberespaço e literatura. Alckmar - Itaú Cultural

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Saber o/no/do Ciberespaço<br />

Como po<strong>de</strong> ser possível alguma construção <strong>de</strong> saberes no ciberespaço baseada nas condições <strong>de</strong> contorno <strong>de</strong><br />

uma tradição <strong>de</strong> pensamento ainda fortemente ancorada no meio impresso? Para respon<strong>de</strong>r a isso talvez seja<br />

útil discutir primeiro como vem ocorrendo a passagem <strong>de</strong> obras originalmente <strong>de</strong>stinadas ao suporte<br />

impresso para o meio eletrônico. Essa alteração envolve uma série <strong>de</strong> elementos que dizem respeito não<br />

apenas à produção e à disseminação <strong>de</strong> textos. Ela é produzida num espaço híbrido <strong>de</strong> circulação <strong>de</strong> objetos<br />

culturais – implicando um diálogo entre o meio telemático e o meio impresso – e está ligada, afinal <strong>de</strong> contas,<br />

à estruturação <strong>de</strong> um saber que, na falta <strong>de</strong> melhor <strong>de</strong>nominação, po<strong>de</strong>mos já chamar internético, termo<br />

que <strong>de</strong>signaria a produção do conhecimento em re<strong>de</strong>s telemáticas. De toda maneira, se ao final não ficar<br />

convencido do acerto e valida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse arremedo <strong>de</strong> conceito – internético –, o leitor po<strong>de</strong>rá ainda aproveitar<br />

a inesperada sonorida<strong>de</strong> da palavra, que ao menos agradará, mesmo sem ter plenamente convencido.<br />

Primeiramente, é importante explicitar os contextos e as referências da questão colocada para po<strong>de</strong>rmos<br />

ver alguma coerência nesse saber internético. Nos últimos anos, o Núcleo <strong>de</strong> Pesquisas em Informática,<br />

Literatura e Lingüística, Nupill, da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina tem disponibilizado na re<strong>de</strong><br />

obras clássicas da <strong>literatura</strong> brasileira. E, diga-se <strong>de</strong> passagem, não é o único: projetos <strong>de</strong>sse tipo têm<br />

pululado e, entre eles, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar o trabalho <strong>de</strong>senvolvido pela Biblioteca Nacional. Em linhas<br />

gerais, o que se tem pretendido, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, é trazer para o meio eletrônico obras que foram concebidas<br />

inicialmente para o meio impresso. Porém, o espaço das mediações e das trocas culturais é um sistema <strong>de</strong><br />

vasos comunicantes, e, claro, uma obra disponibilizada em formato eletrônico não teria como ficar<br />

totalmente presa ao meio em que é inserida: é assim que textos eletrônicos, vindos do meio impresso, têm<br />

retornado a ele; caso, por exemplo, da Carta <strong>de</strong> Pero Vaz <strong>de</strong> Caminha, que nos meses que antece<strong>de</strong>ram a<br />

comemoração dos 500 anos da chegada dos portugueses ao Brasil, no ano <strong>de</strong> 2000, foi amplamente<br />

divulgada e, mais, publicada e impressa, em alguns casos, com base na versão eletrônica disponibilizada<br />

pelo Nupill. Com isso, uma obra difundida durante séculos no meio impresso entra no espaço telemático<br />

para, em seguida, ser levada <strong>de</strong> volta a seu leito original. É claro que nada ligaria a atual edição impressa<br />

a sua origem eletrônica se não fosse a informação, mencionada pelos responsáveis das novas edições, <strong>de</strong><br />

que o Nupill era o responsável pela versão eletrônica da Carta.<br />

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No que se refere ao meio eletrônico, ainda quando disponibiliza obras originalmente concebidas para o<br />

meio impresso, ele propõe outras ferramentas e, por conseguinte, outros paradigmas <strong>de</strong> leitura. Sem nos<br />

alongarmos em <strong>de</strong>masia, basta pensar no comando localizar (find, nessa salada linguageira que assola a<br />

re<strong>de</strong>), disponível tanto nos editores <strong>de</strong> texto quanto nos navegadores. Ele representa uma economia <strong>de</strong><br />

tempo consi<strong>de</strong>rável na localização <strong>de</strong> palavras ou expressões que, em caso contrário, seriam dificilmente<br />

reencontradas pelo leitor. Com isso, é o tempo, o ritmo e mesmo a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> leitura que se po<strong>de</strong>m<br />

modificar, conforme ritmos e velocida<strong>de</strong>s que resultam <strong>de</strong> um novo acordo, não mais entre nossas<br />

contingências físicas e uma folha <strong>de</strong> papel impressa e dando-se apenas ao olhar, mas <strong>de</strong> uma combinação<br />

entre as mesmas contingências físicas nossas e instrumentos <strong>de</strong> navegação e <strong>de</strong> leitura informáticos (que<br />

são propostos e intermediados por um aparato eletrônico que inclui elementos como mouses e teclados,<br />

imagens <strong>de</strong> cursores e <strong>de</strong> ícones, gestos e movimentos como cliques e ações <strong>de</strong> cortar/colar). Mas tudo isso,

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