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Leituras de nós – ciberespaço e literatura. Alckmar - Itaú Cultural

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Enfim, sem que se instale uma verda<strong>de</strong>ira reversibilida<strong>de</strong> entre real e virtual, não se vai além da dicotomia, da<br />

oposição entre um e outro. E, nesse caso, ao se tentar ir <strong>de</strong> um a outro – isto é, dos simulacros para o real –,<br />

o que se faz, na verda<strong>de</strong>, é um percurso fechado em si próprio e vedado a tudo e a todos, limitado ao pior <strong>de</strong><br />

um e <strong>de</strong> outro (um relativismo que se torna absoluto), uma volta ao redor do quarto que nunca será viagem<br />

para fora <strong>de</strong> si. Muito embora se possa cultivar a ilusão <strong>de</strong> que se avança no conhecimento do mundo, a partir<br />

dos simulacros que se produzem <strong>de</strong>le em profusão, o que se tem, na verda<strong>de</strong>, é apenas um faz-<strong>de</strong>-conta que<br />

somente convence alguns pela quantida<strong>de</strong> e pela velocida<strong>de</strong> com que vai produzindo significantes sem mais<br />

significação possível, sem apontar para sentido algum, sem permitir nenhum espaço on<strong>de</strong> se exercitem e se<br />

exerçam gestos expressivos compartilhados. Como se o tabuleiro – ou seja, o meio eletrônico, com suas<br />

ferramentas e processos telemáticos – pu<strong>de</strong>sse já representar todo o jogo, ou como se este se reduzisse às<br />

peças e às regras, po<strong>de</strong>ndo passar perfeitamente sem os jogadores e as jogadas. Ou ainda, como se a repetição<br />

incontrolável e quase automática <strong>de</strong> simulacros e simulações, nesse ciberespaço <strong>de</strong> telemáticas quantida<strong>de</strong>s,<br />

se impusesse per se. E, se volto à metáfora do jogo, é justamente para mostrar que até mesmo ela é tomada<br />

e entendida <strong>de</strong> forma insuficiente e, no mais das vezes, simplista. É necessário – repito – exercer essa<br />

reversibilida<strong>de</strong> entre um e outro, tornar os simulacros e a própria virtualida<strong>de</strong> uma das maneiras não <strong>de</strong> acesso<br />

direto ao real, mas <strong>de</strong> expressão no/do real; do mesmo modo, é preciso fazer do real um movimento em que<br />

se exercitem posições e perspectivas, mapeando significações, tentando sentidos, propondo significantes,<br />

repetindo e alterando os dados e as posições <strong>de</strong> si, como nos processos <strong>de</strong> tentativa-e-erro, acima <strong>de</strong>scritos, e<br />

que não são nada mais nada menos do que o exercício <strong>de</strong> uma existência diretamente implicada no mundo e<br />

com outras pessoas, o exercício <strong>de</strong> uma expressão que é vital e imediata, por ser plural, limitadamente plural.<br />

Tais reversibilida<strong>de</strong>s várias – como essas entre real e virtual – permitem chegar a outras dinâmicas <strong>de</strong><br />

elementos, expressões e categorias reversíveis. No espaço mais geral das textualida<strong>de</strong>s – nosso campo<br />

específico e privilegiado <strong>de</strong> investigação –, po<strong>de</strong>mos tomar as categorias sugeridas por Genette para enten<strong>de</strong>r<br />

e aprofundar melhor essa questão. É possível falar aí <strong>de</strong> uma textualização geral das instâncias metatextuais.<br />

Em outras palavras, as categorias textuais seriam elas também objeto <strong>de</strong> interferências e reversibilida<strong>de</strong>s. Os<br />

diferentes tipos <strong>de</strong> transtextualida<strong>de</strong> se colocariam como nós <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um espaço mais geral, po<strong>de</strong>ndo ser<br />

até mesmo chamado apenas <strong>de</strong> espaço das textualida<strong>de</strong>s. O mesmo ocorreria também com os gêneros<br />

literários, que não só mapeariam um seu espaço dos gêneros, obviamente, mas também permitiriam<br />

correspondências, correlações e fisionomias <strong>de</strong> variada fatura e jeito – como ocorre sempre nessa<br />

espacialida<strong>de</strong> que não se limita mais à geometria já bem conhecida das três dimensões e do tempo irreversível<br />

–, dando a experimentar proximida<strong>de</strong>s e vizinhanças até então insuspeitas ou improváveis, como aquelas<br />

entre prosa e poesia. Tomando então o que diz o próprio Gérard Genette, po<strong>de</strong>mos ler: “... il ne faut pas<br />

considérer les cinq types <strong>de</strong> transtextualité comme <strong>de</strong>s classes étanches, sans communication ni recoupements<br />

réciproques. Leurs relations sont au contraire nombreuses et souvent décisives”. 17 Na seqüência, ele cita quatro<br />

<strong>de</strong>ssas relações hipertextuais – hipertextos alógrafos; hipertextos autógrafos com hipotexto autônomo;<br />

hipertextos autógrafos com hipotexto ad hoc; hipertexto com hipotexto implícito –, sem que nada nos impeça<br />

<strong>de</strong> ir além e propor um segundo nível <strong>de</strong> relações, isto é, nas possíveis relações entre aquelas relações<br />

primeiras. A partir disso, po<strong>de</strong>mos pensar não apenas na produção <strong>de</strong> (ou na construção <strong>de</strong> referências a)<br />

diversos e inúmeros hipotextos, a partir das ferramentas e processos que nos permite o meio eletrônico. É<br />

igualmente legítimo conceber processos <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> hipertextos (entendido este termo na acepção mais<br />

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