“... je découvre en moi une sorte <strong>de</strong> faiblesse interne qui m’empêche d’êtreabsolument individu et m’expose au regard <strong>de</strong>s autres comme un homme parmi les hommes ou au moins une conscience parmi les consciences.” 1 Maurice Merleau-Ponty, Phénoménologie <strong>de</strong> la Perception
Excesso e Excessivo Debordamentos e reformatações po<strong>de</strong>m constituir a forma e a fôrma visíveis e jamais estáveis dos textos em espaços eletrônicos <strong>de</strong> escrita e criação. Ao menos é o que se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>r das transformações sofridas efetivamente pelos corpora textuais que, em espaços concretamente hipertextuais, são dados a ler, com as conseqüentes transformações experimentadas em seus espaços perceptivos, pelos corpos que se colocam em situação <strong>de</strong> leitores. Ora, é exatamente essa concretu<strong>de</strong> hipertextual que começa a nos dar o alcance e a experiência dos <strong>de</strong>bordamentos e das reformatações, dos transbordos e das reformações. É como se a espessura fenomênica <strong>de</strong> nosso corpo próprio, esse <strong>de</strong> leitores empiricamente colocados diante <strong>de</strong> telas e <strong>de</strong> procedimentos interativos, encontrasse novas vizinhanças, inéditas superfícies, inauditos volumes em que exercitar nossa capacida<strong>de</strong> expressiva. Em outras palavras, esses <strong>de</strong>bordamentos e reformatações a que somos chamados a habitar em nossas leituras traduzem a maleabilida<strong>de</strong> por vezes surpreen<strong>de</strong>nte e inesperada dos textos eletrônicos, sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acumular <strong>de</strong>talhes e minúcias, <strong>de</strong> amealhar pretensas irrelevâncias, <strong>de</strong> absorver novas regiões, <strong>de</strong> solapar fronteiras, <strong>de</strong> permitir novas aparências e outros prazos. Há, inicialmente, um excesso – isso a que chamamos <strong>de</strong>bordamento – que acarreta duas conseqüências. Mas, antes <strong>de</strong> falarmos <strong>de</strong>las especificamente, vamos percebê-las e – talvez melhor – apreendê-las com base na obra Antologia Labiríntica. O que se lê nesses hipertextos, tais como essa Antologia <strong>de</strong> André Vallias? Como o próprio autor indica, logo na abertura do seu hipertexto: Para se ler ou talvez leer (<strong>de</strong> laere, lari) no alemão = vazio: etimologicamente, aquilo que <strong>de</strong> um campo ceifado po<strong>de</strong> ser ainda recolhido (aufgelesen): <strong>de</strong> lesen = catar, separar, ler... ou talvez “Caminar: leer un trozo <strong>de</strong> terreno, <strong>de</strong>scifrar un pedazo <strong>de</strong> mundo. La lectura consi<strong>de</strong>rada como un camino hacia...” De um lado – e temos aí a primeira conseqüência –, essa leitura po<strong>de</strong> ser a acumulação do inútil: não um “encaminhamento em direção à palavra” (e ao ser), como proporia um Hei<strong>de</strong>gger, mas um caminho em círculos e sem saídas, iluminando um pedaço muito exíguo do mundo, um rococó eletrônico, uma justaposição <strong>de</strong> insignificâncias, uma exuberância <strong>de</strong> superficialida<strong>de</strong>s. Ocorre que, ao pôr em relevo justamente as superficialida<strong>de</strong>s, per<strong>de</strong>-se toda e qualquer possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>bordamentos uma complexificação das leituras e dos leitores. Essa manifestação do excesso, assim, não levaria a nenhum aprofundamento do objeto a ser lido e do espaço em que se o lê, mas a um aumento inócuo e <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado 113
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