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Leituras de nós – ciberespaço e literatura. Alckmar - Itaú Cultural

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texto oral se funda no que ali chamávamos <strong>de</strong> espera <strong>de</strong> sentidos, essa incompletu<strong>de</strong> imediata na<br />

articulação dos significantes. Quanto ao hipertexto, ele finge dar acesso a uma totalida<strong>de</strong> plural e<br />

imediatamente disponível, simulando – apenas simulando – uma disponibilida<strong>de</strong> direta da infinitu<strong>de</strong><br />

potencial da linguagem. E, com base nisso, po<strong>de</strong>mos discernir outra diferença entre oral e eletrônico. Ela<br />

estaria no modo como a temporalida<strong>de</strong> se dá a ver nas duas formas <strong>de</strong> armação textual, assim como na<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dados e <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> produção textual, que são muito maiores no hipertexto, conforme<br />

já se discutiu. É importante salientar que essa diferença quantitativa implica uma alteração qualitativa no<br />

papel do leitor: ele não vai só ter que lidar com uma maior quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informações e <strong>de</strong> inferências,<br />

mas vai ter que <strong>de</strong>senvolver estratégias <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> leitura(s) que concretize(m) esse plural do qual é<br />

feito (agora concretamente) o hipertexto.<br />

* * *<br />

O <strong>de</strong>safio para o estudioso dos novos textos eletrônicos é, então, bem <strong>de</strong>limitar seu campo <strong>de</strong> estudo, <strong>de</strong> forma<br />

a compreen<strong>de</strong>r como esse vínculo com tradições outras e meios outros, como o oral, po<strong>de</strong> aparecer <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

um paradigma tecnológico totalmente diverso das culturas não escritas. Em outras palavras, nossa empreita é<br />

enten<strong>de</strong>r como a novida<strong>de</strong> se opõe e se associa ao antigo ao mesmo tempo. Para isso, torna-se necessário<br />

pensar no texto – seja ele <strong>de</strong> que tipo for, qualquer que seja o meio em que ele é produzido – com base em<br />

uma perspectiva geral, abrangente, inaugural, enten<strong>de</strong>ndo-o como produtivida<strong>de</strong>. E mais, no que se refere<br />

às diferentes produtivida<strong>de</strong>s textuais, ou seja, às especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada tipo <strong>de</strong> texto, com seu respectivo meio<br />

<strong>de</strong> disseminação, po<strong>de</strong>-se falar <strong>de</strong> uma transtextualida<strong>de</strong>, no sentido <strong>de</strong> uma generalida<strong>de</strong> inaugural <strong>de</strong> todo<br />

e qualquer texto. Contudo, tomando essa generalida<strong>de</strong> inaugural dos textos, esse grau zero da escrita que faz<br />

possível toda textualida<strong>de</strong> (quer dizer o texto oral, o texto manuscrito, o texto impresso e, finalmente, o texto<br />

eletrônico), a novida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste último estaria, assim, não na inauguração <strong>de</strong> um novo horizonte <strong>de</strong> sentidos, mas<br />

na maneira como esse horizonte aparece diante <strong>de</strong> nós indiretamente, por intermédio do texto eletrônico, e<br />

sobretudo na maneira como ele se <strong>de</strong>ixa refletir pela ativida<strong>de</strong> específica <strong>de</strong> significação, intrínseca a todo<br />

texto. No caso do hipertexto, trata-se <strong>de</strong> dois elementos centrais que lhe dão sua fisionomia própria, sua<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir significações: a velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> circulação e <strong>de</strong> <strong>de</strong>sdobramento (vale dizer, <strong>de</strong><br />

sedimentação) das obras, com base em uma arquitetura <strong>de</strong> significantes até então impossível.<br />

No que diz respeito a essa arquitetura, basta pensar na maneira como um mero ensaio teórico como este po<strong>de</strong><br />

ser redigido e, então, lido por meio <strong>de</strong> simples programas <strong>de</strong> edição <strong>de</strong> textos ou <strong>de</strong> HTML. 14 As reflexões nele<br />

propostas se po<strong>de</strong>m dar a partir <strong>de</strong> ligações que levem a comentários que, por sua vez, extrapolam o antigo<br />

espaço das notas <strong>de</strong> rodapé ou <strong>de</strong> final <strong>de</strong> capítulo, tão freqüentes na tradição impressa; esses comentários<br />

po<strong>de</strong>m estar diretamente associados a alguns termos <strong>de</strong> um texto-base, permitindo assim uma navegação<br />

diferente do espaço impresso, eludindo a or<strong>de</strong>m linear e a seqüencialida<strong>de</strong> cronológica, até então habituais, das<br />

partes sucessivas da escrita pré-eletrônica. De fato, a eventual numeração <strong>de</strong> cada comentário per<strong>de</strong>ria qualquer<br />

veleida<strong>de</strong> organizativa, servindo apenas <strong>de</strong> ligação entre o termo sublinhado e o comentário que se <strong>de</strong>senvolve<br />

a partir <strong>de</strong>le. Em lugar <strong>de</strong> números, po<strong>de</strong>r-se-ia colocar qualquer outro signo, pois a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> leitura não está<br />

<strong>de</strong>finida <strong>de</strong> antemão por uma progressão aritmética, mas por uma pluralida<strong>de</strong> (e não uma infinitu<strong>de</strong>, ressaltese)<br />

<strong>de</strong> or<strong>de</strong>ns possíveis, permitidas pelos instrumentos e pelas características próprias do hipertexto.<br />

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