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Leituras de nós – ciberespaço e literatura. Alckmar - Itaú Cultural

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Para aprofundar, então, um pouco mais essas questões sobre novida<strong>de</strong> ou repetição, talvez seja interessante<br />

tomar como ponto <strong>de</strong> partida mais algumas reflexões <strong>de</strong> Pierre Lévy, não apenas pelo modismo que muitos,<br />

ingenuamente, ainda associam a seu nome e a suas idéias, mas pelo interesse <strong>de</strong> suas intuições teóricas<br />

(ainda que ele não tenha conseguido dar-lhes conseqüência e retaguarda <strong>de</strong> modo mais convincente).<br />

Vamos retomar outros três comentários seus:<br />

“...les individus <strong>de</strong> culture écrite ont tendance à penser par catégories quand les gens <strong>de</strong> culture orale<br />

appréhen<strong>de</strong>nt d’abord <strong>de</strong>s situations...” 11<br />

“L’homme ‘nu’, tel qu’il est étudié et décrit par les laboratoires <strong>de</strong> psychologie cognitive, sans ses<br />

technologies intellectuelles ni le secours <strong>de</strong> ses semblables, recourt spontanément à une pensée <strong>de</strong> type oral,<br />

centrée sur les situations et les modèles concrets. La ‘pensée logique’ correspond à une strate culturelle<br />

récente liée à l’alphabet et au type d’apprentissage (scolaire) qui lui correspond.” 12<br />

“... le savoir informatisé ne vise pas la conservation à l’i<strong>de</strong>ntique d’une société se vivant ou se voulant<br />

immuable, comme dans le cas <strong>de</strong> l’oralité primaire. Il ne vise pas non plus la vérité, à l’instar <strong>de</strong>s genres<br />

canoniques nés <strong>de</strong> l’écriture que sont la théorie ou l’herméneutique. Il cherche la vitesse et la pertinence <strong>de</strong><br />

l’éxecution, et plus encore la rapidité et l’à propos du changement opératoire.” 13<br />

As distinções entre uma socieda<strong>de</strong> da telemática e as socieda<strong>de</strong>s da imprensa e da oralida<strong>de</strong> dizem respeito,<br />

como se po<strong>de</strong> inferir do termo escolhido – socieda<strong>de</strong>s –, a uma diferença entre formas, ritmos e meios <strong>de</strong><br />

circulação dos objetos culturais por elas produzidos, e não a formas distintas <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong>. No caso, os<br />

comentários <strong>de</strong> Pierre Lévy parecem se fundar numa visão já <strong>de</strong> há muito ultrapassada, ao menos <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

Lévy-Bruhl, o <strong>de</strong> um estado pré-lógico das socieda<strong>de</strong>s humanas. E tal juízo parece remeter a uma concepção<br />

estreita e simplista <strong>de</strong> “lógica”, na medida em que se <strong>de</strong>scartam como ilógico, pré-lógico ou antilógico tudo<br />

o que escapa a certa organização discursiva, her<strong>de</strong>ira das formas argumentativas tradicionais (silogísticas,<br />

na maioria); como se essas organizações discursivas fossem capazes <strong>de</strong> encerrar toda a complexida<strong>de</strong> das<br />

produções do pensamento; como se, finalmente, entre pensamento (sempre o “pensamento lógico”, claro!)<br />

e expressão verbal houvesse uma subordinação <strong>de</strong>sta última àquele primeiro. Aceitando as posições <strong>de</strong><br />

Pierre Lévy, chegaríamos a um percurso interessante: <strong>de</strong> um mal disfarçado indutivismo epistemológico, ele<br />

salta para um positivismo quase panfletário, chegando, enfim, a um relativismo bastante afeito às<br />

perspectivas pós-mo<strong>de</strong>rnas. Primeiramente, creio que não se trata mesmo <strong>de</strong> mera coincidência o fato <strong>de</strong><br />

ele retomar o esquema tríplice <strong>de</strong> Auguste Comte. A evolução que este propõe para as ciências e o espírito<br />

humano (passando sucessivamente pelas fases teológica, metafísica e positiva) não <strong>de</strong>ixa mesmo <strong>de</strong><br />

correspon<strong>de</strong>r ao que Pierre Lévy postula como progresso da cultura (dividida em oralida<strong>de</strong>, escrita impressa<br />

e cibercultura). Nos dois esquemas, há a inequívoca <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> uma evolução que é <strong>de</strong>terminada pelos<br />

elementos objetivos da experiência do homem. E o espírito humano? Ah! Este <strong>de</strong>dica-se a apren<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

acordo com o acaso criador que po<strong>de</strong> lhe dar (ou não) ferramentas com que se divertir e evoluir.<br />

Assim, talvez seja mais justo explorarmos as distinções entre texto eletrônico e texto oral, a partir, por<br />

exemplo, dos diferentes ritmos <strong>de</strong> produção, <strong>de</strong> <strong>de</strong>cantação e <strong>de</strong> sedimentação, como propusemos acima: o<br />

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