12.11.2014 Views

O Descobrimento do Brasil na Obra de Max Justo Guedes - Academia

O Descobrimento do Brasil na Obra de Max Justo Guedes - Academia

O Descobrimento do Brasil na Obra de Max Justo Guedes - Academia

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O DESCOBRIMENTO DO BRASIL<br />

NA OBRA DE MAX JUSTO GUEDES<br />

Comunicação apresentada <strong>na</strong> Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong><br />

Marinha pelo Académico Emérito António<br />

Dias Farinha, <strong>na</strong> Sessão <strong>de</strong> Home<strong>na</strong>gem In<br />

memoriam <strong>do</strong> Almirante <strong>Max</strong> <strong>Justo</strong><br />

Gue<strong>de</strong>s, em 17 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2012<br />

A Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Marinha cumpre hoje o <strong>do</strong>loroso <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> evocar a<br />

Memória <strong>de</strong> um ilustre almirante da Marinha brasileira, home<strong>na</strong>gear a<br />

figura <strong>de</strong> um erudito historia<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s <strong>Descobrimento</strong>s, distinguir um homem<br />

<strong>de</strong> saber e <strong>de</strong> cultura e e<strong>na</strong>ltecer o cidadão exemplar da gran<strong>de</strong> pátria lusobrasileira.<br />

Os traços marcantes da sua vida foram <strong>de</strong>scritos com gran<strong>de</strong><br />

conhecimento pelo Sr. Comandante Estácio <strong>do</strong>s Reis e relevantes aspectos<br />

da obra <strong>de</strong> ciência náutica e cartografia pelo Sr. Dr. Inácio Guerreiro.<br />

Proce<strong>de</strong>-se agora à análise <strong>do</strong> pensamento e obra <strong>do</strong> malogra<strong>do</strong> extinto<br />

sobre o <strong>de</strong>scobrimento <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. Na verda<strong>de</strong>, <strong>Max</strong> <strong>Justo</strong> Gue<strong>de</strong>s começou<br />

muito ce<strong>do</strong> a <strong>de</strong>bruçar-se sobre o gran<strong>de</strong> tema da aventura portuguesa <strong>de</strong><br />

1500, isto é, o primeiro gran<strong>de</strong> contacto historia<strong>do</strong> <strong>do</strong>s <strong>na</strong>utas lusitanos<br />

com a terra e as gentes <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>. A essa efeméri<strong>de</strong> funda<strong>do</strong>ra e sobera<strong>na</strong><br />

não podia faltar um cronista <strong>de</strong> rara estirpe – e, assim, Pero Vaz <strong>de</strong><br />

Caminha, em carta ao rei D. Manuel, <strong>de</strong>ixou um eloquente testemunho que<br />

iria inspirar os historia<strong>do</strong>res, políticos, antropólogos e tantos homens <strong>de</strong><br />

saber a <strong>de</strong>scorti<strong>na</strong>r as causas, razões e consequências <strong>do</strong> fasto<br />

acontecimento. Des<strong>de</strong> logo, os prolegómenos: terá si<strong>do</strong>, <strong>de</strong> facto, a<br />

primeira viagem <strong>do</strong>s portugueses, ou será o reconhecimento <strong>do</strong> encontro <strong>de</strong><br />

terras em outras travessias? Como se compreen<strong>de</strong> a gesta ousada? Que<br />

motivou a <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>ção das ante-ilhas (Antilhas)? Qual a origem e a razão<br />

<strong>do</strong>s <strong>Descobrimento</strong>s portugueses?<br />

A obra <strong>do</strong> Almirante <strong>Max</strong> <strong>Justo</strong> Gue<strong>de</strong>s sobre o <strong>de</strong>scobrimento <strong>do</strong><br />

<strong>Brasil</strong> foi o segunda que <strong>de</strong>u à estampa. A primeira, <strong>de</strong> 1963, tratara das<br />

Derrotas <strong>do</strong>s Gran<strong>de</strong>s Navega<strong>do</strong>res, on<strong>de</strong> logo ilustrou a ciência <strong>do</strong><br />

<strong>na</strong>vega<strong>do</strong>r e a paixão da História.<br />

II-1


Para enten<strong>de</strong>r os <strong>Descobrimento</strong>s portugueses, o almirante<br />

<strong>de</strong>screveu, como sintetizou o Prof. Luís <strong>de</strong> Albuquerque em “Prefácio” à<br />

segunda edição (<strong>de</strong> 1989), “o clima político que condicionou as<br />

<strong>na</strong>vegações portuguesas <strong>do</strong> século XV, prestan<strong>do</strong> particular atenção às<br />

bulas papais”.<br />

A vasta obra <strong>de</strong> <strong>Max</strong> <strong>Justo</strong> Gue<strong>de</strong>s sobre viagens e <strong>de</strong>scobrimentos<br />

foi alicerçada pela carreira <strong>de</strong> marinheiro e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> observação das<br />

condições físicas da <strong>na</strong>vegação e, em particular, das que condicio<strong>na</strong>m a<br />

chegada e o reconhecimento das costas e que permitem a i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong>s<br />

locais. Impõe-se sublinhar que essa observação era essencial durante as<br />

viagens <strong>do</strong>s séculos XV e XVI quan<strong>do</strong>, pela primeira vez, se aproava a<br />

lugares ignotos e se avistavam populações <strong>de</strong>sconhecidas. A primeira obra<br />

<strong>do</strong> Autor contempla exactamente as rotas <strong>do</strong>s Gran<strong>de</strong>s Navega<strong>do</strong>res,<br />

publicada em 1963.<br />

Alguns <strong>do</strong>s seus estu<strong>do</strong>s mais valiosos são O <strong>Descobrimento</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Brasil</strong>, segun<strong>do</strong> livro <strong>do</strong> Autor publica<strong>do</strong> em 1966, mas escrito nos anos<br />

prece<strong>de</strong>ntes, e, em 2ª edição, com prefácio <strong>de</strong> Luís <strong>de</strong> Albuquerque, pela<br />

Vega, <strong>na</strong> colecção Documenta Historica, em 1989. O outro estu<strong>do</strong>,<br />

intitula<strong>do</strong> A viagem <strong>de</strong> Pedro Álvares Cabral e o <strong>Descobrimento</strong> <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong><br />

1500-1501, foi publica<strong>do</strong> pela Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Marinha, com prefácio <strong>do</strong><br />

Almirante Rogério <strong>de</strong> Oliveira, em 2003. A data das duas redacções é<br />

separada por 37 anos, distância que permite aquilatar as preocupações<br />

histórico-científicas <strong>do</strong> Autor e a evolução que o investiga<strong>do</strong>r probo e<br />

esforça<strong>do</strong> que era <strong>Max</strong> <strong>Justo</strong> Gue<strong>de</strong>s não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> assumir. Além <strong>de</strong><br />

outras obras, con<strong>de</strong>nsou o seu pensamento em pequeno opúsculo intitula<strong>do</strong><br />

O <strong>Descobrimento</strong> <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, publica<strong>do</strong> no Rio <strong>de</strong> Janeiro em 1998.<br />

A qualida<strong>de</strong> e a capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong> nosso home<strong>na</strong>gea<strong>do</strong> po<strong>de</strong> inferir-se<br />

<strong>de</strong> vários indica<strong>do</strong>res presentes ao longo da obra. Em primeiro lugar,<br />

repare-se no relevo presta<strong>do</strong> às condições <strong>de</strong> <strong>na</strong>vegação: é o marinheiro<br />

que vê e que pensa, sempre presente ao longo <strong>de</strong> cente<strong>na</strong>s <strong>de</strong> pági<strong>na</strong>s.<br />

Depois a leitura <strong>do</strong>s historia<strong>do</strong>res mais distintos, que sempre compulsou, e<br />

o cuida<strong>do</strong> em exaurir as fontes cronísticas e <strong>de</strong> arquivo. Mencione-se<br />

também a preparação teórica, bebida <strong>na</strong> leitura <strong>do</strong>s teóricos e filósofos da<br />

História, o que permite compagi<strong>na</strong>r tantas notas <strong>de</strong> atentas observações<br />

sobre varia<strong>do</strong>s conspectos necessários para a compreensão da época a que<br />

se referiu e <strong>do</strong>s perso<strong>na</strong>gens que a emolduram.<br />

<strong>Max</strong> <strong>Justo</strong> Gue<strong>de</strong>s conheceu a obra <strong>de</strong> Arnold Toynbee, o<br />

consagra<strong>do</strong> autor <strong>de</strong> A Study of History, em 12 volumes, através da edição<br />

espanhola, publicada em Buenos Aires, em 1953. Refere-o para assi<strong>na</strong>lar o<br />

conflito entre a expansão cristã e muçulma<strong>na</strong> <strong>na</strong> Ásia. A obra <strong>de</strong> Toynbee é<br />

consi<strong>de</strong>rada tão valiosa que foi resumida em 2 volumes por um autor inglês<br />

2


O <strong>Descobrimento</strong> <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> <strong>na</strong> <strong>Obra</strong> <strong>de</strong> <strong>Max</strong> <strong>Justo</strong> Gue<strong>de</strong>s<br />

e traduzida para Português pelo Prof. Vieira <strong>de</strong> Almeida, então catedrático<br />

<strong>de</strong> Filosofia <strong>na</strong> Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Letras <strong>de</strong> Lisboa. Toynbee estu<strong>do</strong>u as<br />

diferentes civilizações <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> explica<strong>do</strong> o processo <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento, apogeu, <strong>de</strong>clínio e queda daquelas que consi<strong>de</strong>rou mais<br />

relevantes. Inspirou-se em Ibn Caldune, o teórico árabe <strong>do</strong> século XV<br />

cria<strong>do</strong>r da Sociologia, da Filosofia e da Teoria da História e sobre o qual<br />

Toynbee emitiu o seguinte julgamento: “Ibn Caldune concebeu e formulou<br />

uma filosofia da História que é, sem dúvida, o maior trabalho que foi<br />

cria<strong>do</strong> por um espírito em qualquer tempo e em qualquer país”.<br />

II-3

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!