artigo Esteato-hepatite.p65 - Sociedade de Gastroenterologia do ...
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HESTEATO-HEPATITE NÃO-ALCOÓLICA<br />
Finalmente, a progressão é facilitada pelos numerosos<br />
distúrbios nos fatores <strong>de</strong> crescimento e nas citocinas<br />
observa<strong>do</strong>s na EHNA. O acúmulo <strong>de</strong> áci<strong>do</strong>s graxos po<strong>de</strong><br />
também alterar este processo. 27<br />
Desta forma, po<strong>de</strong>mos conceber, no espectro da<br />
DHGNA, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> um quadro <strong>de</strong> esteatose até um <strong>de</strong> carcinoma<br />
hepatocelular.<br />
No que se refere ao tratamento, nenhuma terapia<br />
específica mostrou resulta<strong>do</strong>s conclusivos. Embora alguns<br />
autores sugiram que a redução gradual <strong>de</strong> peso<br />
em pacientes obesos po<strong>de</strong> ter um efeito benéfico, 7 mais<br />
estu<strong>do</strong>s são necessários para mostrar se essa conduta<br />
ocasiona regressão das lesões hepáticas. É importante<br />
ser enfatiza<strong>do</strong> que a perda rápida <strong>de</strong> peso piora o processo<br />
necroinflamatório e predispõe a uma maior fibrose.<br />
Em geral, sugere-se uma perda gradual, <strong>de</strong> 10% <strong>do</strong><br />
peso basal, em um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> seis meses. 30<br />
Os agentes anorexígenos, como a sibutramina e o<br />
orlistat, foram libera<strong>do</strong>s pelo FDA para o tratamento<br />
da obesida<strong>de</strong>. O NIH recomenda que, se não houver<br />
perda pon<strong>de</strong>ral equivalente a 10% <strong>do</strong> peso basal após<br />
seis meses <strong>de</strong> dieta e exercícios, po<strong>de</strong>r-se-ia consi<strong>de</strong>rar<br />
a terapia farmacológica. Esta, no entanto, <strong>de</strong>ve ser<br />
restrita a pacientes com IMC superior a 30 kg/m 2 , ou<br />
27 kg/m 2 se o paciente apresentar co-morbida<strong>de</strong>s. Ressalte-se<br />
que a sibutramina <strong>de</strong>ve ser evitada em pacientes<br />
com hipertensão arterial ou <strong>do</strong>ença coronariana. 31 O<br />
orlistat, em estu<strong>do</strong> ran<strong>do</strong>miza<strong>do</strong> e controla<strong>do</strong> com<br />
placebo, mostrou-se capaz <strong>de</strong> proporcionar uma significativa<br />
reversão da esteatose quan<strong>do</strong> avaliada a ecografia<br />
e uma melhora <strong>do</strong> estadiamento histológico, sugerin<strong>do</strong><br />
ser uma terapia a<strong>de</strong>quada na DHGNA. 32<br />
Dixon et al 33 avaliaram o papel da perda <strong>de</strong> peso na<br />
DHGNA em pacientes com IMC superior a 35 kg/m 2 ,<br />
submeti<strong>do</strong>s a banda gástrica por via laparoscópica. Naqueles<br />
pacientes que realizaram uma nova biópsia, em<br />
média 25,6 meses após o procedimento, havia melhora<br />
das “provas <strong>de</strong> função hepática” e da síndrome metabólica.<br />
Mais relevante, no entanto, foi a diminuição da<br />
esteatose, da ativida<strong>de</strong> inflamatória e <strong>do</strong> grau <strong>de</strong> fibrose<br />
centro-lobular.<br />
Enten<strong>de</strong>-se também <strong>de</strong> importância o papel <strong>do</strong>s exercícios,<br />
uma vez que aumentam a sensibilida<strong>de</strong> muscular<br />
à insulina. 1,10,11,15,20 Obviamente, a <strong>de</strong>scontinuação <strong>de</strong><br />
certas drogas que favorecem a EHNA (corticosterói<strong>de</strong>s,<br />
amiodarona, tamoxifeno, estrógenos sintéticos etc.) <strong>de</strong>ve<br />
ser estimulada. 11<br />
O tratamento medicamentoso da DHGNA é extremamente<br />
controverso, sem que nenhum fármaco tenha se<br />
mostra<strong>do</strong> realmente eficaz. Diversas drogas têm si<strong>do</strong><br />
estudadas no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> diminuir o dano hepático:<br />
• Agentes citoprotetores: Um estu<strong>do</strong> que mostrou<br />
melhora das provas <strong>de</strong> função hepática e redução da<br />
esteatose com o uso <strong>do</strong> áci<strong>do</strong> urso<strong>de</strong>soxicólico não apontou<br />
redução <strong>do</strong> grau <strong>de</strong> inflamação hepática e da<br />
fibrose. 34 Mais recentemente, Lin<strong>do</strong>r et al, 35 avalian<strong>do</strong><br />
166 pacientes trata<strong>do</strong>s por <strong>do</strong>is anos, não <strong>de</strong>monstraram<br />
efeito benéfico <strong>de</strong>ste fármaco, quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong><br />
ao placebo.<br />
• Agentes antioxidantes: Diversas drogas antioxidantes<br />
po<strong>de</strong>m ser elencadas, tais como a vitamina<br />
E, a S-a<strong>de</strong>nosil-metionina, a betaína e a N-acetilcisteína.<br />
Não existem, até o presente, estu<strong>do</strong>s que mostrem um<br />
inequívoco papel terapêutico para as mesmas. 1,11,15 Ressalto<br />
o trabalho <strong>de</strong> Harrison et al, 36 que, <strong>de</strong> forma<br />
prospectiva, controlada com placebo e ran<strong>do</strong>mizada,<br />
avaliaram o papel das vitaminas C e E, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong><br />
diminuição significativa da fibrose <strong>do</strong> grupo trata<strong>do</strong>. No<br />
entanto, po<strong>de</strong>r-se-ia tecer algumas críticas em relação<br />
ao <strong>de</strong>senho meto<strong>do</strong>lógico utiliza<strong>do</strong>. Em estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong><br />
por nós, 37 on<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvemos um mo<strong>de</strong>lo experimental<br />
<strong>de</strong> EHNA em ratos Wistar, com dieta <strong>de</strong>ficiente<br />
em colina e metionina, observamos um efeito histológico<br />
protetor da vitamina E. Ressalto haver metanálise 38 sugerin<strong>do</strong><br />
que seu uso em alta <strong>do</strong>se po<strong>de</strong>ria empobrecer<br />
o prognóstico <strong>do</strong>s pacientes que a utilizam. No futuro, a<br />
utilização <strong>de</strong> agentes antioxidantes po<strong>de</strong> ser uma alternativa<br />
para o tratamento da EHNA, já que essas drogas<br />
po<strong>de</strong>riam agir nos mecanismos fisiopatogênicos da <strong>do</strong>ença.<br />
• Agentes antidiabetogênicos ou insulino-sensibilizantes:<br />
O papel das tiazolidinedionas <strong>de</strong> segunda<br />
geração parece promissor, ao contrário das <strong>de</strong> primeira<br />
geração, que po<strong>de</strong>m traduzir efeitos colaterais<br />
<strong>de</strong> monta. 1,15<br />
Estu<strong>do</strong>s com a rosiglitazona 39 e com a pioglitazona 40<br />
mostraram melhoria das “provas <strong>de</strong> função hepática”,<br />
bem como da ativida<strong>de</strong> inflamatória e <strong>do</strong> score <strong>de</strong> fibrose.<br />
É importante lembrar que, em ambos os estu<strong>do</strong>s, os<br />
pacientes aumentaram o IMC. Necessita-se ainda <strong>de</strong><br />
estu<strong>do</strong>s controla<strong>do</strong>s para um melhor posicionamento<br />
frente à utilização <strong>de</strong>stas drogas.<br />
Ressalte-se haver estu<strong>do</strong> sugerin<strong>do</strong> que a metformina<br />
diminui os níveis <strong>de</strong> aminotransferases e a hepatomegalia<br />
evi<strong>de</strong>nciada por tomografia, bem como melhora a sensibilida<strong>de</strong><br />
à insulina. 41<br />
• Agentes antilipêmicos: Po<strong>de</strong>r-se-ia consi<strong>de</strong>rar o<br />
papel <strong>do</strong>s fibratos e das estatinas no tratamento <strong>de</strong>sta<br />
<strong>do</strong>ença, embora ainda não se tenham estu<strong>do</strong>s que justifiquem<br />
seu uso <strong>de</strong> forma rotineira. 1,10,15,30 O risco <strong>de</strong><br />
hepatotoxicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>corrente <strong>do</strong> uso das estatinas é muito<br />
baixo e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> reação idiossincrásica, não haven<strong>do</strong><br />
evidências <strong>de</strong> que a EHNA predisponha à mes-<br />
JBG, J. bras. gastroenterol., Rio <strong>de</strong> Janeiro, v.5, n.4, p.160-165, out./<strong>de</strong>z. 2005 163