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artigo Esteato-hepatite.p65 - Sociedade de Gastroenterologia do ...

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ANGELO ALVES DE MATTOS<br />

ARTIGO DE ATUALIZAÇÃO<br />

Hesteato-<strong>hepatite</strong> não-alcoólica<br />

Nonalcoholic steatohepatitis<br />

Angelo Alves <strong>de</strong> Mattos<br />

Professor Titular da Disciplina <strong>de</strong> <strong>Gastroenterologia</strong> e <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> Pós-Graduação em Hepatologia da<br />

Fundação Faculda<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Ciências Médicas <strong>de</strong> Porto Alegre (FFFCMPA)<br />

A esteato-<strong>hepatite</strong> não-alcoólica (EHNA) é uma das<br />

causas <strong>de</strong> <strong>do</strong>ença hepática crônica mais freqüente nos<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, seguin<strong>do</strong> em freqüência a <strong>hepatite</strong> C e<br />

a <strong>do</strong>ença hepática alcoólica. Na revisão feita por Clark<br />

et al, 1 que avalia o National Health and Nutrition<br />

Examination Survey (NHANES) III, conduzi<strong>do</strong> pelo Center<br />

for Diseases Control (CDC), a <strong>do</strong>ença hepática gordurosa<br />

não-alcoólica (DHGNA) foi a causa mais freqüente <strong>de</strong><br />

alteração enzimática (aminotransferases e gamaglutamiltranspeptidase)<br />

em adultos americanos – ao re<strong>do</strong>r<br />

<strong>de</strong> 23% da população. Quan<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s critérios<br />

mais rígi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> alteração (alterações acima <strong>de</strong> 1,5 vezes<br />

o normal), a prevalência caiu para 11%. Ressalvo<br />

que não houve confirmação histológica <strong>de</strong> DHGNA nesses<br />

casos.<br />

Historicamente, no final da década <strong>de</strong> 1970, Schaffner<br />

e Adler, 2 ao avaliarem 29 pacientes obesos, 22 (75%)<br />

<strong>do</strong> sexo feminino e 18 (62%) com diagnóstico <strong>de</strong> Diabetes<br />

mellitus, com alterações <strong>de</strong> provas <strong>de</strong> função hepática<br />

e/ou hepatomegalia e sem história <strong>de</strong> alcoolismo,<br />

encontraram esteatose em sete pacientes; esteatose<br />

acompanhada <strong>de</strong> infiltra<strong>do</strong> inflamatório em oito casos,<br />

o que <strong>de</strong>nominaram “<strong>hepatite</strong> gordurosa”; esteatose,<br />

infiltra<strong>do</strong> inflamatório e fibrose em sete pacientes, e,<br />

em outros sete, constataram a presença <strong>de</strong> cirrose. Ao<br />

relatarem os acha<strong>do</strong>s histológicos, chamaram atenção<br />

para a semelhança com as alterações observadas na<br />

<strong>do</strong>ença hepática alcoólica. Os autores concluíram que a<br />

obesida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ocasionar dano hepático e, em alguns<br />

casos, levar à cirrose. No ano seguinte, o termo esteato<strong>hepatite</strong><br />

não-alcóolica foi cunha<strong>do</strong> pela primeira vez por<br />

Ludwig et al. 3<br />

Estu<strong>do</strong>s subseqüentes 4 substanciaram os acha<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

Schaffner e Adler, 2 e, atualmente, a EHNA está sen<strong>do</strong><br />

consi<strong>de</strong>rada como um <strong>do</strong>s principais diagnósticos em<br />

pacientes com alterações persistentes das aminotransferases<br />

e com marca<strong>do</strong>res virais e auto-imunes<br />

negativos, na ausência <strong>de</strong> alcoolismo. 5 Por outro la<strong>do</strong>,<br />

outro motivo que <strong>de</strong>sperta o interesse da comunida<strong>de</strong><br />

científica é o reconhecimento <strong>do</strong> seu potencial evolutivo,<br />

4,6,7 pois po<strong>de</strong>, inclusive, evoluir para cirrose.<br />

Sua prevalência na população geral é <strong>de</strong>sconhecida,<br />

principalmente pelo alto número estima<strong>do</strong> <strong>de</strong> pacientes<br />

assintomáticos. A maioria <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s<br />

sobre a EHNA 2,3,6 é retrospectiva e avalia pacientes referenda<strong>do</strong>s<br />

por apresentarem alterações <strong>de</strong> provas <strong>de</strong> função<br />

hepática ou pacientes que haviam recebi<strong>do</strong> diagnóstico<br />

prévio <strong>de</strong> <strong>hepatite</strong> alcoólica através <strong>do</strong>s acha<strong>do</strong>s<br />

histológicos, sen<strong>do</strong>, posteriormente, excluí<strong>do</strong> o uso<br />

<strong>de</strong> álcool e realiza<strong>do</strong> o diagnóstico <strong>de</strong> EHNA.<br />

Em nosso meio, ao serem avalia<strong>do</strong>s prospectivamente<br />

912 indivíduos obesos, sem Diabete mellitus associada,<br />

em um ambulatório <strong>de</strong> nutrição, foi possível <strong>de</strong>terminar,<br />

pela primeira vez, em estu<strong>do</strong> populacional, e não <strong>de</strong><br />

uma série <strong>de</strong> casos, uma prevalência <strong>de</strong> esteato-<strong>hepatite</strong><br />

não-alcoólica da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 3,18%. 8 Essa prevalência,<br />

no entanto, é subestimada, uma vez que só foram avalia<strong>do</strong>s<br />

os pacientes com alterações <strong>de</strong> aminotransferases.<br />

Em inquérito epi<strong>de</strong>miológico realiza<strong>do</strong> pela <strong>Socieda<strong>de</strong></strong><br />

Brasileira <strong>de</strong> Hepatologia, avalian<strong>do</strong> 2.232 casos, em<br />

12 esta<strong>do</strong>s da Fe<strong>de</strong>ração, observou-se que a média <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s pacientes com DHGNA foi <strong>de</strong> 47 anos, sen<strong>do</strong><br />

51% <strong>do</strong>s pacientes <strong>do</strong> gênero masculino. Os principais<br />

fatores <strong>de</strong> risco i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s foram o sobrepeso, a obesida<strong>de</strong><br />

e a presença <strong>de</strong> dislipi<strong>de</strong>mia. Dos 571 pacientes<br />

em que foi realizada biópsia <strong>de</strong> fíga<strong>do</strong> observou-se<br />

esteatose em 30%, EHNA em 23%, EHNA e fibrose em<br />

39% e cirrose em 9%. 9<br />

É referi<strong>do</strong> que a DHGNA ocorre em 20% da população,<br />

sen<strong>do</strong> que sua prevalência ultrapassa 50% quan<strong>do</strong><br />

são avalia<strong>do</strong>s pacientes obesos ou diabéticos, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-se<br />

a <strong>do</strong>ença hepática mais freqüente nos Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s. 10,11,12 Embora também difícil <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>terminada,<br />

é estimada uma prevalência <strong>de</strong> EHNA ao re<strong>do</strong>r <strong>de</strong><br />

2% a 3% na população. 12<br />

É importante que se diga que a DHGNA está associada<br />

com a chamada síndrome metabólica. Os critérios<br />

<strong>de</strong>ssa síndrome, <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s pelo National Institute of<br />

Health (NIH), são os que se seguem: glicose <strong>de</strong> jejum<br />

maior ou igual a 110 mg/dL; obesida<strong>de</strong> central (circun-<br />

160 JBG, J. bras. gastroenterol., Rio <strong>de</strong> Janeiro, v.5, n.4, p.160-165, out./<strong>de</strong>z. 2005


HESTEATO-HEPATITE NÃO-ALCOÓLICA<br />

ferência da cintura maior <strong>do</strong> que 102 cm em homem e<br />

88 cm em mulheres); pressão arterial igual ou superior<br />

a 130/85 mmHg ou tratada farmacologicamente; níveis<br />

<strong>de</strong> triglicerídios superiores a 150 mg/dL ou em uso <strong>de</strong><br />

fibratos, e colesterol HDL menor que 40 mg/dL (homem)<br />

e 50 mg/dL (mulher). Sabidamente, os porta<strong>do</strong>res <strong>de</strong>ssa<br />

síndrome apresentam uma maior morbi-mortalida<strong>de</strong><br />

associada a <strong>do</strong>enças cardiovasculares. Quan<strong>do</strong> avalia<strong>do</strong>s<br />

304 porta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> DHGNA, observou-se a presença<br />

cumulativa <strong>de</strong> tal síndrome (três ou mais critérios) em<br />

36% <strong>do</strong>s casos, estan<strong>do</strong> a mesma relacionada com o<br />

índice <strong>de</strong> massa corpórea (IMC) (18% nos com peso<br />

normal versus 67% nos obesos). A resistência à insulina<br />

esteve associada à síndrome metabólica. Nos pacientes<br />

que fizeram biópsia hepática, 73,6% tinham EHNA,<br />

e, <strong>de</strong>stes, 88% tinham síndrome metabólica (versus 53%<br />

nos que só tinham esteatose). Uma análise <strong>de</strong> regressão<br />

logística confirmou que a síndrome metabólica acarreta<br />

um alto risco <strong>de</strong> EHNA, bem como <strong>de</strong> fibrose, em<br />

pacientes com DHGNA. 13<br />

A associação <strong>do</strong>s fatores tradicionais <strong>de</strong> risco, como<br />

obesida<strong>de</strong>, diabete <strong>do</strong> tipo 2 e hiperlipi<strong>de</strong>mia, com a<br />

DHGNA parece estar relacionada à adiposida<strong>de</strong> central<br />

e à resistência à insulina. 12<br />

A patogênese da EHNA ainda não está bem esclarecida.<br />

Em resumo, po<strong>de</strong>ríamos dizer que, na patogenia<br />

da EHNA, inicialmente, em <strong>de</strong>corrência da resistência à<br />

insulina, teríamos um aumento <strong>do</strong> <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> lipídios<br />

no fíga<strong>do</strong>. Posteriormente, o estresse oxidativo, <strong>de</strong>corrente<br />

<strong>do</strong> <strong>de</strong>sequilíbrio entre pró-oxidantes e antioxidantes,<br />

favoreceria um aumento da peroxidação<br />

lipídica, ativação das células estelares e um padrão anormal<br />

<strong>de</strong> produção <strong>de</strong> citocinas, levan<strong>do</strong> à injúria celular e<br />

à fibrose. 11,14 Do ponto <strong>de</strong> vista clínico, em regra, o paciente<br />

é referenda<strong>do</strong> ao hepatologista ou por apresentar<br />

alterações <strong>de</strong> aminotransferases, ou por alteração<br />

sugestiva <strong>de</strong> DHGNA ao ultra-som.<br />

A <strong>de</strong>speito da freqüência observada na elevação da<br />

alaninoaminotransferase (ALT) e da aspartatoaminotransferase<br />

(AST), 4 tal aumento geralmente não exce<strong>de</strong><br />

três a quatro vezes o limite superior da normalida<strong>de</strong>,<br />

em regra com pre<strong>do</strong>mínio da ALT. Além das aminotransferases,<br />

a alteração laboratorial mais freqüentemente<br />

encontrada na EHNA é a elevação da gamaglutamiltransferase<br />

(GGT). 3<br />

Nos pacientes em que há suspeita <strong>de</strong> DHGNA é fundamental<br />

afastar a utilização <strong>de</strong> drogas hepatotóxicas.<br />

Dentre elas, po<strong>de</strong>ríamos consi<strong>de</strong>rar o álcool como a que<br />

mais freqüentemente po<strong>de</strong> levar à lesão hepática. É dito<br />

que uma ingesta diária <strong>de</strong> 20 g em mulheres e 30 g em<br />

homens po<strong>de</strong> ser suficiente para produzir hepatotoxicida<strong>de</strong><br />

(em média, po<strong>de</strong>-se dizer que 350 mL <strong>de</strong><br />

cerveja, 120 mL <strong>de</strong> vinho e 45 mL <strong>de</strong> <strong>de</strong>stila<strong>do</strong> contêm<br />

10 g <strong>de</strong> álcool). 10,15,16 Atenção <strong>de</strong>ve ser dada ao fato <strong>de</strong><br />

que a <strong>de</strong>terminação da GGT não parece ser útil para<br />

discriminar os pacientes em relação ao consumo <strong>de</strong> álcool.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, é importante salientar que o índice<br />

AST/ALT é um méto<strong>do</strong> auxiliar para <strong>de</strong>tecção daqueles<br />

pacientes com consumo abusivo <strong>de</strong> álcool, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ajudar<br />

no diagnóstico diferencial entre a EHNA e a <strong>hepatite</strong><br />

alcoólica. Nesse senti<strong>do</strong>, ao estudarmos o índice AST/<br />

ALT em pacientes com EHNA e naqueles com <strong>do</strong>ença<br />

hepática alcoólica, observaremos que, nos estágios iniciais<br />

da <strong>do</strong>ença, quan<strong>do</strong> o índice for inferior a 1, é gran<strong>de</strong><br />

a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> EHNA e, quan<strong>do</strong> for superior a 2,<br />

exclui-se esta <strong>do</strong>ença. 17<br />

A presença <strong>de</strong> dislipi<strong>de</strong>mia (hipercolesterolemia,<br />

hipertrigliceri<strong>de</strong>mia, ou ambas) é um acha<strong>do</strong> freqüente<br />

nos pacientes com EHNA, sen<strong>do</strong> referida em 20% a 80%<br />

<strong>do</strong>s casos. 3,6<br />

A outra forma <strong>de</strong> apresentação da <strong>do</strong>ença, uma ultrasonografia<br />

com aumento da ecogenicida<strong>de</strong> <strong>do</strong> parênquima<br />

e com atenuação <strong>do</strong> feixe sonoro posterior, na<br />

ausência <strong>de</strong> marca<strong>do</strong>res virais ou <strong>de</strong> outra causa passível<br />

<strong>de</strong> causar <strong>do</strong>ença hepática, permite ao clínico diagnosticar<br />

DHGNA, principalmente quan<strong>do</strong> encontramos<br />

os elementos da síndrome metabólica. A ecografia apresenta<br />

uma sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 89% e uma especificida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> 93% para a <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> esteatose. 4 É importante<br />

lembrar que ela só <strong>do</strong>cumenta estas alterações quan<strong>do</strong><br />

a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gordura hepática, ao exame anatomopatológico,<br />

for superior a 33% e que não consegue<br />

diferenciar a esteatose da EHNA. Ressalve-se que esta<br />

diferenciação também não é possível pela tomografia<br />

computa<strong>do</strong>rizada ou pela ressonância magnética. 18 Desta<br />

forma, a única maneira <strong>de</strong> termos um diagnóstico <strong>de</strong><br />

certeza <strong>do</strong> tipo <strong>de</strong> acometimento hepático, na DGHNA,<br />

é através da biópsia hepática.<br />

Os critérios histológicos a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s para o diagnóstico<br />

<strong>de</strong> EHNA, porém, variam segun<strong>do</strong> os diversos autores. 3,6,7<br />

Em recente encontro <strong>de</strong> consenso sobre EHNA <strong>do</strong> NIH, 19<br />

um grupo <strong>de</strong> patologistas estabeleceu, como critério<br />

histológicos para o diagnóstico, a presença <strong>de</strong> esteatose<br />

com injúria hepatocelular, envolven<strong>do</strong> a zona 3 e, pelo<br />

menos, um <strong>do</strong>s seguintes acha<strong>do</strong>s: corpúsculos <strong>de</strong><br />

Mallory ou fibrose sinusoidal. A injúria hepatocelular foi<br />

<strong>de</strong>finida como <strong>de</strong>generação balonizante <strong>do</strong>s hepatócitos.<br />

No entanto, a controvérsia sobre o diagnóstico histopatológico<br />

po<strong>de</strong> ser observada no <strong>do</strong>cumento <strong>do</strong> mesmo<br />

encontro, na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> EHNA. Para caracterizála,<br />

foram utiliza<strong>do</strong>s apenas como critérios básicos: presença<br />

<strong>de</strong> esteatose macrovesicular, injúria hepatocelular<br />

e infiltra<strong>do</strong> inflamatório lobular, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> os <strong>de</strong>mais acha<strong>do</strong>s<br />

(fibrose perissinusoidal ou corpúsculos <strong>de</strong> Mallory)<br />

estarem ou não presentes. Estes da<strong>do</strong>s vão ao encontro<br />

daqueles apresenta<strong>do</strong>s recentemente na reunião da<br />

JBG, J. bras. gastroenterol., Rio <strong>de</strong> Janeiro, v.5, n.4, p.160-165, out./<strong>de</strong>z. 2005 161


ANGELO ALVES DE MATTOS<br />

American Association for the Study of Liver Disease<br />

(AASLD), em que também foi proposto um sistema <strong>de</strong><br />

graduação da ativida<strong>de</strong> e <strong>do</strong> estágio <strong>do</strong>s pacientes com<br />

EHNA. 15<br />

Há, no entanto, uma gran<strong>de</strong> polêmica no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

esclarecer qual população <strong>de</strong> pacientes se beneficiaria<br />

com a realização <strong>de</strong> biópsia hepática. 11 O custo e o risco<br />

da biópsia, bem como a ausência <strong>de</strong> uma terapia específica,<br />

<strong>de</strong>vem ser pesa<strong>do</strong>s em relação aos benefícios das<br />

informações prognósticas obtidas e ao auxílio que ela<br />

traria para futuras <strong>de</strong>cisões terapêuticas. 20 É aceito que<br />

a esteatose seria um processo não progressivo, à diferença<br />

da EHNA, em que po<strong>de</strong>ríamos nos <strong>de</strong>parar com<br />

um processo evolutivo. É dito que mais <strong>de</strong> 40% <strong>do</strong>s<br />

pacientes com EHNA po<strong>de</strong>riam apresentar progressão<br />

<strong>de</strong> sua <strong>do</strong>ença em um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos. 11 É possível<br />

que a biópsia trouxesse maiores informações, principalmente<br />

<strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista prognóstico, nos pacientes com<br />

fatores <strong>de</strong> risco para fibrose, ou seja, pacientes com<br />

mais <strong>de</strong> 45 anos, obesos (IMC igual ou maior <strong>do</strong> que<br />

30), AST/ALT maior <strong>do</strong> que 1 e diabéticos <strong>do</strong> tipo 2. 10<br />

Ressalte-se ser a EHNA um diagnóstico <strong>de</strong> exclusão,<br />

<strong>de</strong>ven<strong>do</strong> as <strong>de</strong>mais causas <strong>de</strong> <strong>do</strong>ença hepática ser afastada.<br />

A história natural da EHNA é pouco conhecida, existin<strong>do</strong>,<br />

até o momento, poucos estu<strong>do</strong>s na literatura com<br />

seguimento histológico após o diagnóstico <strong>de</strong> esteato<strong>hepatite</strong><br />

não-alcoólica. Matteoni et al 21 realizaram estu<strong>do</strong><br />

retrospectivo, avalian<strong>do</strong> a evolução clínica, principalmente<br />

em relação à progressão para cirrose e à mortalida<strong>de</strong><br />

associada à <strong>do</strong>ença hepática <strong>de</strong> 132 pacientes<br />

com DHGNA. Os autores observaram que a evolução<br />

clínica <strong>de</strong>stes pacientes não é uniforme e que a progressão<br />

da <strong>do</strong>ença está associada aos parâmetros<br />

histológicos, sen<strong>do</strong> que os pacientes que apresentavam<br />

necrose, corpúsculos <strong>de</strong> Mallory e fibrose possuíam pior<br />

prognóstico, quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong>s com aqueles que apresentavam<br />

somente esteatose.<br />

Avalian<strong>do</strong> diversos estu<strong>do</strong>s, que incluíram 673<br />

biópsias hepáticas, algum grau <strong>de</strong> fibrose foi observa<strong>do</strong><br />

em 66% <strong>do</strong>s casos, enquanto fibrose severa (fibrose<br />

septal ou cirrose) foi diagnosticada em 25% e cirrose<br />

em 14%. 4<br />

Em relação à evolução para cirrose, é <strong>de</strong> interesse<br />

salientar o trabalho <strong>de</strong> Caldwell et al, 22 que revisou 102<br />

casos <strong>de</strong> pacientes com diagnóstico <strong>de</strong> cirrose criptogênica.<br />

Os autores observaram que havia franco pre<strong>do</strong>mínio<br />

<strong>de</strong> mulheres obesas, com Diabetes mellitus e ida<strong>de</strong><br />

mais avançada, concluin<strong>do</strong> que muitos casos <strong>de</strong> cirrose<br />

dita “criptogênica” po<strong>de</strong>m ser, na realida<strong>de</strong>, secundários<br />

à EHNA. Somam-se a estas evidências os acha<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> grupo da Johns Hopkins que, <strong>de</strong> forma retrospectiva,<br />

em um estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> caso-controle, <strong>de</strong>monstrou<br />

que a prevalência <strong>de</strong> obesida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> diabete está aumentada<br />

em pacientes com cirrose criptogênica. 23<br />

Angulo et al, 24 ao realizarem análise multivariada na<br />

avaliação <strong>do</strong>s fatores preditivos para a fibrose em pacientes<br />

com EHNA, consi<strong>de</strong>raram como <strong>de</strong> significância<br />

uma ida<strong>de</strong> superior a 45 anos, obesida<strong>de</strong> e a presença<br />

<strong>de</strong> Diabetes mellitus.<br />

O prognóstico <strong>do</strong>s pacientes com EHNA que evoluem<br />

para cirrose é semelhante ou pior <strong>do</strong> que daqueles<br />

pacientes com cirrose pelo vírus da <strong>hepatite</strong> C. 16<br />

Ressalve-se existirem estu<strong>do</strong>s que indicam que a<br />

obesida<strong>de</strong> e a esteatose po<strong>de</strong>m ser fatores <strong>de</strong> progressão<br />

da <strong>do</strong>ença em pacientes com <strong>hepatite</strong> crônica pelo<br />

vírus C. Por outro la<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ve ser ressalta<strong>do</strong> que a obesida<strong>de</strong><br />

(IMC > 30 kg/m 2 ) é um fator preditivo negativo<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte na resposta ao tratamento da <strong>hepatite</strong><br />

pelo vírus C. 25,26<br />

Os tumores em geral e aqueles primários <strong>de</strong> fíga<strong>do</strong><br />

foram associa<strong>do</strong>s à obesida<strong>de</strong> em estu<strong>do</strong>s populacionais.<br />

De forma similar, da<strong>do</strong>s epi<strong>de</strong>miológicos mostram um<br />

aumento <strong>do</strong> risco <strong>de</strong> carcinoma hepatocelular em pacientes<br />

com diabete. 27,28 Bugianesi et al, 29 em um estu<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> caso-controle, avalian<strong>do</strong> 23 pacientes com cirrose<br />

criptogênica e carcinoma hepatocelular, observaram uma<br />

maior prevalência <strong>de</strong> obesida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> diabete, <strong>de</strong> dislipi<strong>de</strong>mia,<br />

<strong>de</strong> resistência à insulina e <strong>de</strong> níveis baixos <strong>de</strong><br />

aminotransferases. Quan<strong>do</strong> realizada uma análise multivariada<br />

foram i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s como fatores <strong>de</strong> risco para<br />

a neoplasia a presença <strong>de</strong> diabete tipo 2, <strong>de</strong> dislipi<strong>de</strong>mia<br />

e <strong>de</strong> um menor nível <strong>de</strong> aminotransferases. Avalian<strong>do</strong>se<br />

este estu<strong>do</strong>, conclui-se que fatores implica<strong>do</strong>s na<br />

EHNA são mais freqüentes nos pacientes com neoplasia<br />

e cirrose idiopática, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a neoplasia ser uma complicação<br />

tardia da cirrose relacionada à EHNA.<br />

Os principais estádios no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> câncer<br />

(iniciação, promoção e progressão) têm correlação<br />

com os mecanismos patogênicos da EHNA. A<br />

peroxidação lipídica e o “estresse” oxidativo <strong>de</strong>corrente<br />

da formação <strong>de</strong> radicais livres constituem mecanismo<br />

plausível <strong>de</strong> iniciação. A proliferação <strong>de</strong> células<br />

ovais, a célula envolvida na origem <strong>de</strong> vários tipos <strong>de</strong><br />

tumores <strong>de</strong> fíga<strong>do</strong>, representa um mecanismo compensatório<br />

em substituição aos hepatócitos maduros<br />

lesa<strong>do</strong>s. A peroxidação lipídica po<strong>de</strong>, também, ser uma<br />

fonte <strong>de</strong> substâncias mutagênicas <strong>de</strong>corrente das espécies<br />

ativas <strong>de</strong> oxigênio que estimulam o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> mutações promotoras <strong>de</strong> neoplasias. Ressalte-se<br />

a mutação <strong>do</strong> gene supressor p53. Superimposto<br />

ao processo <strong>de</strong> iniciação está o processo <strong>de</strong> promoção<br />

<strong>de</strong> células cancerosas mutantes. Embora<br />

marca<strong>do</strong>res <strong>de</strong> apoptose estejam aumenta<strong>do</strong>s na EHNA,<br />

este processo é contrabalança<strong>do</strong> por fatores antiapoptóticos,<br />

permitin<strong>do</strong> assim a proliferação clonal.<br />

162 JBG, J. bras. gastroenterol., Rio <strong>de</strong> Janeiro, v.5, n.4, p.160-165, out./<strong>de</strong>z. 2005


HESTEATO-HEPATITE NÃO-ALCOÓLICA<br />

Finalmente, a progressão é facilitada pelos numerosos<br />

distúrbios nos fatores <strong>de</strong> crescimento e nas citocinas<br />

observa<strong>do</strong>s na EHNA. O acúmulo <strong>de</strong> áci<strong>do</strong>s graxos po<strong>de</strong><br />

também alterar este processo. 27<br />

Desta forma, po<strong>de</strong>mos conceber, no espectro da<br />

DHGNA, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> um quadro <strong>de</strong> esteatose até um <strong>de</strong> carcinoma<br />

hepatocelular.<br />

No que se refere ao tratamento, nenhuma terapia<br />

específica mostrou resulta<strong>do</strong>s conclusivos. Embora alguns<br />

autores sugiram que a redução gradual <strong>de</strong> peso<br />

em pacientes obesos po<strong>de</strong> ter um efeito benéfico, 7 mais<br />

estu<strong>do</strong>s são necessários para mostrar se essa conduta<br />

ocasiona regressão das lesões hepáticas. É importante<br />

ser enfatiza<strong>do</strong> que a perda rápida <strong>de</strong> peso piora o processo<br />

necroinflamatório e predispõe a uma maior fibrose.<br />

Em geral, sugere-se uma perda gradual, <strong>de</strong> 10% <strong>do</strong><br />

peso basal, em um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> seis meses. 30<br />

Os agentes anorexígenos, como a sibutramina e o<br />

orlistat, foram libera<strong>do</strong>s pelo FDA para o tratamento<br />

da obesida<strong>de</strong>. O NIH recomenda que, se não houver<br />

perda pon<strong>de</strong>ral equivalente a 10% <strong>do</strong> peso basal após<br />

seis meses <strong>de</strong> dieta e exercícios, po<strong>de</strong>r-se-ia consi<strong>de</strong>rar<br />

a terapia farmacológica. Esta, no entanto, <strong>de</strong>ve ser<br />

restrita a pacientes com IMC superior a 30 kg/m 2 , ou<br />

27 kg/m 2 se o paciente apresentar co-morbida<strong>de</strong>s. Ressalte-se<br />

que a sibutramina <strong>de</strong>ve ser evitada em pacientes<br />

com hipertensão arterial ou <strong>do</strong>ença coronariana. 31 O<br />

orlistat, em estu<strong>do</strong> ran<strong>do</strong>miza<strong>do</strong> e controla<strong>do</strong> com<br />

placebo, mostrou-se capaz <strong>de</strong> proporcionar uma significativa<br />

reversão da esteatose quan<strong>do</strong> avaliada a ecografia<br />

e uma melhora <strong>do</strong> estadiamento histológico, sugerin<strong>do</strong><br />

ser uma terapia a<strong>de</strong>quada na DHGNA. 32<br />

Dixon et al 33 avaliaram o papel da perda <strong>de</strong> peso na<br />

DHGNA em pacientes com IMC superior a 35 kg/m 2 ,<br />

submeti<strong>do</strong>s a banda gástrica por via laparoscópica. Naqueles<br />

pacientes que realizaram uma nova biópsia, em<br />

média 25,6 meses após o procedimento, havia melhora<br />

das “provas <strong>de</strong> função hepática” e da síndrome metabólica.<br />

Mais relevante, no entanto, foi a diminuição da<br />

esteatose, da ativida<strong>de</strong> inflamatória e <strong>do</strong> grau <strong>de</strong> fibrose<br />

centro-lobular.<br />

Enten<strong>de</strong>-se também <strong>de</strong> importância o papel <strong>do</strong>s exercícios,<br />

uma vez que aumentam a sensibilida<strong>de</strong> muscular<br />

à insulina. 1,10,11,15,20 Obviamente, a <strong>de</strong>scontinuação <strong>de</strong><br />

certas drogas que favorecem a EHNA (corticosterói<strong>de</strong>s,<br />

amiodarona, tamoxifeno, estrógenos sintéticos etc.) <strong>de</strong>ve<br />

ser estimulada. 11<br />

O tratamento medicamentoso da DHGNA é extremamente<br />

controverso, sem que nenhum fármaco tenha se<br />

mostra<strong>do</strong> realmente eficaz. Diversas drogas têm si<strong>do</strong><br />

estudadas no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> diminuir o dano hepático:<br />

• Agentes citoprotetores: Um estu<strong>do</strong> que mostrou<br />

melhora das provas <strong>de</strong> função hepática e redução da<br />

esteatose com o uso <strong>do</strong> áci<strong>do</strong> urso<strong>de</strong>soxicólico não apontou<br />

redução <strong>do</strong> grau <strong>de</strong> inflamação hepática e da<br />

fibrose. 34 Mais recentemente, Lin<strong>do</strong>r et al, 35 avalian<strong>do</strong><br />

166 pacientes trata<strong>do</strong>s por <strong>do</strong>is anos, não <strong>de</strong>monstraram<br />

efeito benéfico <strong>de</strong>ste fármaco, quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong><br />

ao placebo.<br />

• Agentes antioxidantes: Diversas drogas antioxidantes<br />

po<strong>de</strong>m ser elencadas, tais como a vitamina<br />

E, a S-a<strong>de</strong>nosil-metionina, a betaína e a N-acetilcisteína.<br />

Não existem, até o presente, estu<strong>do</strong>s que mostrem um<br />

inequívoco papel terapêutico para as mesmas. 1,11,15 Ressalto<br />

o trabalho <strong>de</strong> Harrison et al, 36 que, <strong>de</strong> forma<br />

prospectiva, controlada com placebo e ran<strong>do</strong>mizada,<br />

avaliaram o papel das vitaminas C e E, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong><br />

diminuição significativa da fibrose <strong>do</strong> grupo trata<strong>do</strong>. No<br />

entanto, po<strong>de</strong>r-se-ia tecer algumas críticas em relação<br />

ao <strong>de</strong>senho meto<strong>do</strong>lógico utiliza<strong>do</strong>. Em estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong><br />

por nós, 37 on<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvemos um mo<strong>de</strong>lo experimental<br />

<strong>de</strong> EHNA em ratos Wistar, com dieta <strong>de</strong>ficiente<br />

em colina e metionina, observamos um efeito histológico<br />

protetor da vitamina E. Ressalto haver metanálise 38 sugerin<strong>do</strong><br />

que seu uso em alta <strong>do</strong>se po<strong>de</strong>ria empobrecer<br />

o prognóstico <strong>do</strong>s pacientes que a utilizam. No futuro, a<br />

utilização <strong>de</strong> agentes antioxidantes po<strong>de</strong> ser uma alternativa<br />

para o tratamento da EHNA, já que essas drogas<br />

po<strong>de</strong>riam agir nos mecanismos fisiopatogênicos da <strong>do</strong>ença.<br />

• Agentes antidiabetogênicos ou insulino-sensibilizantes:<br />

O papel das tiazolidinedionas <strong>de</strong> segunda<br />

geração parece promissor, ao contrário das <strong>de</strong> primeira<br />

geração, que po<strong>de</strong>m traduzir efeitos colaterais<br />

<strong>de</strong> monta. 1,15<br />

Estu<strong>do</strong>s com a rosiglitazona 39 e com a pioglitazona 40<br />

mostraram melhoria das “provas <strong>de</strong> função hepática”,<br />

bem como da ativida<strong>de</strong> inflamatória e <strong>do</strong> score <strong>de</strong> fibrose.<br />

É importante lembrar que, em ambos os estu<strong>do</strong>s, os<br />

pacientes aumentaram o IMC. Necessita-se ainda <strong>de</strong><br />

estu<strong>do</strong>s controla<strong>do</strong>s para um melhor posicionamento<br />

frente à utilização <strong>de</strong>stas drogas.<br />

Ressalte-se haver estu<strong>do</strong> sugerin<strong>do</strong> que a metformina<br />

diminui os níveis <strong>de</strong> aminotransferases e a hepatomegalia<br />

evi<strong>de</strong>nciada por tomografia, bem como melhora a sensibilida<strong>de</strong><br />

à insulina. 41<br />

• Agentes antilipêmicos: Po<strong>de</strong>r-se-ia consi<strong>de</strong>rar o<br />

papel <strong>do</strong>s fibratos e das estatinas no tratamento <strong>de</strong>sta<br />

<strong>do</strong>ença, embora ainda não se tenham estu<strong>do</strong>s que justifiquem<br />

seu uso <strong>de</strong> forma rotineira. 1,10,15,30 O risco <strong>de</strong><br />

hepatotoxicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>corrente <strong>do</strong> uso das estatinas é muito<br />

baixo e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> reação idiossincrásica, não haven<strong>do</strong><br />

evidências <strong>de</strong> que a EHNA predisponha à mes-<br />

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ANGELO ALVES DE MATTOS<br />

ma. Assim, po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> seu uso nos pacientes<br />

com dislipi<strong>de</strong>mia, ten<strong>do</strong> em vista o risco das <strong>do</strong>enças<br />

cardiovasculares e o impacto que elas trazem na<br />

sobrevida <strong>de</strong>stes pacientes.<br />

• Outros fármacos: Estu<strong>do</strong>s têm <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> o<br />

papel da angiotensina-2 na patogenia da fibrose hepática,<br />

bem como o papel <strong>de</strong>ste peptídio no aumento da<br />

resistência à insulina e na <strong>de</strong>posição tecidual <strong>de</strong> ferro. A<br />

administração <strong>de</strong> antagonistas <strong>do</strong>s receptores da<br />

angiotensina-2 <strong>do</strong> tipo 1 (losartan) po<strong>de</strong>ria ter efeito<br />

terapêutico benéfico na EHNA. 42<br />

Ainda há <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar relatos <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> pacientes<br />

com EHNA que evoluíram para <strong>do</strong>ença hepática<br />

terminal e que realizaram transplante hepático. Em um<br />

estu<strong>do</strong>, 43 os autores relatam oito casos <strong>de</strong> EHNA que<br />

foram a transplante hepático. Embora tenha ocorri<strong>do</strong><br />

recorrência da esteato-<strong>hepatite</strong> em três, houve formação<br />

mínima <strong>de</strong> fibrose, o que parece sugerir que os pacientes<br />

com cirrose <strong>de</strong>scompensada <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à EHNA são<br />

bons candidatos a transplante. Eventualmente, a presença<br />

<strong>de</strong> co-morbida<strong>de</strong>s, como a obesida<strong>de</strong> e o diabete<br />

(favorecen<strong>do</strong> <strong>do</strong>enças renais e cardiovasculares), po<strong>de</strong><br />

ser um limitante na indicação <strong>de</strong>sta forma <strong>de</strong> terapia. 1,15<br />

De tu<strong>do</strong> o que foi dito, po<strong>de</strong>ríamos consi<strong>de</strong>rar que,<br />

quan<strong>do</strong> nos <strong>de</strong>parássemos com um paciente que apresentasse<br />

alteração à ultra-sonografia compatível com<br />

DHGNA, solicitaríamos enzimas hepáticas. Caso elas<br />

fossem normais, as repetiríamos em três meses e, se<br />

fossem alteradas, avaliaríamos os fatores <strong>de</strong> risco que o<br />

paciente apresentasse (obesida<strong>de</strong> etc.) e os trataríamos.<br />

Caso as enzimas permanecessem elevadas, nos<br />

<strong>do</strong>entes com fatores <strong>de</strong> risco para fibrose proporíamos<br />

a realização <strong>de</strong> uma biópsia hepática após <strong>de</strong>bater com<br />

o paciente a relação risco-benefício da mesma. Na <strong>de</strong>pendência<br />

<strong>do</strong>s acha<strong>do</strong>s, po<strong>de</strong>ríamos sugerir uma terapia<br />

medicamentosa para aqueles com uma <strong>do</strong>ença potencialmente<br />

progressiva, a <strong>de</strong>speito da incerteza atual<br />

sobre o tratamento farmacológico.<br />

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En<strong>de</strong>reço para correspondência<br />

Dr. Angelo Alves <strong>de</strong> Mattos<br />

Rua Professor Anna Dias, 55 / 1.103 - Centro<br />

90020-090 – Porto Alegre - RS<br />

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