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Universidade pública e fundações privadas: aspectos conceituais, éticos e jurídicos • Floriano de Azevedo Marques Neto 80% da margem de retorno? Não do faturamento, da margem de retorno? • Marcelo Chalreo Sim. Estou colocando, grosso modo, números. Porque seria um resultado muito interessante, porque aí nós teríamos um conjunto, a sociedade que pode contribuindo diretamente para o financiamento da instituição pública, além dos recursos públicos propriamente ditos, diretos. Mas não é essa tônica, não é isso que a gente vê. Pelo contrário. A bem da verdade, eu até comecei a usar essa expressão, não são fundações de apoio, são fundações que se apóiam nas instituições e, com isso, elas ganharam o mercado e até conseguiram chegar ao patamar em que estão algumas fundações que saíram da USP. Um caso concreto: a Universidade Federal Fluminense, que eu conheço um pouco, tinha uma fundação, há uns 20, 30 anos — elas começaram a tomar maior vulto de uns anos para cá — chamada Fundação Euclides da Cunha. Era uma fundação criada por um ex-reitor. Hoje, a Fundação Euclides da Cunha está, toda ela, dirigida, administrada, por professores da UFF. Hoje, ela realiza concursos públicos no Rio de Janeiro, para o Tribunal Regional de Recursos, como agora aconteceu. O patrimônio público está sendo carreado, pouco a pouco, para essas fundações, não só para sua construção, mas para sua criação e alavancagem. E hoje, de fato, é muito provável que algumas delas tenham condições de viver sozinhas, porque acumularam tanto, às custas dos cofres públicos, ao longo dos anos, que podem prescindir deles. Essa é a questão que a gente tem que enfrentar e me parece que as discussões e, de certa forma, as exposições, não me convenceram do contrário. Adusp • novembro de 2004 119

Universidade pública e fundações privadas: aspectos conceituais, éticos e jurídicos Respostas e considerações finais • Marlon Weichert A questão que se coloca aqui é um dilema, não só das universidades, mas da administração pública. Ele vem um pouco pontuado pela questão da universidade, que é tentar conciliar agilidade e qualidade com probidade e moralidade. A gente tende a achar que todo esse regime de direito público é prejudicial para, eventualmente, uma atuação mais agressiva e de interesse da sociedade, do próprio poder público. E você acaba buscando caminhos alternativos para fazer esse papel. A nossa experiência mostra — e daí um pouco a chatice dos membros do Ministério Público — que, quando o chamado vil metal começa a ser interessante, a coisa foge completamente ao controle e aos padrões de moralidade. Por isso a área pública tem tanto controle, tanto limite e, mesmo assim, é o que é o processo de fraude, de corrupção, de ilícitos nesse setor. O Floriano bem colocou, com alguns pontos históricos, que, há pouco tempo atrás, havia as fundações públicas de direito privado — isso pré-1988 — que foram a saída para dar autonomia e agilidade. A bandalheira foi tamanha que o constituinte de 1988 falou: “Acabou. É tudo fundação pública, se submete a concurso, licitação, Tribunal de Contas, tudo o mais”. Eu lembro que o Estado de São Paulo criou então várias fundações públicas de direito privado. “Crio a fundação, mas você trabalha no regime de direito privado para ser ágil e eficiente”, e deu em bandalheira. Precisou a Constituição dizer: “Não, agora acaba, volta tudo, vira tudo fundação pública novamente”. Embora exista lá no ato constitutivo, não existe o regime jurídico próprio das fundações públicas de direito privado. O que me parece é que as fundações de apoio estão querendo virar fundações públicas de direito privado. Não sendo fundação pública, mas sendo fundação privada para prestar atividade pública. Agora, existe um outro contraponto. Na verdade, parece que a gente só fala contra, só quer destruir aquilo que já existe. Ninguém discute que serviços relevantíssimos são prestados. Eu, como membro do Ministério Público, me sirvo do IPT, da Fipe eventualmente. Ele se serve também da FIA porque tem lá qualidade, conhecimento. Agora, nosso caso é um exemplo muito restrito, são eventualmente áreas onde não haveria o mesmo dilema que é o ponto principal aqui, na área de ensino. Vejo que as fundações de apoio não só estão utilizando o nome da universidade pública, como estão, com isso, conseguindo alavancar tamanho espaço e, daqui a pouco, vão prescindir da universidade. Aliás, é recente 120 Adusp • novembro de 2004

Universidade pública e fundações privadas: aspectos conceituais, éticos e jurídicos<br />

• Floriano de Azevedo Marques Neto<br />

80% da margem de retorno? Não do faturamento, da margem de<br />

retorno?<br />

• Marcelo Chalreo<br />

Sim. Estou colocando, grosso modo, números. Porque seria um resultado<br />

muito interessante, porque aí nós teríamos um conjunto, a sociedade<br />

que pode contribuindo diretamente <strong>para</strong> o financiamento da instituição<br />

pública, além dos recursos públicos propriamente ditos, diretos.<br />

Mas não é essa tônica, não é isso que a gente vê. Pelo contrário. A<br />

bem da verdade, eu até comecei a usar essa expressão, não são fundações<br />

de apoio, são fundações que se apóiam nas instituições e, com isso, elas<br />

ganharam o mercado e até conseguiram chegar ao patamar em que estão<br />

algumas fundações que saíram da USP.<br />

Um caso concreto: a Universidade Federal Fluminense, que eu conheço<br />

um pouco, tinha uma fundação, há uns 20, 30 anos — elas começaram<br />

a tomar maior vulto de uns anos <strong>para</strong> cá — chamada Fundação Euclides<br />

da Cunha. Era uma fundação criada por um ex-reitor. Hoje, a Fundação<br />

Euclides da Cunha está, toda ela, dirigida, administrada, por professores<br />

da UFF. Hoje, ela realiza concursos públicos no Rio de Janeiro, <strong>para</strong> o<br />

Tribunal Regional de Recursos, como agora aconteceu.<br />

O patrimônio público está sendo carreado, pouco a pouco, <strong>para</strong> essas<br />

fundações, não só <strong>para</strong> sua construção, mas <strong>para</strong> sua criação e alavancagem.<br />

E hoje, de fato, é muito provável que algumas delas tenham condições<br />

de viver sozinhas, porque acumularam tanto, às custas dos cofres públicos,<br />

ao longo dos anos, que podem prescindir deles. Essa é a questão que a<br />

gente tem que enfrentar e me parece que as discussões e, de certa forma, as<br />

exposições, não me convenceram do contrário.<br />

<strong>Adusp</strong> • novembro de 2004 119

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