Agostinho e a Literatura Portuguesa - Instituto de Filosofia
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Sobre Vieira não se cansará <strong>Agostinho</strong> <strong>de</strong> escrever, enaltecendo a capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> realização do homem, a humanida<strong>de</strong> do sacerdote, a visão diplomática<br />
do ban<strong>de</strong>irante. E adopta, reformulando-a à sua medida, a i<strong>de</strong>ia quinto<br />
imperial vieirina, que consubstancia em Quinze Princípios Portugueses. 36<br />
– Almeida Garrett (1799-1854) é apresentado como “enamorado da<br />
varieda<strong>de</strong> da vida, aberto à finura poética” e ao “humorismo”, contudo<br />
capaz também, qual Herculano, <strong>de</strong> “exaltada sensibilida<strong>de</strong>”. Senhor <strong>de</strong><br />
um “espírito dúctil”, é “maravilhosamente expressivo, requintado na<br />
construção e na escolha dos vocábulos, embora com a aparência <strong>de</strong><br />
uma perfeita naturalida<strong>de</strong>” (p. 17).<br />
Seis anos antes prefaciara <strong>Agostinho</strong> Doutrinas <strong>de</strong> Estética Literária <strong>de</strong><br />
Garrett. 37 De Garrett aprecia o cidadão envolvido e interessado nos “negócios<br />
públicos” (p. 218), que pertence “à raça dos que não <strong>de</strong>sanimam”, dos que entram<br />
na luta “movidos por um puro i<strong>de</strong>alismo” (p. 221) e reclama “um regime<br />
que seja para todos os portugueses, e não só para um grupo, um governo <strong>de</strong><br />
tolerância, <strong>de</strong> justiça e <strong>de</strong> progresso” (p. 222).<br />
Para quem conhece a biografia <strong>de</strong> <strong>Agostinho</strong>, torna-se claro neste estudo<br />
da obra garrettiana quanto o autor se revê no biografado: “Defensor da<br />
soberania do povo, adversário <strong>de</strong> toda a espécie <strong>de</strong> tiranias, convicto <strong>de</strong> que a<br />
educação para a liberda<strong>de</strong> se faz pelo uso da liberda<strong>de</strong>” (p. 221). Porque “acreditava<br />
que uma nação po<strong>de</strong> encontrar em si mesma e só em si os elementos <strong>de</strong><br />
uma ressurreição intelectual”. Não obstante enalteça os intuitos pedagógicos<br />
da sua literatura, critica que Garrett não tenha optado por “levantar” culturalmente<br />
o povo, em vez <strong>de</strong> “baixar” a cultura ao povo (p. 228).<br />
Vê em Viagens na minha terra a obra mais representativa <strong>de</strong> Garrett,<br />
“pela emoção <strong>de</strong>licada, pela graça ligeira, pela sensibilida<strong>de</strong> perante a paisagem,<br />
pelo supremo gosto do artista com que entrelaça a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> viagem<br />
e o romance, pelos relâmpagos <strong>de</strong> paixão política, pela naturalida<strong>de</strong> e polida<br />
elegância <strong>de</strong> estilo” (p. 222).<br />
Po<strong>de</strong> reconhecer que Garrett é “inimitável no que é <strong>de</strong>licado, gracioso,<br />
feminino” (p. 228), mas <strong>Agostinho</strong> confessa que ele “não tem a força, a segurança,<br />
o largo passo dominador”; “as suas doutrinas e gran<strong>de</strong> parte dos seus<br />
escritos são medularmente inconsistentes e inferiores como concepção e como<br />
realização”. O «neogarretismo» “anémico e pedante da geração <strong>de</strong> 90”, “<strong>de</strong>spido<br />
da coragem cívica <strong>de</strong> Garrett”, é a consequência esperada.<br />
<strong>Agostinho</strong> e a <strong>Literatura</strong> <strong>Portuguesa</strong><br />
Helena Maria Briosa e Mota